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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sábado, 25 de abril de 2009

Ahmadinejad com fritas: Convidaram, agora vão ter que engolir

O Globo, Segundo Caderno – Arnaldo Bloch, pág. 10, em 25/04/2009.


Ahmadinejad com fritas

Convidaram, agora vão ter que engolir


Arnaldo Bloch

Quando convidou para vir ao Brasil o homem que nega o Holocausto, pune homossexuais com a morte, prende crianças, persegue etnias curdas, azerbaijanis e turcas, oprime cristãos, evangélicos, bahais, chicoteia mulheres — a diplomacia brasileira, pródiga em calarse diante de atrocidades (alô alô, Darfur) deve ter pensado que fazia um gol de placa em sua meta fundamental desde 2003: conseguir uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. É que o novo profeta do apocalipse carrega consigo uma penca de votos valiosos dentre as nações onde impera o fundamentalismo islâmico. De quebra, na trilha do unilateralismo pregado por Obama, receber o presidente iraniano seria uma oportunidade de alinhamento global, e um combustível a mais nos planos do presidente Lula de desempenhar, futuramente, um papel importante nas negociações pela paz no Oriente Médio.


Mas eis que, às vésperas da etapa brasileira da turnê de Ahmadinejad, o mesmo vai ao microfone da ONU e, ao reafirmar sua bravata negacionista e incendiária, cria, para seus anfitriões brasileiros, um abacaxi. Não que as ideias de Ahmadinejad não encontrem eco no seio políticopartidário local, sobretudo num importante núcleo da amálgama petista (felizmente, combatido por ilustres correligionários comprometidos com a razão).


Sabe-se que o último discurso de Ahmadinejad não interromperá a cruzada diplomática norte-americana, em busca do apoio do Irã no Afeganistão. Sabe-se, igualmente, que se o recém-empossado primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, não afirmar em breve compromisso com a solução de dois estados para o conflito na região — apoiada por todos os israelenses e judeus de bom senso — a plataforma de Ahmadinejad sairá fortalecida até que ele e Bibi caminhem juntos para a guerra e a era Obama comece, prematuramente, a minguar. Tudo isso são peças no difícil xadrez da geopolítica atual.


Não fosse carreada por interesses escamoteados, não haveria, contudo, esse entusiasmo todo, essa sensualidade, essa pressa pela presença nefasta de Ahmadinejad no Brasil.


Por que não convidar um Dalai Lama, cuja fuga e exílio fizeram 50 anos recentemente? Não. A presença iluminada de Dalai criaria sérios constrangimentos na relação do Brasil com a China, que anda ameaçando, mundo afora, com represálias comerciais, as nações que confraternizarem com o líder tibetano.


Se não são os votos para o Conselho, o que traz Ahmadinejad ao Brasil? Alguém acredita que sua visita transcorrerá num clima de congraçamento, de visões progressistas de futuro, de grandes acordos de cooperação comercial e cultural? Como ficará o tema dos Direitos Humanos, sendo o Irã um dos países mais alvejados pela Anistia Internacional? Alguém acredita que sua visita escapará de se transformar num circo midiático, que o líder iraniano aproveitará a seu bel-prazer para disseminar ódio, atrair simpatias desinformadas, dar munição ao radicalismo, encher o saco de farinha onde se misturam, indiscriminadamente, causas sociais legítimas com o crèmede-la-crème do obscurantismo, no tempo em que a História perde sentido e reina uma grande maçaroca pós-ideológica? Lula, que nem aceita rediscutir a visita, promete dar um pito no colega. Deixar clara sua discordância. Se isso de fato ocorrer, terá que abrir espaço para o contradito, ou seja, mais lenha na fogueira do discurso do confronto.


Quem terá a palavra final? O anfitrião ou o visitante linguarudo, que nada tem a perder? Ao não se retirar do plenário da conferência em Genebra, o ministro Edson Santos intentava não contribuir com a polarização das discussões e não ajudar o presidente iraniano em sua busca por chamar a atenção.


Este discurso naïf (independentemente da postura das delegações, a fala de Ahmadinejad seria a escolhida da mídia para figurar nas manchetes) sempre se confunde com o ceticismo dos que viam nas primeiras arruaças nacional-socialistas a ação de palhaços narcisistas que em nada ameaçavam a solidez dos princípios morais do estado alemão.


