Um ano após expulsar rivais do território, grupo islâmico é alvo de críticas, mas não de revolta, como esperavam Israel e americanos
DO "NEW YORK TIMES", NA CIDADE DE GAZA
Folha de São Paulo, Mundo, em 16/06/2008.
Há um ano, militantes do grupo islâmico Hamas, anti-Israel, tomaram Gaza, expulsando seus rivais seculares do Fatah. Israel e o Ocidente impuseram um bloqueio à região, esperando espremer os novos governantes para fora do poder. Mas hoje a autoridade do Hamas se espalhou por todos os aspectos da vida, incluindo o Judiciário. Os moradores de Gaza não se revoltaram contra o grupo, como esperavam Israel e os Estados Unidos.
Gaza sempre foi pobre e piedosa, diferente da Cisjordânia, mais secular e próspera. Mas um ano de governo do Hamas aprofundou essas características. Mais mulheres andam cobertas, mais homens usam barba, sites da internet são filtrados e manifestações públicas de outros grupos estão na maior parte banidas.
Com o bloqueio israelense, os moradores de Gaza se sentem presos e esquecidos. Mas é difícil saber como isso afetou a popularidade do Hamas. Muitos no Ocidente gostariam de acreditar que o grupo está em apuros. É fácil achar pessoas que odeiam a polícia do grupo, mesmo entre os que votaram no Hamas em janeiro de 2006, quando o grupo conseguiu o controle do Parlamento.
Mas os que em Israel observam a situação de perto dizem que, apesar de o bloqueio estar pressionando o Hamas, não põe o grupo em risco. "O que aconteceu em Gaza há um ano não foi um golpe", disse um funcionário sob anonimato. "O Hamas estava tão forte, tão enraizado na sociedade palestina com suas atividades na economia, na educação, na cultura e na saúde, e o Fatah estava tão fraco, tão corrupto."
Segurança
Por meses antes de junho do ano passado, a vida dos 1,5 milhão de habitantes de Gaza era muito insegura porque homens armados do Hamas e do Fatah lutavam pelo controle das ruas e da administração. O Hamas tinha a maioria parlamentar, mas o Fatah, por meio da Presidência de Mahmoud Abbas, ainda controlava ministérios e o aparato de segurança.
Agora, mesmo os que detestam o Hamas dizem que há mais segurança. "O Hamas é brutal, mas muito eficiente", disse Eyad Serraj, um psiquiatra formado no Reino Unido. "Eles estão distribuindo vales de gás. Eles obrigaram as pessoas a pagar para registrar seus carros e a pagar as contas de luz, o que por anos todos se recusavam a fazer. A cidade e os hospitais estão mais limpos."
A relativa escassez de produtos ao mesmo tempo dificulta e facilita o controle do Hamas. No primeiro caso, porque põe em xeque o papel fundamental de um governo, o de fornecer bens públicos. No segundo, porque o pouco disponível é canalizado por meio do Hamas, que cobra impostos sobre as mercadorias em circulação.
Muitos dos produtos chegam a Gaza por meio de contrabando em túneis cavados na fronteira com o Egito. Embora Israel e os EUA tenham denunciado a chegada de armas pelos túneis, seu papel central é trazer computadores, cigarros, gasolina e roupas. O Hamas cobra impostos sobre tudo.
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