Negociadores do Hamas e de Israel acertaram um cessar-fogo que pode soar como uma nova era. Em vez de lutarem, eles desejam baixar suas armas
Pierre Heumann*
Agora é oficial: o cessar-fogo entre o Hamas e Israel terá início na quinta-feira, confirmou o porta-voz do governo israelense, Mark Regev, na manhã de quarta-feira
É um momento pelo qual 1,4 milhão de moradores da Faixa de Gaza esperam há muito tempo. Por meses, os palestinos de lá têm enfrentado prateleiras vazias nas lojas e ampla escassez de tudo, de combustível a alimentos. Também significará um fim aos bombardeios e atividades militares israelenses na região densamente povoada. Por sua vez, os israelenses esperam que o acordo suspenda o fluxo constante de foguetes caseiros disparados através da fronteira -apesar de na noite de terça-feira, após o anúncio do acordo, mais foguetes terem sido disparados contra Israel.
Um recuo do Hamas
O recuo por parte do Hamas mostra que ele depende de um cessar-fogo. Israel cortou acentuadamente os suprimentos para a Faixa de Gaza em reação aos foguetes que são disparados regularmente do território controlado pelo Hamas contra o sul de Israel. Como resultado, os 1,6 milhão de habitantes da Faixa de Gaza estão atualmente experimentando a pior crise já vivida no território. As duras sanções econômicas israelenses deixaram o Hamas de joelhos. De acordo com o boicote internacional que está em vigor desde que o Hamas chegou ao poder há um ano, Israel só permite que a Faixa de Gaza receba combustível, alimentos, material de construção e medicamentos suficientes para que a população sobreviva -mas não o suficiente para tornar a vida moderna possível.
O governo israelense esperava que protestos por parte da população palestina contra suas condições de vida catastróficas seriam suficientes para provocar uma mudança de regime -em outras palavras, derrubar o Hamas. É verdade que estas esperanças não se concretizaram. Mas em meio à população há sinais de resistência às políticas do Hamas, que estão levando a Faixa de Gaza à ruína. Segundo o cientista político palestino Mkhaimar Abu Sada, da Universidade Al Azhar, na Faixa de Gaza, o Hamas está usando a crise para conquistar capital político para si mesmo e levar os cidadãos a atos de desespero contra Israel. "O Hamas está culpando Israel pela miséria", ele disse. "Mas cada vez menos palestinos estão convencidos de que esse é o caso."
Um Hamas mais estadista?
Após um ano de controle sobre a Faixa de Gaza, o Hamas agora está mostrando um lado mais estadista. Os estrategistas do Hamas esperam que a melhora de suprimentos no território ajude a fortalecer a posição do grupo radical islâmico entre os palestinos -o que então levaria a uma maior consolidação de sua posição na Faixa de Gaza. No processo, eles querem resolver a divisão interna entre os palestinos a seu favor.
Mas é precisamente neste ponto que o Hamas precisa provar que pode implantar suas políticas e que está disposto a fazer uso da força contra seus aliados palestinos. Em breve ficará claro se o Hamas agirá para impedir as várias ramificações militantes na Faixa de Gaza de romper o cessar-fogo. Este será um teste difícil. Alguns grupos radicais já anunciaram que o acordo de cessar-fogo do Hamas não se aplica a eles.
O que está em jogo para o Hamas é considerável. Nas próximas semanas, ele buscará promover o avanço de sua agenda -e não apenas na frente militar, mas acima de tudo suas metas políticas e sociais. Uma de suas metas-chave é a islamização da sociedade palestina em Gaza.
Mas o Hamas não terá muito tempo para fazer isso, porque Israel não está disposto a aceitar qualquer violação do cessar-fogo, segundo fontes no Ministério da Defesa. Do ponto de vista de Jerusalém, é responsabilidade do Hamas colocar um fim aos ataques com foguetes. Os políticos e oficiais militares israelenses estão extremamente céticos de que o cessar-fogo será mantido.
Apesar da falta de entusiasmo em Jerusalém, os israelenses aceitaram o cessar-fogo. Afinal, a rejeição de um "acordo de cavalheiros" seria um tapa na cara para o governo egípcio, cujos negociadores atuaram por meses como mediadores entre Israel e o Hamas.
Israel também quer provar que todas as opções diplomáticas foram esgotadas antes de dar início às operações militares planejadas na Faixa de Gaza. Estas operações visam colocar um fim à chuva de foguetes lançados de dentro do território controlado pelo Hamas -presumindo, é claro, que o cessar-fogo não seja mantido.
*Pierre Heumann é o correspondente no Oriente Médio da revista suíça "Weltwoche".
Tradução: George El Khouri Andolfato
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