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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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quinta-feira, 19 de junho de 2008

Tzipi Livni, a pretendente para suceder Ehud Olmert em Israel

Michel Bôle-Richard, Le Monde, em 19/06/2008.

Tzipi Livni está em posição de largada. Todas as pesquisas a colocam na frente. Ela está convencida de que Ehud Olmert, o atual primeiro-ministro - que está sendo processado na justiça por conta de um caso de financiamento ilegal da sua campanha eleitoral -, não poderá agüentar por muito mais tempo ainda na posição desconfortável na qual ele se encontra. Tzipi Livni tem a convicção de que a sua hora chegou. Diante disso, a ministra israelense das relações exteriores pediu para que eleições primárias fossem realizadas no partido Kadima (que significa "Para Frente"), de maneira que seja designado um sucessor do atual chefe do governo. Ela está se preparando para esta batalha interna ao partido, recenseando os seus apoios.

A luta promete ser árdua contra o seu principal adversário, o antigo chefe de estado-maior do exército, Shaul Mofaz, atualmente o ministro dos transportes. Ehoud Olmert tampouco está disposto a entregar-lhe o cargo de mão beijada. Ao contrário. Ele vai tentar de tudo para forçar o fracasso desta concorrente que, diferentemente dele, não controla as engrenagens do partido. Aliás, esta é de fato a sua principal desvantagem.

Em contrapartida, esta advogada de profissão dispõe de um trunfo capital, além da vantagem que lhe confere a sua popularidade: a sua integridade. A "senhora Mãos Limpas" da política israelense, que nunca esteve envolvida em qualquer escândalo, de qualquer natureza que seja, passou a simbolizar o renascimento depois da seqüência de escândalos que atingiram a imagem de um bom número de dirigentes políticos do país no decorrer dos últimos anos.

Sem esperança de encontrarem qualquer defeito na sua couraça, os seus adversários e concorrentes vêm se esforçando para destacar o seu lado novato em política, assim como o seu percurso que eles julgam pouco expressivo. Mas, conforme explica Daniel Bensimon, um jornalista no diário "Haaretz", "ela tem como vantagem o fato de que aqui, em Israel, todos adoram a mudança; já, o seu ponto fraco vem de que o seu partido está com medo dela. Isso lembra um pouco o que aconteceu com Ségolène Royal [a candidata socialista à presidência da França nas últimas eleições, derrotada por Nicolas Sarkozy] antes da presidencial: enquanto muitos torciam por ela do lado de fora do seu partido, ela era contestada nas internas".

É verdade que Tzipi Livni, que em breve completará 50 anos, iniciou um pouco tardiamente a sua carreira política. Um fiel do Likud (partido da direita nacionalista), ela foi eleita pela primeira vez para a Knesset (o Parlamento) em maio de 1999. Oriunda de uma família de combatentes da Irgoun, uma organização ultranacionalista judaica que lançou mão de operações terroristas em sua luta contra os ingleses e os palestinos antes da fundação do Estado de Israel em 1948, Tzipi Livni foi criada dentro da tradição conservadora. Neste contexto, ela desenvolveu um gosto pelo segredo e uma vontade inabalável de participar dos combates do seu país, nos quais os seus pais, Sara e Eitan, se destacaram. Até hoje, ela conhece de cor e salteado os cantos de conquista e de sacrifício que constituíram a trilha sonora da sua infância.

Ao prestar uma homenagem à sua mãe, que falecera em outubro de 2007, ela saudou "esta guerreira que arrebatou todo mundo na sua esteira". Durante a sua juventude, ela também foi uma guerreira. Durante ao menos quatro anos, no começo dos anos 1980, ela atuou como agente do Mossad (serviços secretos israelenses) - oficialmente na qualidade de especialista jurídica - e teria participado da perseguição aos dirigentes da Organização de Liberação da Palestina (OLP), entre outros na Europa. Por razões evidentes, poucas informações filtraram daqueles anos de luta clandestina.

TRAJETÓRIA

1958: Nascimento em Tel-Aviv (Israel).

1980-1984: Agente do Mossad, uma das agências de inteligência israelenses.

1999: Eleita deputada na Knesset.

2001: Ministra da cooperação regional.

Março de 2006: Torna-se ministra das relações exteriores.

2007: Entrega, em maio, a sua demissão ao primeiro-ministro, Ehud Olmert.


