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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Israel x Gaza x Oriente Médio (275) .... Eleição em Israel ignora voto dos árabes

O Globo, Opinião, página 7, em 09/02/2009.


Contra a paz

ANDRÉ FONTES


Aação militar na Faixa de Gaza causa apreensão com o destino do Oriente Médio, com a integridade do Estado de Israel e com a segurança de seu povo.


Sob a lembrança do Holocausto e do sofrimento a que foram submetidos os judeus, em todos os tempos, empreendemos respeito particular e solidariedade especial aos hebreus e advertimos do desapreço por tudo que atente contra o espírito de harmonia e tolerância. Por outro lado, a violência desproporcional das investidas militares das Forças Armadas de Israel sobre a Região de Gaza causa profunda perplexidade.


O professor, doutor e filósofo Denis Lerrer Rosenfield, no GLOBO, afirmou o seguinte: o legado humanista de Martin Luther King justificaria as mortes de palestinos na Faixa de Gaza.


Melhor contribuição teria dado o professor se tivesse nos lembrado da Lei de Moisés, que elevou o respeito à existência humana ao patamar de obrigação dos homens perante Deus. O articulista também poderia socorrer-se da doutrina de outras religiões, que também pregam a preservação e a inviolabilidade da vida.


Teria prestado relevante auxílio se pregasse discurso em favor da tolerância e da paz, ao invés de apologia ao militarismo e à lei do mais forte. Mas usou as palavras de um dos mais admiráveis líderes — pacifista, religioso e negro —, incansável combatente nas lutas pelos direitos civis e pela igualdade, nos Estados Unidos, onde morreu por ter se lançado contra injustiças.


Preferiu justificar o injustificável: “baixas”, como alusão à morte de palestinos. Invocou a figura de Luther King, por uma singela razão: os princípios do judaísmo não lhe socorrem. Tampouco encontraria respaldo nas leis do Estado de Israel, que proíbem a pena de morte para criminosos e nem cogitam dela para civis inocentes.

A Suprema Corte de Israel, célebre pela justeza de seus julgados, não seria destinatária segura para seu arrazoado, pois é a ela que árabes recorrem contra excessos militares. O mundo não tolera mais a idéia de não-pessoa, de assassinatos em massa, de morte e suplício de civis. O professor é categórico ao afirmar que os “intelectuais (sic?)” não entendem a ação militar, porque na Faixa de Gaza nada parece ser o que é. Diz que lá não há universidades, escolas ou mesquitas, mas tão-somente centros disfarçados de armazenamento de armas, foguetes, treinamento, doutrinação e refúgio de terroristas. Afirma que o drama palestino resultaria de causas internas, mas não do fato, por ele reconhecido, de que Israel não aceita abrigar refugiados. Afirma, contraditoriamente, que não houve problema de partilha territorial.


E isso porque Israel esteve próximo de aceitar 92% dos territórios ocupados.


Discorre sobre as práticas terroristas do Hamas, sem reconhecer as repugnantes bombas de fósforo branco israelenses. Repete e divulga a mais perversa e impronunciável das afirmações contra a paz no Oriente Médio, ligada ao “dia do julgamento”. Discorre sobre “falsos humanistas”. Afirma que a nova face do antissemitismo seria o antissionismo. Critica os intelectuais que se manifestam contra os excessos israelenses.


Não obstante à menção ao antissionismo atender à crítica ao Hamas, o texto conduz à ideia de que seria antissemita qualquer um que não apoie a incursão das Forças Armadas de Israel na Faixa de Gaza. Cabe indagar ao filósofo se é essa a sua contribuição à paz no Oriente Médio.


ANDRÉ FONTES é professor na Universidade do Rio de Janeiro e desembargador do Tribunal Regional Federal da 2 aRegião.



O Globo, Mundo, página 19, em 09/02/2009.


Eleição em Israel ignora voto dos árabes

Discriminados e revoltados com guerra em Gaza, eles devem boicotar pleito


Renata Malkes Correspondente• JERUSALÉM


Enquanto o ultranacionalista Avigdor Liberman comemora o crescimento do partido linha-dura Israel Beiteinu nas pesquisas, o candidato do Likud, Benjamin Netanyahu, favorito em todas as projeções, afirmou ontem que Israel não vai devolver as Colinas de Golã à Síria. Tzipi Livni, do Kadima, espalhou trios elétricos por diversos pontos do país numa tentativa de atrair o voto de jovens, mulheres e indecisos e o líder trabalhista, Ehud Barak, ainda se esforça para obter ganhos políticos com a operação militar na Faixa de Gaza.

