O Globo, Mundo, página 26, em 12/02/2009.
Resultado apertado leva Livni e Netanyahu a cortejarem ultranacionalista para formar governo
Renata Malkes
Especial para O GLOBO• JERUSALÉM
O Israel Beiteinu terá 15 representantes na Knesset, o Parlamento. Os resultados finais do pleito mostram a direita nacionalista emergindo com 65 das 120 cadeiras, enquanto o bloco de centro-esquerda conquistou 55.
Livni e Netanyahu correm contra o tempo para conseguir as alianças necessárias.
Na semana que vem, o presidente Shimon Peres ouvirá as recomendações dos 12 partidos eleitos e decidirá quem é o líder com mais chances de montar um novo governo.
Livni reuniu-se ontem com Lieberman, mas, evasivo, o líder do Israel Beiteinu não fez qualquer promessa de aderir a um governo liderado pelo Kadima. Ele já fez parte do governo de Ehud Olmert e renunciou em protesto contra as negociações de paz com os palestinos.
Muitos acreditam que as diferenças ideológicas tornarão impossível uma união de forças com Livni.
— Nosso coração tende à direita. Nós é que vamos definir a agenda, mas todas as opções estão abertas. Vamos analisar e tentar formar um governo o mais rapidamente possível. A política israelense está paralisada há seis meses — disse Lieberman, que concordou em reencontrar Livni para mais uma rodada de negociações.
Especula-se que o líder do Israel Beiteinu esteja interessado no cargo de ministro da Defesa.
Outro fator importante que pode definir a coalizão é o partido sefaradita ortodoxo Shas, que conquistou 11 cadeiras.
As exigências de seu líder, Eli Yishai, são o aumento das pensões para os pobres, seminários e escolas rabínicas, além de projetos sociais visando à comunidade ortodoxa.
— Nós nos comprometemos antes das eleições com Netanyahu. O povo elegeu uma maioria direitista, mas isso não nos faz descartar outras possibilidades — despistou Yishai.
Likud rejeita ideia de liderança rotativa
Analistas preveem um cenário sombrio, onde apenas duas possibilidades são viáveis: a criação de um governo de direita, formado por Netanyahu, Lieberman e pelos partidos religiosos judaicos, ou uma divisão de poderes que poderia dar a Israel uma administração mais moderada e bem vista no cenário internacional. Um governo de rotatividade, no qual Livni ocuparia o cargo de premier por dois anos e Netanyahu por outros dois, foi proposto por fontes ligadas ao Kadima. Mas o Likud rejeitou a ideia.
— Tivemos uma votação impressionante. Primeiro vamos nos unir a nossos parceiros ideológicos. Somente depois podemos tentar ampliar a coalizão, não haverá rotatividade — afirmou Netanyahu.
Netanyahu também se reuniu com Lieberman e com o Shas. Enquanto assessores dos três maiores partidos trocam promessas, a única unanimidade das eleições é a insatisfação com o sistema eleitoral proporcional, que polariza o grande número de partidos e impede o bloco eleito de governar sozinho.
Tanto direita como esquerda se comprometeram a trabalhar para mudar o sistema, despertando uma antiga discussão não só sobre o método usado na eleição, mas sobre o próprio sistema de governo. O professor de ciência política Avraham Diskin, da Universidade Hebraica de Jerusalém, afirma que os problemas podem ter fim com o aumento do índice de votos obtidos para que uma legenda entre no Parlamento, hoje em apenas 2%: — Isso já acabaria com a força de pequenos partidos e a tradicional barganha que sucede as eleições.
O presidente do Centro Israelense para Democracia, Arie Carmon, acredita que, enquanto não houver uma reforma profunda, não haverá estabilidade na política local.
— Não adianta essa pluralidade sem estabilidade — disse Carmon.
Esquerda mergulha na crise após derrota
JERUSALÉM. O campo pacifista israelense acordou ontem em meio a um pesadelo. O mau desempenho nas urnas deixou clara a crise ideológica que se arrasta há anos, desde o assassinato do premier Itzhak Rabin, em 1995, e humilhou o Partido Trabalhista, de Ehud Barak, renegado ao quarto lugar com 13 cadeiras no Parlamento. O resultado também estraçalhou o tradicional partido esquerdista Meretz, que obteve só três dos 120 assentos do Legislativo.
Nem mesmo nos kibutzim, tradicionais comunidades socialistas do país, a esquerda ganhou a votação. O Kadima venceu nessas áreas com 31,1% dos votos. Os trabalhistas tiveram 30,6% e o Meretz, 17,7%.
Barak teve que conter as lágrimas ao afirmar que os trabalhistas não se abateriam, mesmo estando na oposição. Ainda desconcertados, os líderes da esquerda têm dificuldades em explicar o fracasso. Segundo o diretor do movimento kibutziano, Gavri Bargil, houve um “voto de breque”, já que, assustados com o radicalismo de Benjamin Netanyahu, muitos acabaram optando por Tzipi Livni numa tentativa desesperada de freá-lo.
— Eles não votaram no Kadima com convicção, mas votaram em Livni como indivíduo. A prova disso é que os números mostram que cerca de 30% do eleitorado do Kadima decidiram na última hora e outros 40% decidiram na última semana, temendo a volta da direita ao poder. Perdemos pelo menos 300 mil votos, o que representariam dez cadeiras — lamentou.
Procurado pelo GLOBO, o exlíder do Partido Trabalhista Amram Mitzna se disse chocado.
Mitzna abandonou a política em 2003, quando sob seu comando os trabalhistas tiveram um fiasco histórico. Ele preferiu não entrar em detalhes sobre o futuro da esquerda do país, mas garantiu que o que morreu foram os partidos e não o campo pacifista. A opinião é compartilhada pela ex-ministra e fundadora do Meretz Shulamit Aloni. Aos 71 anos, ela culpa o sistema político e afirma que a esquerda precisa se unir.
(Renata Malkes)
Resultado representa revés para Obama
Guinada para a direita deve prejudicar ou pelo menos retardar esforços dos EUA pela paz
Glenn Kessler e Griff Witte
Do
WASHINGTON. A ambição do presidente americano, Barack Obama, de avançar rapidamente num processo de paz entre israelenses e palestinos sofreu um revés com a aparente guinada à direita nas eleições israelenses, dizem analistas políticos.
Com a vitória do centrista Kadima, o partido de direita Likud dobrando seu número de cadeiras e uma legenda ultranacionalista sendo a terceira mais votada, aumenta a perspectiva de que um governo que não esteja interessado em negociações de paz surja dos esforços para formar uma coalizão. Mesmo se Tzipi Livni, líder do Kadima que prometeu negociar a paz com os palestinos, conseguir formar uma coalizão, ela será restringida por seus parceiros.
— Vai ser uma coalizão muito instável — disse Daniel Levy, ex-negociador de paz israelense. Americanos envolvidos nas negociações não têm boas memórias de Benjamin Netanyahu, o líder do Likud, quando este era premier. Não é segredo que prefeririam lidar com Livni, que como chanceler liderou negociações fracassadas com os palestinos.
Ontem, a Casa Branca disse que até que o nome do premier seja conhecido não ficará claro o que o resultado significa para o processo de paz.
— Certamente esperamos que o novo governo continue a buscar o caminho da paz — disse o porta-voz do Departamento de Estado, Robert Wood.
Mas Aaron David Miller, um ex-negociador de paz americano, fez uma avaliação sucinta da eleição: — É como se colocassem uma placa de “fechado” em qualquer esforço pela paz pelo próximo ano.
Para Miller, um amplo governo de união não conseguiria chegar a um acordo em medidas para a paz, mas alcançaria um consenso rápido em ataques contra o Hamas ou o Hezbollah: — Pode-se conseguir um governo bom em fazer a guerra e não a paz.
Isso criaria uma grande dor de cabeça para o governo (americano).
O resultado incerto das eleições aumenta a urgência para o primeiro-ministro, Ehud Olmert, alcançar um cessarfogo com o Hamas, dizem analistas.
Como membro do atual governo, Livni estaria mais inclinada a honrar o acordo. Já Dan Meridor, membro do Likud, observa que Netanyahu não apoiaria automaticamente tal trégua.
Relação com o Irã é outra preocupação para americanos
Na Europa, a França estimulou o futuro governo israelense a consolidar o cessar-fogo na Faixa de Gaza. Já o chefe da diplomacia da União Europeia, Javier Solana, admitiu que o resultado representa uma guinada à direita, mas manifestou a esperança de que os vencedores formem um governo de unidade nacional que busque a paz.
Para a imprensa europeia, um dos obstáculos pode ser a crescente influência do ultranacionalista Avigdor Lieberman. “Podem imaginar algo mais distante das propostas de Obama do que as ideias xenófobas” de Lieberman, perguntou o italiano “La Repubblica”.
O suíço “Basler Zeitung” disse que os resultados mostram que “a maioria dos israelenses não acredita na paz”. A imprensa árabe acusou Lieberman de racismo. “Os israelenses escolheram a guerra e o extremismo”, disse o sírio “al-Thawra”. A chancelaria iraniana, por sua vez, classificou os resultados de “lamentáveis”.
Mike Williams, especialista da Universidade de Londres, levantou outra questão: um governo de linha-dura poderia lançar ação unilateral contra o Irã para conter seu programa nuclear.
— A maior preocupação é que comecem uma operação militar que não consigam terminar e que Washington tenha que limpar tudo no final.
Com agências internacionais
FSP online (12/02/2009)
- Entenda a negociação para a escolha do premiê de Israel
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- Likud deve oferecer cargos a Livni e Lieberman para acelerar coalizão
Correio Braziliense (12/02/2009)
- Papa confirma viagem a Israel e pede perdão por Holocausto
- Netanhayu se reúne com direita religiosa após eleições
CBN (12/02/2009)
- Papa diz a judeus que negação do Holocausto é 'intolerável'
- Kadima e Likud disputam apoio para formar governo de coalizão em Israel
Último Segundo (12/02/2009)
- Resultado final de eleição em Israel dá maioria ao Kadima
- Netanyahu e Livni negociam para formar novo governo
- Caio Blider: Na desgraça do Oriente Médio, Israel esta no limbo político: Israel está no limbo politico, assim como o Oriente Médio e os planos do governo Obama para a região. A vitória nas eleições gerais de terça-feira foi da paralisia. A desmoralizada classe política israelense entra agora em mais uma daquelas esdrúxulas e extenuantes negociações para a formação do governo. Doze partidos superaram o patamar de 2% dos votos para integrar o Parlamento.
Zero Hora (12/02/2009)
- Depois dos votos, as articulações (página 39)
Gazeta do Povo (12/02/2009)
BBC Brasil (12/02/2009)
La Vanguardia (12/02/2009)
- Livni no descarta un gobierno de unidad liderado por Netanyahu
- El voto en Israel varía si está cerca o lejos de los cohetes de Hamas
Israel Politik (11/02/2009)
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