O Globo, Mundo, Pág.17, em 23/03/2009.
O terror na era da e-jihad
Crescimento exponencial do uso da internet para planejar atentados preocupa autoridades
Fernando Duarte Correspondente • LONDRES
Em maio de 2008, Mohammad Saeed Alim entrou num restaurante de Exeter, uma pacata cidade do sul da Inglaterra, e dirigiu-se ao banheiro, onde acidentalmente detonou a bomba de fabricação caseira que pretendia explodir no salão principal. Em meio ao choque pelo incidente numa região do país que não prima pela concentração de população muçulmana, a polícia imediatamente detectou outro ponto pouco usual: Alim, então com 22 anos, um britânico cristão convertido ao islamismo cinco anos antes, era usuário frequente de salas de bate-papo sobre atividades radicais e teria obtido na internet explicações sobre a fabricação da bomba, bem como o incentivo para o atentado.
Ainda que Alim tivesse um histórico de problemas mentais, seu caso é um dos exemplos mais recentes da preocupação das autoridades do Reino Unido com uso da internet pelo terrorismo. O assunto não é novo, mas nos últimos tempos especialistas têm chamado a atenção para a velocidade com que o radicalismo islâmico tem usado o cyberespaço para atividades de recrutamento e distribuição de informações. Na próxima quinta-feira, o assunto será um dos pontos principais de um estudo preparado pela Chatham House, um dos mais respeitados think tanks britânicos, e cuja principal mensagem será de que a sociedade como um todo enfrenta uma considerável ameaça com os usos ilícitos da internet.
Otan quer unidade de defesa cibernética
Entre os perigos, inclui-se a possibilidade de ataques em larga escala à infra-estrutura de telecomunicações, como ocorreu na Estônia, em maio e junho de 2007, quando o país báltico viu-se praticamente paralisado por força de ataques de hackers russos aparentemente motivados pela polêmica remoção de um memorial em homenagem aos soldados da antiga União Soviética mortos na Segunda Guerra Mundial e que durante 60 anos ocupara uma das principais praças de Tálin, a capital estoniana. Uma façanha que levou a Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) a defender a criação de uma unidade especial de defesa cibernética.
De acordo com estimativas dos serviços de segurança dos Estados Unidos e do Reino Unido, o número de sites radicais cresce de forma exponencial, e hoje estaria nas centenas de milhares, beneficiando-se das características da internet como meio de comunicação, a começar pela estrutura descentralizada em termos técnicos e legais. Se inovações tecnológicas anteriores, como o telefone e o fax, também representaram um facilitador para as atividades terroristas, a grande rede oferece um campo mais vasto, e torna ainda maior o desafio dos serviços de inteligência.
— O problema não é apenas o fato de a internet ser bastante horizontal hierarquicamente, no que diz respeito ao tipo de conteúdo produzido e distribuído, pois a tecnologia hoje não apenas barateou extremamente os custos para veiculação de informações, como as ferramentas hoje não exigem um extremo conhecimento de informática por parte dos usuários. Blogs, por exemplo, podem ser criados num piscar de olhos, e em diversas línguas e códigos diferentes — explica Colin McLean, professor da Albertay University, na Escócia, que em 2007 criou um curso de hacking ético.
Tampouco facilita a vida das autoridades a maneira como ainda é relativamente fácil trocar informações por e-mail longe dos olhos de governos. Mais recentemente, ferramentas de sites de relacionamento social e tecnologias Voip, como a do programa skype, dificultam o uso de recursos investigativos como os grampos, por exemplo. Mesmo as mudanças na legislação propostas por diversos governos, incluindo britânico, que quer dar mais poderes de vigilância virtual aos serviços de segurança, ainda fazem parte de uma correria desesperada contra o tempo, segundo especialistas.
— Gosto de dizer que a internet provocou uma revolução em diversos aspectos de nossas vidas, mas também se transformou num monstro.
A própria natureza do meio transforma a vigilância em algo parecido como procurar uma agulha transparente num palheiro invisível.
Sem falar que as pessoas por trás dessas operações criminosas já não são mais apenas garotos espinhentos e curiosos — alerta Mikko Hypponen, pesquisador-chefe da FSecure, uma das empresas mais conhecidas da Europa no ramo da segurança eletrônica.
