Aclamado como a sensação do mercado editorial francês em 2008 pelo jornal Liberation e considerado pelo Figaro um “testemunho de raro poder”, o livro vendeu 26 mil exemplares em apenas três dias e foi direto para as listas dos mais vendidos, onde permaneceu por mais de três meses consecutivos.
“Mais de 60 anos depois da morte de sua autora, o diário de Hélène Berr reaparece, vivo, em nossos tempos ‘normais’; é hora de segurá-lo em nossas mãos.” — Marcelo Coelho, Folha de S.Paulo
“Será que Hélène Berr tinha o presentimento de que num futuro muito distante seu diário seria lido? Ou temia que sua voz acabasse sufocada, como a de milhões de pessoas que foram massacradas sem deixar rastros? Ao penetrar neste livro, é preciso ficar em silêncio, ouvir a voz de Hélène e caminhar ao lado dela. Uma voz e uma presença que irão nos acompanhar pelo resto de nossas vidas.” — do prefácio de O Diário de Hélène Berr, escrito por Patrick Mondiano, romancista francês.
Rica e culta, Hélène Berr estudava literatura inglesa na Sorbonne e costumava reunir-se com um grupo de amigos para tocar peças dos compositores Beethoven, Schubert e Bach ao violino. Aos 21 anos, em 8 de abril de 1942, começou a escrever o seu diário, que relatava tudo o que outras garotas da sua idade escreveriam: contava como era a vida em Paris, a rotina na universidade com seus amigos, inconfidências sobre seu romance com o futuro noivo, viagens de férias no campo. No entanto, aos poucos a realidade da ocupação nazista começa a impregnar sua felicidade. Em junho, sente pela primeira vez a incompatibilidade entre a harmonia e a alegria de sua vida e os terríveis acontecimentos que a ocupação nazista desencadeia.
Na segunda-feira, dia 8 de junho, é obrigada pelos alemães, pela primeira vez, a usar a estrela amarela: “Faz um tempo radiante, bastante fresco depois do temporal de ontem. Os pássaros piam, uma manhã como aquela de Paul Valéry. Primeiro dia em que vou também usar a estrela amarela. São os dois lados da vida neste momento: o frescor, a beleza, a juventude da vida, encarnada nessa manhã tão límpida; a barbárie e o mal, representados por esta estrela amarela”, relata a jovem.
Hélène Berr escreve nas páginas de seu diário como a ocupação nazista em Paris foi transformando a sua vida e a dos outros judeus franceses como ela — seu contundente testemunho vai aos poucos a tornando uma delicada escritora:
Meu Deus, eu não achava que seria tão difícil. Usei de muita energia o dia inteiro. Andei de cabeça erguida e olhei de frente para as pessoas, que desviavam os olhos. Mas é difícil. Aliás, a maioria das pessoas não olha. O mais doloroso é cruzar com outras pessoas que também usam. Nesta manhã, saí com mamãe. Dois garotos apontaram o dedo para nós dizendo: “Ei, você viu? Judeu.” Mas o resto correu normalmente. Na place de
Por cinqüenta anos, o diário de Hélène Berr — deixado aos cuidados da empregada até o retorno de seu noivo da guerra — permaneceu como uma relíquia familiar, até ser doado, em 2002, ao Memorial da Shoah parisense. Com mais de 85 mil exemplares comercializados na França, os direitos do livro já foram vendidos para mais de 15 países.
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