Uma vez que a retórica de Ahmadinejad — num foro mundial que, felizmente, ao contrário do que vige no Irã, não oprime o direito à expressão livre de ideias — soou e soará, a retirada de representantes ao menos contrapôs à infâmia uma postura, um outro falar, mesmo que óbvio, mesmo que repisado, mas necessário. Nessas horas, a herança do Émile Zola de “J ’accuse” é honrada e renovada.


Agora, com a visita de Ahmadinejad, as autoridades pátrias terão a chance de, querendo ou não, promover a maior polarização possível e ajudá-lo a chamar o máximo de atenção.


De resto, é esperar passar esta etapa dolorosa para os descendentes brasileiros de vítimas do Holocausto e para todos os que amam a razão. Por outro lado, que o novo governo israelense rompa o isolacionismo e se una às nações que rejeitam Ahmadinejad: um estado Palestino é o único caminho para a paz e a paz é, de fato, a meta. Só assim o isolamento do líder iraniano será cristalizado.


FSP (25/04/2009)

ONU ataca boicote e vê ganhos em conferência


Alta comissária diz que reunião contra racismo virou alvo de desinformação


Para Navi Pillay, documento final avança na proteção aos imigrantes e trabalhadores; EUA, Israel e mais oito países boicotaram encontro


MARCELO NINIO

DE GENEBRA


Após uma semana conturbada, marcada pela indignação causada pela intervenção do Irã, a Conferência contra o Racismo da ONU terminou com duras críticas aos países que boicotaram o encontro. Apesar da polêmica, a maioria acha que o consenso obtido em torno do documento final evitou que a política sequestrasse a agenda.


Ao fazer um balanço da conferência, a alta comissária de direitos humanos da ONU, Navi Pillay, disse que enfrentou uma "campanha de desinformação altamente organizada", para esvaziar o encontro.


Mas destacou que o documento aprovado tem avanços importantes, como a preocupação com os imigrantes e a discriminação no trabalho.


Ativistas brasileiros e estrangeiros concordaram que o texto poderia ter ido mais longe, como na questão das reparações pela escravidão e os direitos a orientação sexual, mas que é uma conquista.


O encontro de cinco dias em Genebra foi uma revisão da Conferência de Durban (África do Sul), de 2001, quando o conflito no Oriente Médio e os ataques a Israel dominaram as discussões. Em protesto, Israel e os EUA se retiraram.


Boicote
Desta vez os dois países optaram pelo boicote, sendo acompanhados de outros oito: Canadá, Alemanha, Itália, Holanda, República Tcheca, Polônia, Nova Zelândia e Austrália. O argumento foi que o documento de 2009 "reafirma" o de 2001, o qual não apoiaram por singularizar Israel.


Pillay disse que foram eliminadas as referências ao Oriente Médio no texto para evitar uma reedição de Durban, mas isso não deteve a resistência de alguns países. "Muitos chamaram o processo inteiro de Durban de festa do ódio", disse a comissária. "Tivemos alguns momentos difíceis no processo, mas festa do ódio? Desculpe, mas é uma hipérbole."


A comissária considerou "bizarro" o comportamento de alguns dos países que boicotaram a conferência, pois dois dias antes haviam aceitado o texto.


A referência é aos europeus, que participaram da negociação do texto. "Eles terão que se explicar com os outros países", disse Pillay.


Irã
Ela foi mais comedida nas críticas ao Irã, dizendo apenas que mantém a posição expressa após o agressivo discurso anti-Israel do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, na abertura da conferência. Num comunicado, Pillay considerou a intervenção "completamente inadequada".


Julie de Rivero, da Human Rights Watch, acha que o saldo é positivo. "A declaração põe a liberdade de expressão no centro da luta contra o racismo, condena o antissemitismo e toca em assuntos tabus em 2001, como os imigrants ilegais", diz.


Outros lamentaram que a polêmica em torno de Ahmadinejad tenha roubado o show. "É como no Brasil: o debate sobre o racismo é sempre desviado para outros assuntos", disse Ronaldo dos Santos, do movimento quilombola.



FSP online (25/04/2009)


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