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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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domingo, 3 de maio de 2009

Brasil busca meio-termo na relação com governo do Irã

FSP (03/05/2009)


Opinião: Brasília - Eliane Cantanhêde: Ahmadinejad


BRASÍLIA - O "eixo do mal" da era Bush começa a esfarelar. Não só com os novos rumos dos Estados Unidos com Obama, mas com a popularização do Irã, tido como inimigo de judeus, homossexuais, feministas, evangélicos e Bahá'ís. E cheio de mistificações.


O Irã não é árabe, é persa. Tecnicamente, não tem ditadura, e sim uma "república teocrática", com eleições de quatro em quatro anos. E o presidente, Mahmoud Ahmadinejad, vai disputar a reeleição em 12 de junho fazendo como todo líder faz nessas horas: falará mais para "dentro" do que para "fora" do país.


Ou seja, deverá radicalizar o discurso até lá. Depois tenderá a recuar. O Irã assusta com seu programa nuclear, seus mísseis, seu antissemitismo, e Ahmadinejad afugentou oito delegações na última reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU ao questionar o Holocausto e acusar Israel de racista. É um absurdo e vai ter de mudar.


Ahmadinejad vem na quarta para se encontrar com Lula e ampliar sua presença na América Latina, onde já encontra guarida -ou calorosa acolhida- na Venezuela de Chávez.


Mas não confunda. Washington trata Teerã como inimiga. Caracas a trata como amigona. E o Brasil não quer nem uma coisa nem outra. Quer ratificar a sua política externa independente das grandes potências (leia-se: dos EUA) e contrária a isolamentos. Isolar é atiçar o pior das pessoas e dos países. Incluir é neutralizar ímpetos e aventuras. Como o Brasil faz com a própria Venezuela.


O Irã era o maior exportador do Brasil no Oriente Médio, mas as vendas despencaram em 2008, em função do bloqueio internacional de crédito. A vinda de Ahmadinejad não muda nada do dia para a noite, mas pode reforçar o protagonismo que o Brasil e Lula almejam e abrir espaço para a inserção (e a adaptação) do Irã no (e ao) mundo. O Irã precisa de crédito; o mundo, de paz. Os protestos? Lula tira de letra.



Brasil busca meio-termo na relação com governo do Irã


Sob críticas por visita de Ahmadinejad, governo prevê intercâmbio pragmático


Itamaraty quer evitar viés ideológico; Teerã busca reativar relações comerciais, afetadas por sanções do Conselho de Segurança


ELIANE CANTANHÊDE

COLUNISTA DA FOLHA


SAMY ADGHIRNI

DA REPORTAGEM LOCAL


Sob a expectativa de pesados protestos, Luiz Inácio Lula da Silva recebe na próxima quarta-feira um dos mais polêmicos líderes mundiais, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Para o Brasil, é um passo para ratificar a política externa independente das grandes potências. Para o Irã, uma tentativa de fugir ao isolamento. E, para ambos, o reaquecimento das relações comerciais.


A intenção do Planalto e do Itamaraty é estabelecer com o Irã relações político-comerciais pragmáticas, livres de conotações ideológicas e no meio-termo entre as que os Estados Unidos e a Venezuela têm com o país. Nem de rechaço, nem de aliança automática.


Na prática, significa que o Brasil quer ampliar os canais de diálogo e a cooperação bilateral em diferentes áreas, mas mantendo uma distância crítica.


O Irã, primeira República Islâmica do mundo, tem sistematicamente confrontado o Ocidente. Apesar de integrar o Tratado de Não Proliferação Nuclear, mantém um programa nuclear cercado de controvérsias e adota posições de hostilidade aberta a Israel em foros multilaterais.


Exemplo mais recente: em discurso na conferência de Direitos Humanos da ONU, mês passado, Ahmadinejad questionou o Holocausto e chamou Israel de racista, afugentando delegações europeias. O Brasil não se retirou, mas reagiu com nota de repúdio, um discurso no mesmo foro e chamando o embaixador iraniano em Brasília para esclarecimentos.


Sanções e negócios

O cerco político tem tido drásticos efeitos econômicos para o Irã, mesmo o país alegando que não tem bomba atômica nem pretende ter. A Arábia Saudita é o maior parceiro comercial do Brasil no Oriente Médio, mas o Irã já foi o principal destino das exportações brasileiras, com vendas de US$ 1.837 bilhão em 2007. Esse valor, porém, sofreu uma queda abrupta de quase 40%, chegando a US$ 1,1 bilhão em 2008.


O principal motivo é falta de aval internacional para os negócios iranianos, especialmente depois de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, por pressão norte-americana, exortando os países a não assumirem acordos financeiros com o Irã por causa dos programas nuclear e de mísseis do país, parte do "eixo do mal" da era Bush.


Há, ainda, um imenso desequilíbrio no comércio, a favor do Brasil. Apesar de se manter entre os maiores compradores de produtos brasileiros, o Irã não consegue vender praticamente nada ao país. As importações brasileiras foram só de US$ 11 milhões em 2007 e de US$ 14 milhões no ano passado.


