JB (02/03/2009)
FSP (02/03/2009)
UOL Internacional / Mídia Global
Prospect (02/03/2009): O povo fantasma de Israel
Prospect (02/03/2009): O povo fantasma de Israel
Adam Lebor
Longe da guerra em Gaza, outra história está se desenrolando em Israel. A minoria árabe do país está se tornando cada vez mais radical.
Dezenas de milhares de cidadãos árabes tomaram as ruas de Sakhnin, no norte de Israel, em janeiro para protestar contra a invasão militar israelense na faixa de Gaza. Alguns ativistas árabes dizem que foi o maior protesto do tipo desde 1948, ano em que Israel declarou independência e que é chamado pelos palestinos de "al Nakba", ou "a catástrofe".
Durante as primeiras décadas de existência de Israel, a minoria árabe ficou inativa, intimidada pelo Shin Bet, o serviço de segurança interna, e pela experiência de viver sob o poder militar, que em algumas áreas durou até os anos 60. Eles eram chamados de "árabes israelenses". Nada mais. Cerca de 20% da população de 7,3 milhões de Israel é árabe, que cada vez mais chamam a si mesmos de "cidadãos palestinos de Israel".
Os protestos de Sakhnin representam o último estágio de uma confiança cívica em evolução que usa a liberdade da democracia israelense para articular uma identidade nacional palestina dentro das fronteiras de Israel.
Para os que fugiram em 1948, os árabes que ficaram colaboram com Israel: eles falam hebraico, pagam impostos e são cidadãos israelenses. Eles também são motivo de inveja: apesar da relativa pobreza entre os árabes israelenses, eles têm oportunidades econômicas e educacionais muito melhores do que os que vivem na Cisjordânia ou Gaza.
Os árabes israelenses argumentam, ao contrário, que eles são os guardiões verdadeiros da nacionalidade palestina. Afinal, eles ficaram. Mas poucos recebem bem a idéia de mudar para um Estado palestino de existência real. Não é difícil ver o motivo - comparados aos seus semelhantes étnicos do resto do Oriente Médio, os árabes em Israel estão prosperando. Há uma classe média árabe emergente, que consiste de empresários e advogados, diplomatas e juízes, militares e artistas.
Israel tem até mesmo seu primeiro ministro de gabinete árabe-muçulmano, Raleb Majadele, encarregado de ciência, cultura e esportes para o Partido Trabalhista de Ehud Barak.
Apesar do sucesso, Majadele incorpora a desconexão e o paradoxo da vida da minoria nativa no Estado judeu. Ele insultou a direita israelense ao dizer para o jornal Yediot Aharonot que fica em posição de sentido ao ouvir o "Hatikvah", hino nacional do país, mas que não o canta.
"Hatikvah", que significa "esperança", é um poema musical vivaz que celebra a "alma judaica". Majadele e seus compatriotas árabes em Israel não são judeus. E esse paradoxo, de não ser judeu em um Estado judaico, inevitavelmente os confere uma posição de segunda classe.
Ainda existem profundas disparidades entre os judeus e os árabes israelenses - em termos de emprego, saúde, bem-estar social e educação. É quase impossível para os árabes comprar terra do Estado, e as taxas de mortalidade infantil são mais altas do que as dos judeus.
Oito por cento de todos os empregos de serviço civil devem ser dados para árabes, mas apenas um pequeno número é empregado pelo Estado. Não havia nenhum árabe trabalhando no Banco de Israel até o final do ano passado, observou um parlamentar, lamentando a discriminação "deliberada e intolerável".
"Foi criado um ciclo em que, por um lado, a população árabe não sabe como estabelecer um sistema de gerenciamento apropriado e, por outro, os governos negaram a eles o direito de melhorar sua qualidade de vida". Quem disse isso? O primeiro-ministro Ehud Olmert.
Tem havido um aumento paulatino na animosidade mútua entre os nacionalistas árabes e os israelenses de direita nos últimos anos. A decisão recente do Knesset de proibir os partidos árabe-israelenses Balad e União Árabe List-Ta'al de concorrer na próxima eleição geral aumentou mais ainda a segregação árabe. A decisão foi aprovada pelos 37 membros do comitê eleitoral central.
