Público (Portugal, p.17, 13/02/2009)
Resultados finais em Israel mantêm impasse e forçam Netanyahu a mediar conflito à direita
13.02.2009, Ana Fonseca Pereira
Partidos religiosos contra exigências feitas por Lieberman para dar o seu apoio a governo do Likud
Os resultados finais das legislativas israelitas, divulgados ontem, não alteram a relação de forças entre Kadima e Likud, separados apenas por um deputado, deitando por terra as últimas esperanças de uma rápida clarificação política. Os dois maiores partidos estão num frenesim de ofertas para conseguir a maioria no Parlamento e, apesar de levar vantagem, Benjamin Netanyahu terá de superar as profundas divergências que separam dois dos seus aliados naturais: a extrema-direita laica e os ultra-ortodoxos.
Depois de contados os votos por correspondência - de soldados, marinheiros, prisioneiros e diplomatas - o Kadima (centro) viu confirmados 28 mandatos, mais um do que o Likud (direita). Antes, admitia-se que o voto dos militares permitisse ao partido de Netanyahu igualar os centristas ou, em alternativa, favorecer o Yisrael Beiteinu (Israel nossa casa), do ultranacionalista Avigdor Lieberman, reforçando a legitimidade da direita para formar Governo.
No sistema eleitoral israelita, não é necessariamente o partido mais votado que chefia o Governo. Como o sistema depende da formação de coligações, cabe ao Presidente designar quem terá mais possibilidades de obter uma maioria mais estável.
Neste cenário, a aritmética favorece Netanyahu, uma vez que o bloco da direita agrega 65 deputados, enquanto o Kadima e os seus aliados mais prováveis não ultrapassam os 55. Estas contas estão, no entanto, dependentes da decisão final de Lieberman, um político em ascensão em Israel, que transformou o seu partido na terceira maior força política do país, e cujo apoio é agora disputado pelos dois maiores partidos.
Lieberman é a chave
O diário Ha'aretz noticiou que Netanyahu ofereceu a pasta das Finanças a Lieberman para o incentivar a participar num Governo seu, enquanto o Jerusalem Post admitia que ele poderia estar interessado na estratégica pasta da Defesa. Mas as reivindicações do Beiteinu vão mais longe - o partido quer permitir uniões civis a casais que não possam juntar-se num casamento judaico e facilitar as conversões religiosas - e aqui começam as complicações para Netanyahu.
Os ultra-ortodoxos do Shas e do Judaísmo Unido da Torah, aliados naturais do Likud, recusam qualquer alteração à identidade judaica do Estado israelita. Apesar de Eli Yishai, líder do Shas, admitir participar num governo que também integre Lieberman - "já se viram coligações mais extremas", disse -, as duas formações religiosas estão a coordenar posições para contrapor a influência da extrema-direita. Para ultrapassar as divergências, Netanyahu nomeou Yaakov Neeman, antigo ministro da Justiça com experiência na arbitragem de questões religiosas e legais, como líder da sua equipa de negociadores.
Contudo, os analistas avisam que Lieberman não desistirá das suas reivindicações e está preparado para apoiar o Kadima (a imprensa garantia ontem que Tzipi Livni lhe prometeu apoio nas questões religiosas), ainda que algumas das suas posições sejam incomportáveis para os centristas.
Livni, entretanto, ainda não desistiu de formar governo, apesar de responsáveis do Kadima admitirem em privado que o partido ganhou a batalha das eleições mas perdeu a guerra. Se falhar (o que é o mais provável), terá de decidir se passa à oposição ou entra no Governo.
Netanyahu, que quer uma ampla coligação "a bem da unidade nacional", está disponível para manter Livni na chefia da diplomacia. Porém, o actual ministro do Interior, Meir Sheerit, disse que o Kadima só admite integrar "um Governo Netanyahu se este não for de extrema-direita", preferindo ficar na oposição do que juntar-se a uma coligação deste género "apenas para ser a sua voz moderada". com Maria João Guimarães
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13/02/2009
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