Ahmadinejad, frequentador assíduo da Venezuela, pretende ampliar sua penetração na América Latina e também suavizar o bloqueio financeiro ao Irã, que não consegue aval de bancos europeus, por exemplo, para suas cartas de crédito.


Além da maior delegação de empresários que já levou ao exterior, ele trará também uma proposta específica: uma flexibilização do Banco Central para os financiamentos iranianos. Conforme a Folha apurou, entretanto, ele não será atendido, pelo menos não já.


Outros itens da pauta serão investimentos em petróleo, siderurgia e petroquímica, já que o petróleo é responsável por mais de 80% das exportações iranianas. Mas, como o Irã é o único país do Oriente Médio que cultiva cana de açúcar, Lula e Ahmadinejad também discutirão cooperação na área de biocombustíveis.


A expectativa de Planalto e Itamaraty, porém, é que a visita não renda efeitos concretos em qualquer área e tenha mais um caráter político, de arejamento nas relações e de promessas futuras na área de comércio.


O passo seguinte será uma possível viagem de Lula a Teerã. Nunca um presidente brasileiro foi ao país. E o Irã é o único grande emergente que Lula ainda não visitou. Mas a ida está condicionada a uma maior acomodação do regime iraniano à convivência internacional.


Na avaliação de diplomatas, Ahmadinejad tende a manter o tom de confronto até disputar a reeleição, em junho.



Organizações judaicas e feministas repudiam


DA REPORTAGEM LOCAL


No pontapé inicial de uma série de atos de repúdio à visita de Mahmoud Ahmadinejad ao Brasil, movimentos religiosos e de direitos humanos convocaram para a manhã de hoje protestos em São Paulo e no Rio.


As manifestações serão capitaneadas por grupos judaicos, revoltados com o convite do Brasil a um presidente que questiona o Holocausto e defende varrer Israel do mapa.


"É uma ofensa para a comunidade judaica o governo brasileiro receber [Ahmadinejad]. Não dá para abrir o tapete vermelho para um líder antissemita", diz Fernando Lottenberg, secretário geral da Confederação Israelita do Brasil (Conib).


Segundo a Folha apurou, a Conib entregou na última quarta-feira uma carta de repúdio ao chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho.


O recado da comunidade judaica brasileira ganhou apoio entusiasmado de homossexuais, evangélicos e feministas, que também encaram o iraniano como inimigo.


A ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais) divulgou nota criticando o Irã por ser um dos poucos países que ainda consideram a homossexualidade um crime passível de pena de morte.


Associações feministas também condenam o regime iraniano por permitir o apedrejamento de mulheres adúlteras.


O movimento irá se concentrar em Brasília no dia da visita, com a promessa de promover o maior protesto já feito contra um visitante estrangeiro.


Um grupo não identificado pretende estender em algum ponto alto nas cercanias do Itamaraty -onde Lula receberá o colega iraniano- um enorme cartaz com uma criança num campo de concentração e a frase "como você ousa negar?".


Na véspera da visita, o pastor Laurindo, do Ministério Casa da Bênção, organiza uma vigília noturna com velas em frente ao Itamaraty. As velas, segundo o pastor, servirão para "trazer luz na escuridão em que Brasil mergulhará" com a presença do iraniano em solo brasileiro. "[Na Bíblia, o] Gênesis diz que aquele que amaldiçoa Israel será amaldiçoado", cita o pastor.


Os bahá'ís, que foram perseguidos no Irã antes mesmo da Revolução Islâmica (1979) e têm milhares de adeptos no Brasil, também estão contrariados com a visita.


Os bahá'ís pretendem publicar na mídia brasileira uma carta aberta a Ahmadinejad, exigindo a libertação de fiéis encarcerados na prisão de Evin, tida com o equivalente iraniana da penitenciária iraquiana de Abu Ghraib.


"Mais do que soja e carne, o Brasil deveria exportar os valores humanos que deram ao país sua atual posição de liderança", afirma Washington Araújo, diretor de comunicação da Comunidade Bahá'í do Brasil.


A Embaixada do Irã se absteve de comentar sobre os protestos. Em visita a Brasília em março, o chanceler Manouchehr Mottaki afirmou que "todos os iranianos são tratados da mesma maneira".


O Itamaraty, embora diga que o Brasil é um país democrático que permite a livre expressão, está preocupado. Segundo um diplomata, o ministério nunca recebeu tantos e-mails de cidadãos protestando contra uma visita de autoridade estrangeira -nem antes das duas visitas do americano George W. Bush ao Brasil.


A Polícia Federal montou um esquema especial de segurança para receber a comitiva iraniana, que foi instruída a fazer apenas os trajetos indispensáveis na capital brasileira.


Inicialmente prevista para a noite de terça-feira, a chegada de Ahmadinejad a Brasília foi adiada para a manhã de quarta. A estadia, que deveria durar dois dias, foi reduzida a algumas horas. (SA)



FSP online (03/05/2009)


Deutsche Welle (03/05/2009)


UOL Internacional / Mídia Global (03/05/2009)


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