As estratégias de campanha são distintas, mas na reta final da corrida pelo posto de novo primeiroministro, os quatro maiores blocos políticos do país dão sinais de ignorar uma séria ameaça nas urnas: os cidadãos árabes, que representam 20% da população de rescente discriminação social, muitos planejam ignorar as eleições de amanhã e boicotar a votação em protesto.


De acordo com pesquisa da Associação para o Avanço da Democracia no Setor Árabe, somente 45% da população árabe de Israel devem comparecer amanhã às urnas. O presidente da ONG, Wajia Kayouf, afirma que a comunidade está revoltada com o que chama de “massacre” perpetrado durante a ofensiva israelense de 22 dias na Faixa de Gaza. Druzo e morador do vilarejo de Ussafia, na Galiléia, Kayouf afirma que a decisão do Comitê Central Eleitoral de banir os partidos árabes das eleições foi a gota d’água para os 1,4 milhão de cidadãos árabes do país. A determinação, considerada fascista pelas lideranças políticas árabes, foi cassada pela Suprema Corte de Justiça, mas mesmo assim, nas ruas de centenas de vilarejos falta vontade para exercer o direito democrático.


— Não me lembro de ter visto uma relação de desconfiança tão grande entre árabes e judeus em Israel. É cada vez maior o sentimento de exclusão e, mesmo com duas legendas árabes concorrendo, muitos vão boicotar as eleições em protesto à discriminação crescente.


É muito importante que os árabes sejam parte do jogo democrático, mas as pessoas estão cansadas — disse Kayouf.


Polícia teme confrontos em locais de votação

Nas eleições de 2006, 55% da população árabe participaram da votação. Mas, além do sentimento de revolta com o sofrimento dos palestinos na Faixa de Gaza, a iminência de um governo comandado pela direita nacionalista israelense é mais um motivo para afastar o eleitorado árabe das ruas. Apesar dos outdoors eleitorais espalhados pelo país, os moradores parecem alheios à movimentação. Na cidade de Um el Fahem, no entanto, a tensão é mais evidente e, em vez de boca-de-urna, a Polícia teme violentos choques quando as seções eleitorais forem abertas amanhã. Conhecido provocador antiárabe com diversas passagens pela polícia, o ativista ultranacionalista Baruch Marzel, um dos líderes dos colonos de Hebron, na Cisjordânia, será chefe de uma das zonas eleitorais da segunda maior cidade árabe no país, capital da região de Wadi Ara, um dos maiores blocos árabes de Israel.


Tida como uma provocação barata, lideranças do município já alertaram que vão impedir a presença de Marzel na cidade. A prefeitura enviou uma carta à Polícia e, alertado pelas forças de segurança, o procurador-geral do Estado, Meni Mazuz, já fez um pedido extraordinário ao Comitê Eleitoral Central para retirar o ativista da região onde vivem 43 mil árabes. Um el Fahm é ainda pivô da campanha do ultranacionalista Avigdor Liberman, do partido Israel Beitenu. Liberman propõe a transferência da população árabe local para a Cisjordânia em troca de assentamentos judeus em território palestino, numa proposta considerada racista, fascista e irreal por muitos israelenses, tanto árabes quanto judeus.


— Se o terrorista Marzel aparecer por aqui, será recebido com pedras ou algo muito pior.


O povo já está irritado o suficiente com Gaza, com a ascensão de Liberman, a discriminação e tantos outros problemas sociais. Os ânimos estão quentes. Estamos tentando acalmar as pessoas e mostrar a elas que votar é a melhor resposta a Liberman, mas não é tarefa fácil — disse o ativista comunitário Majad, recusandose a revelar o sobrenome.