Os membros acusaram os dois partidos, que juntos têm sete cadeiras no Knesset, de incitar e apoiar o terrorismo e recusar-se a reconhecer o direito de existir de Israel. Mas a maioria dos observadores acredita que o Tribunal Superior invalide a decisão do comitê.
Nos últimos anos, muitos intelectuais palestinos e organizações não-governamentais também pediram para que Israel se torne um "Estado de todos os seus cidadãos". Algumas reivindicações fazem paralelo com a luta antiapartheid e argumentam que um estado palestino viável não é mais possível, e que os territórios palestinos e Israel deveriam se fundir em um só país com direitos iguais para todos os cidadãos. Essas demandas são irrealistas e contraprodutivas.
Elas provocaram a ira da direita e a consternação da esquerda israelense, que dá mais apoio à causa árabe. Para a esquerda e o centro israelenses, as injustiças sofridas pelos árabes-israelenses, desde a tomada da posse até a falta de funcionários árabes no Banco Nacional Israelense, são problemas de direitos civis que podem ser resolvidos.
Mas a elite árabe de Israel tem uma nova visão - e suas propostas são uma ameaça para a existência de Israel. As mudanças que eles pedem alterariam tanto a base de Israel que o Estado, de fato, não existiria mais. Seu nome seria mudado; o hino e a bandeira seriam abolidos, assim como a lei do retorno que fornece cidadania automática a judeus de todo o mundo.
Existiria um veto árabe em relação à legislação que afeta a comunidade árabe ou as relações entre árabes e judeus. Como esse Estado binacional ou multicultural funcionaria na prática e lidaria com a política econômica, fronteiras, defesa e relações exteriores ainda não foi explicado.
Ainda assim, alguém precisa encontrar uma solução de consenso, porque a irritação árabe já explodiu em violência repetidas vezes. Em outubro de 2000, motins tomaram conta das cidades e vilarejos árabes depois que Ariel Sharon, o então primeiro-ministro israelense, saiu para caminhar no Monte do Templo em Jerusalém.
Treze cidadãos árabe-isralenses foram assassinados a tiros pela polícia, que fizeram batidas contra os manifestantes desarmados. Uma comissão de inquérito determinou que os policiais tinham agido em defesa própria. Nenhum foi indiciado. Para muitos árabes, o veredicto foi a confirmação de seu status de cidadãos de segunda-classe; eles são cidadãos de um Estado que pode matá-los e permanecer impune.
Talvez a ficção possa lidar melhor com os paradoxos da vida de um cidadão árabe em Israel. Sayed Kashua é colunista árabe-israelense do jornal diário Ha'aretz e escritor premiado, que escreve em hebraico.
Seu livro "Let it Be Morning" se passa num vilarejo árabe-israelense que é repentinamente cercado por tanques israelenses. Os telefones são cortados, as ruas bloqueadas. Ninguém sabe por quê. O vilarejo se volta para os trabalhadores palestinos convidados. Eles são desnudados e forçados a ir em direção das linhas israelenses. Vários são mortos a tiros.
O fornecimento de água e comida começa a escassear. Então o motivo do cerco é revelado: Israel e Palestina assinaram um acordo de paz, e o vilarejo deve ser cedido para a Palestina numa troca de territórios. Mesmo assim, as notícias não trazem alegria, mas horror; os moradores acusam os judeus de traí-los. E isso não é um exagero - uma pesquisa feita em 2008 mostrava que 77% dos árabes-israelenses preferiam viver no Estado judeu a viver em qualquer outro lugar.
Adam LeBor é escritor e jornalista
Estadão (02/03/2009)
- ''O Hamas é incompatível com a paz'' (sugestão comparar a entrevista publicada no jornal O Globo, em 02/03/2009)
O Globo – Mundo, página 21 (02/03/2009)
'O Hamas é incompatível com a paz'
Premier designado de Israel diz que vai priorizar relações econômicas em vez de políticas com palestinos
ENTREVISTA Benjamin Netanyahu
JERUSALÉM. O premier designado de Israel, o direitista Benjamin Netanyahu, não vê qualquer forma de conciliação entre Israel e o Hamas. Para ele, o grupo que controla a Faixa de Gaza é incompatível com a paz, e os palestinos precisam encontrar uma forma de mudar o regime. Para a Cisjordânia, Netanyahu defende um projeto de desenvolvimento econômico.
