FSP (01/03/2009)
- Israel vê aparecer movimento de recusa ao serviço militar
- ONG quer incluir ortodoxos nas Forças Armadas
- Exigência de Abbas tumultua processo de união com Hamas
Israel vê aparecer movimento de recusa ao serviço militar
Minoritários, "desertores" marcam mudança na relação de israelenses com a farda, antes um fator de unidade nacional
Grupo de estudantes secundaristas alegou razões morais para não participar de ataque a Gaza; 40 mil se manifestaram em apoio
DA SUCURSAL DO RIO
Se a operação do Exército de Israel em Gaza em janeiro obteve amplo apoio dos israelenses, uma parcela dos jovens mostra descontentamento com a política do país para os territórios palestinos. Uma evidência é o surgimento de movimentos como o dos "Shministim" (estudantes secundaristas), que se recusam a cumprir o serviço militar alegando objeção de consciência.
No front oposto, há movimentos que defendem que o fardo recaia igualmente sobre os ombros de todos os cidadãos israelenses.
O movimento dos desertores foi lançado 2008, com site na internet e vídeos no YouTube. Em um manifesto com cem assinaturas, os jovens alegam razões morais para não participar das ações militares. Sem obter dispensa do alistamento -o serviço militar é obrigatório no país- dez deles vinham sendo submetidos a uma rotina de prisões por entre 21 e 28 dias alternadas com dois dias de liberdade. Com a incursão em Gaza, o movimento já contabiliza mais de 40 mil cartas de apoio.
"Nossa recusa é acima de tudo um protesto contra a política de separação, controle, opressão e assassinatos do Estado de Israel nos territórios ocupados", afirma o texto.
A iniciativa dos desertores divide opiniões. Em Israel, o serviço militar é compulsório para ambos os sexos após o ensino médio. Segundo a antropóloga Marta Topel, do programa de pós-graduação em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas da USP, quem não serve ao Exército é malvisto por segmentos da sociedade civil, que consideram a atitude "comodista e egoísta".
"Milhares de pessoas arriscam a vida para defender o Estado das ameaças que o assolam e protelam seus estudos ou a entrada no mercado de trabalho em três ou mais anos", diz.
Apesar de obrigatório, o recrutamento militar dispensou em 2007 e 2008 cerca de 34% dos jovens em idade de servir. Além dos que vivem fora do país e judeus ortodoxos (isentos da obrigação), são liberadas pessoas com antecedentes criminais ou problemas médicos ou psicológicos.
Em sua declaração de princípios, o movimento pró-militar Fórum Israelense para Promoção da Divisão Igual do Dever reclama da "grande desigualdade da divisão do serviço militar", à qual atribui como causas as grandes dispensas e a "falta de vergonha" dos que se recusam a servir.
Segundo Topel, da fundação do país, em 1948, até a primeira guerra do Líbano, em
"Os desertores não contestavam as ações nas fronteiras de Israel com os países vizinhos, mas se recusaram a servir nos outrora territórios ocupados e se confrontarem com a população civil", diz a antropóloga.
ONG quer incluir ortodoxos nas Forças Armadas
DA SUCURSAL DO RIO
Ter um Exército forte é questão de sobrevivência, diz Danna Halpern, do Fórum Israelense para Promoção da Divisão Igual do Dever. A ONG luta pela redução dos casos previstos em lei que permitem dispensa do serviço militar.
Um dos principais alvos são os judeus ortodoxos. "Nós mandamos nossos filhos para servir, e eles, não.
Acabam sendo um peso para a sociedade."
A ativista qualifica os "Shministim" como "um grupo pequeno que faz muito barulho". "Eles poderiam achar no Exército mil outras coisas para fazer sem ter que participar de ocupações", diz.
