Enrique Luz
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em História.
Data da defesa: ano de 2006.
Conclusão: O instrumento difusor da cultura política do nacional-socialismo era a propaganda política oficial, conduzida pelo Estado sob a direção do Ministério da Propaganda e Esclarecimento Popular, chefiado por Joseph Goebbels, e mesmo a mídia impressa de iniciativa particular. Tanto a propaganda como a mídia encarregavam-se da difusão das representações anti-semitas normalizadas que tiveram um inegável papel na definição de sua cultura política além de seu significado político. Propaganda e cultura política devem ser vistas numa relação dinâmica, em que uma dá à outra os elementos necessários para sua justificação e legitimação.
Através da análise dos cartazes de propaganda pôde-se entender como o anti-semitismo reuniu uma série de conformações ideológicas, palavras-chave, representações, valores e normas de conduta negativos, além de indicações para a tomada de decisões no plano político, já que a propaganda contém traços determinantes ao apoio de parte da população alemã à forma de organização política e social proposta pelo nacional-socialismo.
Através do manejo da propaganda política em suas várias formas, como cartazes de propaganda, filmes, exibições de fotos, documentário, noticiários e mesmo cortejos e congressos do NSDAP, a ditadura hitlerista preocupou-se em divulgar suas normas e padrões de comportamento. Como dizia Goebbels, “é bom ter o poder das armas; mais eficiente e duradouro, entretanto, é conquistar e manter os corações e mentes do povo”. O consenso é mais eficaz do que a opressão e, neste ponto, é importante atribuir um papel de governo ao exercício da propaganda política, já que ela se organiza em torno das definições do governo, apresentando-as, preparando-as ou justificando-as. Sem o apoio de uma parcela significativa do povo alemão e a conseqüente possibilidade de sua mobilização, os planos belicistas de Hitler que levaram a Alemanha à Segunda Guerra Mundial jamais poderiam ter sido postos em prática.
A tarefa do historiador do período, através do foco das culturas políticas, é buscar compreender as motivações que levaram os alemães a adotarem este ou aquele comportamento político. Não deve ser, em nada, uma forma de perdão, mas uma tentativa de reconciliação com um mundo onde tal acontecimento é possível. Não uma explicação, o que seria construir uma elucidação ou justificativa da ideologia nacional-socialista, mas sim uma espécie de entendimento ex post facto de seu significado, ou seja, como um exercício da faculdade de julgamento que deve ser voltada para a constante e veemente crítica das premissas racistas do nacional-socialismo.
Os nacional-socialistas agiram de acordo com um fanatismo cego e ensandecido, mas com um olhar atento às realidades políticas e sociais. Eles desenvolveram sua campanha racista e repressiva levando em consideração a sociedade, história e tradição alemãs. Como vimos, o anti-semitismo de Hitler não surgiu do nada e nem foi sua criação, foi recuperada e ressignificada a partir de uma série de autores antijudaicos e racialistas cuja produção intelectual se extende por vários séculos. A racionalidade com a qual eles tornaram palatável ao público a necessidade de novas formas de opressão era uma parte essencial e indispensável da discriminação e da perseguição.
Todas estas reflexões devem levar em consideração o papel da mídia e da propaganda para ressaltar que nenhuma das medidas da ditadura hitlerista, exceto por alguns “detalhes” como a eutanásia involuntária e o genocídio, foram amplamente divulgados para toda a população, que se dispuseram a aceitar esta nova cultura política, claro, pelo fato desta ser composta de elementos dispersos da cultura alemã, mas que foram reapropriados e ressignificados em um discurso coerente mas de finalidades irracionais.
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