Descrença afasta jovens das urnas

Apenas 57% dos eleitores com menos de 30 anos devem participar do pleito


JERUSALÉM. Eles representam pelo menos 30% dos 5,2 milhões de israelenses que vão às urnas escolher um novo governo, mas faltando apenas três dias para as eleições, entre a maioria dos jovens na faixa de 18 a 29 anos, a grande dúvida não é sobre qual das 33 legendas escolher, mas se vão deixar de lado as atividades cotidianas para comparecer às zonas eleitorais. Apesar da mobilização jovem na campanha de Barack Obama nos EUA, do recémcriado “Tzabar”, o Partido dos Jovens, e das campanhas de conscientização em universidades a favor do voto, analistas acreditam que apenas 57% dos eleitores com menos de 30 anos devem participar do pleito. Isso ameaça o já baixo índice geral de comparecimento às urnas — 63,5% nas eleições de 2006, o número mais baixo da história de Israel.


Aparentemente engajado, há duas semanas o estudante de filosofia Eli G, de 25 anos, passa as madrugadas circulando entre os bares e restaurantes de Jerusalém. Ele se reveza na distribuição de panfletos de dois partidos políticos, o Kadima, da ministra das Relações Exteriores, Tzipi Livni, e o Trabalhista, do ministro da Defesa, Ehud Barak. Aluno da Universidade Hebraica de Jerusalém, Eli afirma, no entanto, que seu envolvimento na campanha termina no dia da votação, quando pretende descansar e desligar a tevê, rádio e até mesmo a internet. Sua atuação na campanha é apenas uma maneira de ganhar um dinheiro extra para ajudar a pagar o estudos e, de política, o estudante quer distância.


— Estou apenas trabalhando, é um trabalho como outro qualquer, mas não acredito em nenhum deles. De que adianta votar? Ninguém dá ouvidos às necessidades dos jovens. Qualquer sinal de liderança desapareceu neste país e, votando, seria cúmplice da derrocada socioeconômica que Israel vem vivendo nos últimos anos.


Sem falar na questão do conflito com os palestinos.


Nada muda. E se muda, é sempre para pior — desabafou Eli, sem revelar o sobrenome.


Segundo o porta-voz do grêmio da Universidade de Tel Aviv, Adir Yanko, de 21 anos, os estudantes reclamam da instabilidade política israelense e já deixaram de lado questões complexas como um acordo de paz com os palestinos, além de verem uma piora na qualidade de vida, como a dificuldade de ingressar no mercado de trabalho e o custo de vida cada vez mais alto.


No entanto, Yanko, estudante de ciência política, diz não perder a esperança. Ele critica o sistema político israelense e acredita que o país deveria adotar o presidencialismo e conter o número grande de legendas nanicas presentes na política. Segundo ele, é inaceitável que cada segmento da sociedade tenha um partido representando a categoria. Sobre o recém-criado “Tzabar, o Partido dos Jovens”, ele se recusa a comentar.

Para ele, não se pode desperdiçar votos com legendas setoriais, sem uma agenda diplomática, política e de segurança claras.


Indiferença do eleitor mais novo pode levar a radicalismos O criador do Tzabar, Boaz Toporovski, de 28 anos, discorda. Ele resolveu mobilizar os amigos e criar uma legenda que representasse os interesses da juventude israelense. Mesmo sem dinheiro para a campanha, um grupo de cerca de 600 voluntários montou e registrou o partido com dinheiro arrecadado de doações. Segundo Toporovski, os jovens cansaram da falta de oportunidades nos partidos grandes e mesmo sem grandes chances de alcançar os 2% dos votos necessários para conquistar uma cadeira na Knesset, o parlamento israelense, ele afirma que a campanha é de longo prazo.


— Já não há mais direita ou esquerda. A direita do Likud fez a paz com o Egito e devolveu Hebron aos palestinos. Governos de esquerda permitiram a criação de novos assentamentos na Cisjordânia. Nada mais faz sentido. Pelo menos nós temos vontade e um caráter limpo — explicou Toporovski.


Para o professor de ciência política Avraham Diskin, da Universidade Hebraica de Jerusalém, a indiferença e a falta de interesse dos jovens na política é crucial. Diskin alerta ainda para o risco de “radicalismo” desse eleitores mais novos.


— A falta de interesse político é um fenômeno mundial. E como é típico da idade, os que comparecem têm uma tendência aos extremos. O jovem que afirma ser de direita vai buscar o candidato mais extremo e não Benjamin Netanyahu, do Likud. A mesma coisa acontece na esquerda: procurariam o ultra-liberal Meretz e não o tradicional Partido Trabalhista.(R.M.)



Euronews (08/02/2009)

Publico (08/02/2009)



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