O Globo, Mundo, página 26, em 11/02/2009.
Partidos árabes sofrem com a indiferença dos eleitores
Negociador palestino não vê condições para retomada de processo de paz e Hamas prevê novo ciclo de violência
Renata Malkes
Especial O GLOBO • JERUSALÉM
JERUSALÉM. Se o índice geral de comparecimento às urnas surpreendeu até os mais pessimistas, nas aldeias e cidades árabes de Israel os líderes locais tiveram dificuldade em convencer os eleitores a votar.
As projeções, no entanto, mostram que a representação árabe deve ser mantida. As parciais indicam o partido Raam-Taal com quatro cadeiras, assim como o Hadash. O Balad, mais tradicional legenda árabe do país, deve conquistar duas cadeiras. Preocupado com o bloco direitista e o duro golpe sofrido pela esquerda, o deputado judeu Dov Hanin, uma das estrelas do partido comunista Hadash, formado por árabes e judeus, defendeu a criação de uma nova esquerda em Israel: — É fundamental uma nova esquerda, uma alternativa à linguagem da força, da segregação nacional e do capitalismo selvagem.
Nas cidades árabes do norte do país e nas aldeias beduínas do Deserto do Neguev, o mau tempo foi só mais um motivo para que os moradores não votassem.
— Precisamos fazer um exame de consciência, sobretudo os judeus. Como puderam permitir o crescimento de gente como Lieberman? — disse o deputado Ahmad Tibi, do Raam-Taal.
A imprensa palestina acompanhou com interesse. Mas, em Ramallah, TVs que transmitiam a eleição em bares e restaurantes esbarraram na indiferença dos clientes. Para a jornalista Diala Ghassan, cansados, os palestinos preferem não interferir. Ela adverte que o fenômeno do endurecimento, previsto pelas pesquisas em Israel, está em curso também na Cisjordânia: — As pessoas estão cansadas das negociações estagnadas e das decepções com os grandes partidos de Israel.
A última pesquisa de opinião mostra que só aqui, na Cisjordânia, o Hamas já teria 28,6% da preferência do eleitorado, contra 27,9% do Fatah. Temo cada vez mais pelo futuro.
Procurado pelo GLOBO, o portavoz da Autoridade Nacional Palestina, Nabil Abu Rudeina, afirmou que a ANP está disposta a negociar com qualquer governo de Israel. Mas o principal negociador palestino, Saeb Erekat, afirmou que nenhum futuro governo terá condições de retomar o processo de paz. Em Gaza, moradores do devastado território parecem não se importar com o resultado, dizendo que a vida não vai melhorar com o novo governo israelense.
— Todos os partidos israelenses têm o racismo em sua base. Tudo mostra que a sociedade israelense está mais extremista e sonha em expulsar os árabes de sua terra natal.
O resultado será mais um ciclo de violência tanto em Gaza como na Cisjordânia — declarou um dos porta vozes do Hamas , Is mail Radwan.(R.M.)
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