Lally Weymouth Do Washington Post
O presidente Shimon Peres afirmou que o senhor amadureceu desde que foi primeiro-ministro, em 1996.
BENJAMIN NETANYAHU: É o que eu espero. Penso que o tempo tem as suas vantagens. Uma delas é a capacidade de se refletir sobre nossas experiências e as dos outros. Observei cuidadosamente os êxitos de governos passados e procuro agora usar esses êxitos em novas experiências que permitam um futuro promissor para Israel. Proponho um novo caminho, no qual acredito poder implementar o progresso: continuar conversações políticas e ao mesmo tempo promover o desenvolvimento econômico, fundamen tal também na questão palestina.
Eu pessoalmente pretendo comandar uma comissão governamental que tratará das necessidades econômicas da Cisjordânia.
Mas o progresso econômico não substitui a negociação política...
NETANYAHU: Não substitui, mas na Irlanda do Norte foi um elemento facilitador para se chegar a um acordo de paz eficaz.
Outros exemplos nesse sentido também provam isso.
Então, o senhor acha que pode promover progresso econômico e acordo político ao mesmo tempo? Seria uma forma de mostrar a real diferença entre a Cisjordânia e Gaza?
NETANYAHU: A diferença já está sendo mostrada. No conflito recente, a Cisjordânia não entrou em convulsão.
A população de lá se preocupou com a perda de vidas em Gaza, mas eles disseram: “Não queremos ir por aquele caminho, estamos no caminho do desenvolvimento econômico e não queremos um regime fundamentalista islâmico.” Eles gostariam de ter uma sociedade com lei e com ordem.
O que o senhor responde quando é questionado se acredita em uma solução de dois Estados, delineada por George W. Bush em 2002?
NETANYAHU: Penso que há um amplo consenso, dentro e fora de Israel, que os palestinos devem ter a capacidade de governar as suas vidas, mas sem ameaçar as nossas.
O senhor não disse recentemente que a operação israelense em Gaza não foi longe o suficiente e que o Hamas deve ser destruído?
NETANYAHU: O Hamas é incompatível com a paz.
Então, o que o senhor vai fazer em relação a eles?
NETANYAHU: Espero que os palestinos em Gaza encontrem uma forma de modificar este regime, porque queremos alcançar a paz como todos os palestinos querem. No momento, o que devemos fazer é permitir que a ajuda humanitária entre em Gaza, mas não de tal modo que possibilite ao Hamas comprar mais foguetes.
Que tipo de sinal o senhor acha que é dado quando o senador John Kerr y vai a Gaza, leva de volta uma carta do Hamas ao presidente Barack Obama e procura diálogo com o governo sírio?
NETANYAHU: A Síria tem falado de paz ultimamente, mas permitiu que o Hezbollah se armasse com milhares de foguetes, descumprindo uma resolução do Conselho de Segurança da ONU. Desde a segunda guerra com o Líbano, eles (o governo sírio) têm abrigado Khaled Meshal (líder do Hamas) e outros terroristas e cooperado estreitamente com o Irã contra o interesse da paz regional.
O senhor acredita que uma ação militar possa interromper o programa nuclear iraniano?
NETANYAHU: O Irã está consideravelmente mais frágil do que estava há seis meses, por causa da crise econômica mundial e da queda acentuada no preço do petróleo. Este regime é vulnerável por causa das questões econômicas, que devem ficar ainda piores em um futuro próximo, e não sei se vai aguentar as pressões por muito mais tempo. Mas nenhuma dessas sanções impostas pelo Conselho de Segurança da ONU e pela comunidade internacional, além de outras medidas, terá efeito considerável se os iranianos acreditarem que a opção de um ataque militar estiver fora de cogitação.
IHU (02/03/2009)
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