FSP online
Estadão
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Marcos Guterman (01/03/2009): PT, Israel e o ultraje seletivo
No mês passado, a PUC do Rio assinou um convênio com a Universidade de Tel Aviv para um intercâmbio de alunos. Na opinião de Valter Pomar, secretário de relações exteriores do PT, foi uma decisão equivocada. “Não é época para um acordo desse tipo”, disse Pomar ao jornal israelense Haaretz. Para ele, “seria apropriado aplicar ao governo de Israel o mesmo tratamento dado ao governo da África do Sul durante o apartheid”, isto é, o boicote.
Pomar deixou claro que falava em seu nome, e não em nome do PT – provavelmente porque, na última vez em que falou em nome do partido para esculhambar os israelenses, comparando-os aos nazistas, foi devidamente desautorizado por petistas proeminentes, como Paul Singer, Marta Suplicy e Tarso Genro.
A idéia de Pomar não é nova. Vários movimentos de esquerda em todo o mundo defendem o boicote a Israel, supostamente em nome dos direitos dos palestinos, ao mesmo tempo em que se solidarizam com regimes despóticos que reprimem minorias e oposicionistas em geral.
Um exemplo é o Irã. Presidido por Mahmoud Ahmadinejad, chefe de governo convidado a visitar o Brasil pelo presidente Lula (que é do partido de Pomar), o Irã condena homossexuais à morte, adúlteros a apedrejamento e minorias religiosas à prisão. Conforme diz a Anistia Internacional, 30 anos depois da Revolução Islâmica a violação dos direitos humanos persiste no Irã. Nem por isso, Valter Pomar pediu boicote aos iranianos.
Outro exemplo é a Síria. Feroz ditadura desde 1970, que não tem problemas em mandar assassinar adversários no Líbano, o governo sírio tem sido cortejado pelo presidente Lula (que é do partido de Valter Pomar). Segundo a Anistia Internacional, a Síria é pródiga em perseguição, tortura e execução de presos políticos: “Ser um politico ou ativista de direitos humanos na Síria requer coragem – o governo é intolerante com a dissidência”. Não há registro de que Valter Pomar tenha feito alguma uma campanha de boicote contra a Síria.
Podemos falar também de Cuba. O regime cubano, como sabe todo aquele que foi razoavelmente alfabetizado, há 50 anos promove repressão a dissidentes, tortura de presos e autoritarismo explícito. Diz sua Constituição, em pleno vigor, que “nenhuma das liberdades reconhecidas para os cidadãos pode ser exercida se contrariar a existência e os objetivos do Estado socialista, ou se contrariar a decisão do povo cubano de construir o socialismo e o comunismo; violações a este princípio podem ser punidas pela lei”.
Apesar disso, o presidente Lula (que é do partido de Valter Pomar) classificou o ex-ditador Fidel Castro de “único mito vivo da história da humanidade”, e não se tem notícia de que Pomar tenha tentado promover algum boicote contra Cuba. Pelo contrário: na mesma ocasião em que fez a apologia do comandante, o presidente Lula (que é do mesmo partido de Pomar) disse: “Respeito muito que cada povo decida seu regime político – esse negócio da gente ficar aqui no Brasil dizendo que bom é assim, bom é assado – vamos deixar que os cubanos cuidem do que eles querem na política”. Então estamos combinados: o que o governo cubano faz em relação a seus projetos tirânicos de poder é problema dos cubanos; já o que o governo israelense faz em relação a sua segurança é problema dos petistas.
Nada disso exime Israel de críticas. Muito pelo contrário. Israel merece ser criticado duramente pelo que faz com os palestinos – recentemente, por motivos que só um burocrata insano é capaz de explicar, os israelenses vetaram a entrada de um carregamento de macarrão em Gaza. Isso mesmo, macarrão. Como ironizou um congressista americano que estava em Gaza na ocasião: “Alguém já tentou matar você com um pedaço de macarrão?”.
No entanto, promover boicotes a Israel, e apenas a Israel, enquanto se faz vista grossa às violações cometidas pelos “companheiros” em outros países, é mais do que ignorância. É anti-semitismo mesmo.
IHU (01/03/2009)
JB (01/03/2009)
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