Após ter retornado a uma vida mais tranqüila, ela conclui os seus estudos de direito que ela havia apenas começado, e torna-se então advogada, especializada em direito comercial. Foi muito naturalmente que ela se orientou rumo à política, com o objetivo de prosseguir o combate que havia sido empreendido pelos seus parentes e amigos, e por esta família política oriunda da Irgoun que se transformou no Likud. Mesmo se ela não pertence à mesma vertente política que Golda Meir (1898-1978), ela devota uma profunda admiração para com a única mulher israelense que foi ministra das relações exteriores e que se tornou posteriormente primeira-ministra. Uma trajetória que ela está firmemente decidida a seguir. O seu percurso político foi rápido, graças à proteção que lhe ofereceu Ariel Sharon (ex-primeiro-ministro, afastado desde 2006 da vida política por razões de saúde). Ela acompanhou sem pestanejar as guinadas políticas deste último em favor do desengajamento da Faixa de Gaza e da cisão do Likud que conduziu à fundação do partido Kadima.


Tzipi Livni sabe o que quer, e está decidida a fazer tudo o que for preciso para alcançar seus objetivos. Os observadores contam que em fevereiro de 2003, no afã de obter uma pasta ministerial que cobiçava, ela não hesitou a se antecipar à hora do compromisso que havia sido marcada com um dos candidatos rivais para tentar convencer os dirigentes de lhe atribuírem o ministério que na certa iria ser entregue ao seu concorrente. Após uma série de experiências no quadro do governo Sharon, ela obtém, finalmente, em março de 2006, o cargo ambicionado de ministra das relações exteriores, considerado como o trampolim natural para se pleitear a direção do governo.


Não é nem tanto por ser particularmente apressada que ela quer aceder ao mais alto patamar do governo, mas sim porque ela pensa que é preciso fazer com que as coisas avancem numa determinada direção. A qual vem a ser a criação de um Estado palestino, em relação à qual ela está convencida de que ela é uma necessidade, pois permitirá preservar o caráter judaico do Estado de Israel. Portanto, as suas idéias combinam perfeitamente com a sua atual função, à frente da equipe que está conduzindo as negociações com os palestinos. A sua cumplicidade com Condoleezza Rice, a secretária de Estado americana, lhe permite assentar a sua autoridade e aperfeiçoar a sua aprendizagem dos segredos da cena política internacional.


Todos os observadores haviam atribuído à sua inexperiência o fato de ela ter entregado a sua demissão a Ehoud Olmert, em maio de 2007, depois da publicação do relatório preliminar devastador da comissão Winograd sobre a guerra do Líbano do verão de 2006. Ela havia sido acusada de ter faltado com a coragem por não ter abandonado suas funções depois daquilo que lhe valera o apelido de "Tzipi the Knife" (Tzipi a Faca).


Alguns a criticam por ela estar até hoje profundamente ancorada à direita, sobretudo quando afirma que os palestinos de Israel não terão outra alternativa a não ser se calarem caso o Estado palestino for fundado; ou que "os palestinos só poderão celebrar a sua independência a partir do momento em que eles terão suprimido do seu vocabulário o termo Nakba (catástrofe)", que eles utilizam para se referirem ao confisco das suas terras e à sua expulsão das suas aldeias. Gideon Levy, do diário "Haaretz", nunca se furtou a condená-la com veemência em várias oportunidades, mas ele avalia, entretanto, que ela é "preferível" a todos os outros sucessores potenciais de Ehoud Olmert.


Na verdade, Tzipi Livni continua sendo um grande ponto de interrogação. "O país a ama porque ele sabe muito poucas coisas a seu respeito", ironiza Herb Keinon, do "Jerusalem Post". Discreta, secreta, sempre se recusando a falar dela e dos seus projetos, esta mulher de 50 anos ainda está por ser descoberta. Antes fria, séria, preferindo as coisas simples aos brilhos da vida social, ela preserva com unhas e dentes a sua vida privada.


Casada e mãe de dois filhos, ela é considerada como feminista, mas considera que a promoção deve basear-se nos méritos, e não no gênero. No ministério das relações exteriores, ela é considerada como uma boa profissional, um pouco distante demais, que, para se posicionar no papel de primeira-ministra, vai precisar se despir da sua armadura.


Tradução: Jean-Yves de Neufville

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