Apoio via web para atentado em Glasgow
E, embora o caso de Alim chame a atenção pelo amadorismo gritante de suas ações, ele também causou um frio na espinha das autoridades britânicas por sua familiaridade com os atentados de julho de 2005 ao sistema de transportes de Londres, levados a cabo por quatro terroristas britânicos e com um mínimo de preparação profissional, e que mataram mais de 50 pessoas, ferindo outras 500.
Não há indícios de que eles tenham utilizado ajuda virtual, mas os dois médicos muçulmanos que tentaram explodir um jipe no saguão do aeroporto de Glasgow, em junho de 2007, utilizaram-se da internet para obter apoio financeiro e tático para o ataque, segundo a polícia.
Arma também de mobilização para protestos
Web e celular são instrumentos para convocação rápida de atos públicos
LONDRES. O uso da internet para fins criminosos não é a única preocupação que a web traz para as autoridades de segurança britânicas. Nas últimas semanas, boa parte do foco está voltada para como o cyberespaço poderá ajudar na organização de protestos durante o encontro dos chefes de Estado do G-20, no próximo dia 2, em Londres. Segundo diversos jornais, a polícia está tão preocupada com um festival de manifestações mais tumultuadas que já teria até pedido para funcionários de grandes instituições financeiras da capital que tomem precauções especiais na semana do evento, incluindo o uso de roupas casuais em vez de terno e gravata.
A polícia teme que a crise mundial vá transformar bancos e seus funcionários, por exemplo, num alvo predileto de militantes mais radicais, suspeita alimentada por mensagens que estariam circulando em sites de organizações anticapitalistas e mesmo por meios poucos sutis quanto pôsteres pedindo a queima de banqueiros em praça pública. Representantes de alguns grupos de protesto se gabaram em entrevistas de como pretendem criar os maiores distúrbios possíveis, aproveitando que o grosso do efetivo de segurança do G-20 estará em torno de centro de convenções ExCel, no leste de Londres.
E a turma mais baderneira nem sequer precisa realizar assembleias, pois a tecnologia digital aumentou substancialmente a velocidade de circulação de informações e mesmo grupos anarquistas menos conhecidos do grande público hoje têm páginas na internet e usam serviços como o twitter para alertar associados.
— O twitter, por exemplo, usa um sistema de atualização de informações em tempo real que todo mundo pode receber, mesmo sem estar na frente do computador, pois também pode ser acessado pelo celular. Isso ajuda e muito para passar instruções de última hora.
Infelizmente, esse poder também tem como ser utilizado para o mal — diz Natasha, uma militante da coalizão pacifista Stop the War, uma das que pretendem sair às ruas de Londres.
Se a Scotland Yard está preparada para os habituais empurra-empurras na dispersão de manifestações, a maior preocupação é com modalidades mais agressivas de protesto. Ontem, por exemplo, o jornal “Observer” falava em planos para causar caos no metrô de Londres por meio de bolsas e pacotes propositalmente deixados nos vagões — o que resultaria numa série de alertas de segurança no sistema, parando trens e fechando estações. (Fernando Duarte)
BBC Brasil (23/03/2009)
The Wall Streeet Journal (18/03/2009)
A miséria causada pelos árabes
Doadores internacionais garantiram quase 4,5 bilhões de dólares como ajuda para Gaza no início deste mês. Nestes últimos anos, tem sido muito penoso para mim testemunhar a situação de deterioração humana na estreita faixa onde morei quando era criança, nos anos 1950.
A mídia tem a tendência de atribuir o declínio de Gaza somente às ações militares e econômicas israelenses contra o Hamas. Mas tal análise míope ignora a causa fundamental do problema: 60 anos de política árabe objetivando a perpetuação do status dos palestinos como refugiados sem pátria, a fim de usar o sofrimento deles como uma arma contra Israel.
Quando eu era criança, em Gaza, nos anos 1950, experimentei os primeiros resultados dessa política. O Egito, que então controlava o território, realizava operações do tipo guerrilha contra Israel a partir do território de Gaza. Meu pai comandava essas operações, executadas pelos “fedayeen”, palavra árabe que significa “auto-sacrifício”. Naquela época, Gaza já era a linha de frente da jihad (guerra santa) árabe contra Israel. Meu pai foi assassinado pelas forças israelenses em 1956.
