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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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quinta-feira, 19 de junho de 2008

Por que o Hamas precisa de um cessar-fogo com Israel?

Negociadores do Hamas e de Israel acertaram um cessar-fogo que pode soar como uma nova era. Em vez de lutarem, eles desejam baixar suas armas

Pierre Heumann*
Em Tel Aviv
, Der Spiegel, em 19/06/2008.

Agora é oficial: o cessar-fogo entre o Hamas e Israel terá início na quinta-feira, confirmou o porta-voz do governo israelense, Mark Regev, na manhã de quarta-feira em Jerusalém. O acordo, intermediado pelo Egito no Cairo, colocará um fim a mais de um ano de combate entre o grupo extremista palestino e as forças armadas israelenses na Faixa de Gaza -um conflito que já custou as vidas de mais de 400 palestinos e sete israelenses. Caso o acordo consiga colocar um fim aos combates, Israel poderia suspender o bloqueio à Faixa de Gaza já na próxima semana.

É um momento pelo qual 1,4 milhão de moradores da Faixa de Gaza esperam há muito tempo. Por meses, os palestinos de lá têm enfrentado prateleiras vazias nas lojas e ampla escassez de tudo, de combustível a alimentos. Também significará um fim aos bombardeios e atividades militares israelenses na região densamente povoada. Por sua vez, os israelenses esperam que o acordo suspenda o fluxo constante de foguetes caseiros disparados através da fronteira -apesar de na noite de terça-feira, após o anúncio do acordo, mais foguetes terem sido disparados contra Israel.

As negociações estão em andamento há meses. Mas finalmente, os mediadores egípcios conseguiram encontrar um ponto em comum entre os dois lados. É um sucesso impressionante, que viu o Hamas se afastar bastante de sua lista original de exigências. No início, por exemplo, o grupo extremista islâmico queria que o cessar-fogo também se estendesse à Cisjordânia. Lá, palestinos moderados do movimento Fatah, sob o presidente palestino Mahmoud Abbas, estão no poder -e Israel têm liberdade para caçar células terroristas do Hamas. Assegurar o direito de continuar estas buscas era vital para os israelenses. Os dois lados concordaram em deixar a questão da Cisjordânia para futuras negociações.

Um recuo do Hamas
O recuo por parte do Hamas mostra que ele depende de um cessar-fogo. Israel cortou acentuadamente os suprimentos para a Faixa de Gaza em reação aos foguetes que são disparados regularmente do território controlado pelo Hamas contra o sul de Israel. Como resultado, os 1,6 milhão de habitantes da Faixa de Gaza estão atualmente experimentando a pior crise já vivida no território. As duras sanções econômicas israelenses deixaram o Hamas de joelhos. De acordo com o boicote internacional que está em vigor desde que o Hamas chegou ao poder há um ano, Israel só permite que a Faixa de Gaza receba combustível, alimentos, material de construção e medicamentos suficientes para que a população sobreviva -mas não o suficiente para tornar a vida moderna possível.

O governo israelense esperava que protestos por parte da população palestina contra suas condições de vida catastróficas seriam suficientes para provocar uma mudança de regime -em outras palavras, derrubar o Hamas. É verdade que estas esperanças não se concretizaram. Mas em meio à população há sinais de resistência às políticas do Hamas, que estão levando a Faixa de Gaza à ruína. Segundo o cientista político palestino Mkhaimar Abu Sada, da Universidade Al Azhar, na Faixa de Gaza, o Hamas está usando a crise para conquistar capital político para si mesmo e levar os cidadãos a atos de desespero contra Israel. "O Hamas está culpando Israel pela miséria", ele disse. "Mas cada vez menos palestinos estão convencidos de que esse é o caso."

Um Hamas mais estadista?
Após um ano de controle sobre a Faixa de Gaza, o Hamas agora está mostrando um lado mais estadista. Os estrategistas do Hamas esperam que a melhora de suprimentos no território ajude a fortalecer a posição do grupo radical islâmico entre os palestinos -o que então levaria a uma maior consolidação de sua posição na Faixa de Gaza. No processo, eles querem resolver a divisão interna entre os palestinos a seu favor.

Mas é precisamente neste ponto que o Hamas precisa provar que pode implantar suas políticas e que está disposto a fazer uso da força contra seus aliados palestinos. Em breve ficará claro se o Hamas agirá para impedir as várias ramificações militantes na Faixa de Gaza de romper o cessar-fogo. Este será um teste difícil. Alguns grupos radicais já anunciaram que o acordo de cessar-fogo do Hamas não se aplica a eles.

O que está em jogo para o Hamas é considerável. Nas próximas semanas, ele buscará promover o avanço de sua agenda -e não apenas na frente militar, mas acima de tudo suas metas políticas e sociais. Uma de suas metas-chave é a islamização da sociedade palestina em Gaza.

Mas o Hamas não terá muito tempo para fazer isso, porque Israel não está disposto a aceitar qualquer violação do cessar-fogo, segundo fontes no Ministério da Defesa. Do ponto de vista de Jerusalém, é responsabilidade do Hamas colocar um fim aos ataques com foguetes. Os políticos e oficiais militares israelenses estão extremamente céticos de que o cessar-fogo será mantido.

Apesar da falta de entusiasmo em Jerusalém, os israelenses aceitaram o cessar-fogo. Afinal, a rejeição de um "acordo de cavalheiros" seria um tapa na cara para o governo egípcio, cujos negociadores atuaram por meses como mediadores entre Israel e o Hamas.

Israel também quer provar que todas as opções diplomáticas foram esgotadas antes de dar início às operações militares planejadas na Faixa de Gaza. Estas operações visam colocar um fim à chuva de foguetes lançados de dentro do território controlado pelo Hamas -presumindo, é claro, que o cessar-fogo não seja mantido.

*Pierre Heumann é o correspondente no Oriente Médio da revista suíça "Weltwoche".

Tradução: George El Khouri Andolfato

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