Guido Kleinhubbert, Der Spiegel, em 23/07/2008.
Os neonazistas alemães estão tentando intimidar políticos e ativistas de esquerda publicando seus nomes, fotografias e endereços em sites da Web, freqüentemente acompanhados de ameaças cada vez mais brutais. A polícia parece impotente para impedi-los.
Rainer Sauer, 51, político da cidade alemã de Bocholt, no Oeste, acostumou-se aos insultos e ameaças de morte que os neonazistas lançavam contra ele via Internet. Mensagens como: "Esperamos que alguém aniquile esse saco de lixo gordo".
Eventos recentes, contudo, o deixaram extremamente preocupado. Primeiro, as letras SS foram pintadas na porta de sua garagem; depois, cinco tiros foram disparados na frente da casa. Há poucos dias ele encontrou uma nota da "Brigada 35", em sua caixa de correspondência: "Nós vamos exterminá-lo", dizia.
O caso de Sauer é apenas um de muitos nos quais ataques verbais via Internet foram seguidos de ação. Os chamados de violência contra ativistas de esquerda, sindicalistas e jornalistas estão se tornando cada vez mais rudes nos cerca de 1.700 sites da extrema direita na Alemanha.
A estratégia de intimidação está se tornando "extraordinariamente agressiva e inflamatória", diz Manfred Murck, da filial de Hamburgo da agência de inteligência interna alemã, o Escritório de Proteção da Constituição.
Os oponentes dos neonazistas estão sendo expostos em sites que publicam suas fotos acompanhadas de detalhes biográficos e endereços.
Um membro regional do parlamento no Estado da Saxônia, Martin Dulig, foi informado em um fórum da Internet que logo seria visitado por "
Sites revelam endereços e fazem chamados à violência
Um juiz na cidade de Kiel, no Norte, que condenou um membro do Partido Nacional Democrático da extrema direita a pagar uma alta multa, foi atingido ainda mais fortemente. Neonazistas publicaram seu endereço em um site, revelaram quantos filhos tinha e afirmaram que alguns de seus leitores "adorariam a oportunidade de matar um juiz ou um promotor público no campo".
Um grupo de neonazistas da Bavária montou um dossiê online de quase 200 pessoas que moram em torno de Nuremberg, acompanhado de fotos tiradas secretamente em manifestações.
Neonazistas no Estado de Hesse publicaram mapas mostrando a localização de políticos de esquerda ou de membros dos grupos de cidadãos contra o nazismo. Alguns sites até publicam detalhes da vida amorosa de sua vítima ou insultam membros da família. Um site zomba da irmã de um ativista contra o neonazismo por passar suas férias freqüentemente na Turquia.
"Dá a impressão que os criadores (dos sites) têm espiões dentro dos ambientes de esquerda", disse Inigo Schmitt-Reinholtz, advogado especialista em casos contra neonazistas.
A sindicalista Ruth B., chamada de "mãe descuidada" em um site, diz que tem medo que "isso possa aumentar". Alguém pichou as palavras "Boa noite, lado esquerdo" em inglês na parede da casa dela em Furth, no Sul da Alemanha, e jogou tinta no carro dela, causando danos de 10.000 euros (cerca de R$ 25 mil). Um site de Nuremberg chamado "Anti-Antifa" (Antifa é abreviação de anti-fascistas) prontamente anunciou que ela tinha sido visitada por "anti-comunistas dedicados".
A polícia de Nuremberg está investigando um homem de 24 anos que tem uma vaga no conselho para "a Iniciativa dos Cidadãos de Deter Estrangeiros". O político local tirou fotos de participantes em manifestações contra o nazismo e é acusado de tê-las passado para os criadores de um site de extrema direita.
Sites são difíceis de remover
As tentativas de remover texto e fotos da Internet são virtualmente inúteis. Os sites de Nuremberg estão no servidor do negociante de itens nazistas Gary Lauck, que mora nos EUA, o que o coloca fora do alcance das autoridades alemãs. Esta é uma prática comum nos sites neonazistas. "Você não se pergunta por que temos um endereço .com em vez de .de?" diz um site no Estado da Renânia do Norte-Vestfália.
Então, autoridades alemãs têm que assistir passivamente enquanto ativistas de extrema direita atacam seus oponentes a partir de servidores no exterior.
Esses sites recebem ajuda indireta das autoridades alemãs, quando levam à Justiça ativistas de esquerda por mascararem o rosto em manifestações, algo que fazem precisamente para não serem fotografados por neonazistas.
Um rapaz de 24 anos de Erlangen, no Sul da Alemanha, recentemente foi condenado a pagar uma multa de 1.800 euros (em torno de R$ 4.500) por usar um lenço no rosto em uma manifestação, assim infringindo a lei que proíbe manifestantes de esconder seus rostos.
Ocasionalmente, a política até usa os esforços neonazistas. Durante um caso na justiça contra dois ativistas de esquerda de 20 anos de Nuremberg, um policial admitiu que havia usado em sua investigação informações obtidas no site "Anti-Antifa". Em sua própria defesa, o policial disse que a extrema direita era "bem organizada".
A declaração foi música aos ouvidos neonazistas. Eles proclamaram em seu site que afinal o "Anti-Antifa" e o Estado estavam lutando lado a lado contra os inimigos da Alemanha.
Tradução: Deborah Weinberg
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