Foi naqueles anos que a Liga Árabe iniciou sua política de refugiados palestinos. Países árabes criaram leis especiais projetadas para tornar impossível a integração de refugiados palestinos da guerra dos árabes contra Israel em 1948. Mesmo os descendentes dos refugiados palestinos que nascem em outro país árabe e moram nele por toda a sua vida não podem, jamais, obter passaporte daquele país. Mesmo que se casem com cidadãos de um país árabe, não podem se tornar cidadãos do país de seu cônjuge. Devem permanecer “palestinos” mesmo que jamais tenham colocado os pés na Margem Ocidental ou em Gaza.
Essa política de forçar uma identidade palestina sobre essas pessoas eternamente e de condená-las a uma vida miserável em um campo de refugiados foi projetada para perpetuar e exacerbar a crise dos refugados palestinos.
O mesmo se deu com a política árabe de superpopular Gaza. A UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência Para os Refugiados Palestinos), cujo principal apoio político vem de países árabes, estimula altas taxas de natalidade, premiando as famílias que têm muitos filhos. Yasser Arafat disse que o útero de uma mulher palestina era a melhor arma que ele possuía.
Países árabes sempre se esforçam por classificar tantos palestinos quanto possível como “refugiados”. Como resultado, cerca de um terço dos palestinos em Gaza ainda vive em campos de refugiados. Durante 60 anos os palestinos têm sido usados e abusados por governos árabes e terroristas palestinos na guerra contra Israel.
Agora é o Hamas, uma organização terrorista islâmica apoiada pelo Irã, que está usando e abusando dos palestinos para seus próprios propósitos. Enquanto os líderes do Hamas se escondiam em seus bunkers e túneis cheios de provisões, os quais eles prepararam antes de provocarem Israel a atacá-los, civis palestinos eram expostos e pegos no fogo cruzado mortal entre o Hamas e os soldados israelenses.
Como resultado de 60 anos dessa política árabe, Gaza se tornou um campo de prisioneiros para 1,5 milhões de palestinos. Tanto Israel quanto o Egito temem a infiltração terrorista de Gaza – mais ainda desde que o Hamas assumiu o governo – e mantêm controle acirrado sobre suas fronteiras com Gaza. Os palestinos continuam a sofrer dificuldades porque Gaza continua a servir como plataforma de lançamento para ataques terroristas contra cidadãos israelenses. Esses ataques vêm na forma de mísseis do Hamas que, indiscriminadamente, têm como alvo jardins de infância, casas e estabelecimentos comerciais.
O Hamas continuou com esses ataques por mais de dois anos depois que Israel se retirou de Gaza na esperança de que esse passo daria início ao processo de construção de um Estado palestino, levando finalmente à solução pacífica de dois Estados para o conflito entre Israel e a Palestina. Não havia “ciclo de violência” na época, nenhuma justificativa para nada que não fosse paz e prosperidade. Mas, em vez disso, o Hamas escolheu a jihad islâmica. As esperanças dos moradores de Gaza e de Israel foram “satisfeitas” com miséria para os palestinos e mísseis para os israelenses.
O Hamas, um representante do Irã, tornou-se um perigo não apenas para Israel, mas para os palestinos, e também para os Estados árabes vizinhos, que temem que o avanço do islã radical possa desestabilizar seus países.
Os árabes alegam amar o povo palestino, mas parecem mais interessados em sacrificá-lo. Se realmente amassem seus irmãos palestinos, eles pressionariam o Hamas para parar de atirar mísseis contra Israel. Em longo prazo, o mundo árabe deve terminar com o status de refugiados dos palestinos e seu conseqüente desejo de prejudicar Israel. Está na hora de os 22 países árabes abrirem suas fronteiras e absorverem os palestinos de Gaza que desejam começar vida nova. Está na hora do mundo árabe realmente ajudar os palestinos, e não apenas usá-los. (Nonie Darwish, extraído de The Wall Street Journal
Nonie Darwish cresceu na cidade de Gaza e no Cairo (Egito). Hoje é cidadã americana e vive nos EUA. Escritora independente e palestrante, administra o site www.arabsforisrael.com.
*Obs: Enviado por Etel S. Wengier, em 23/03/2009.
Veja mais:
23/03/2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário