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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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sábado, 23 de janeiro de 2010

Funk carioca em Israel

Os artigos sobre Estudos Judaicos e Israel sempre atualizados você encontra aqui.



Destaque

  • Em Cima da Hora (22/01/2010): Obama não consegue avanços no Oriente Médio: O enviado especial dos EUA ao Oriente Médio voltou a se encontrar com a liderança palestina, na tentativa de conseguir um avanço nas negociações de paz com Israel.


O Globo (23/01/2010)

Caderno Prosa e Verso, página 6


André de Leones


Aluz não é das melhores, mas é possível ver o que está à frente e ao redor sem muitos problemas.


No palco, o cantor, duas dançarinas e o DJ com a parafernália de praxe. A galera dançando ao ritmo do funk carioca pode dar a impressão de que estamos na Cidade de Deus ou no Andaraí, mas não é o caso.


Estamos no Rich Bar, em Tel Aviv. Na plateia, brasileiros residentes ou de passagem pelo país cantam todas as músicas, coisa que não intimida os nativos e outros presentes no local. Pelo contrário: graças à música, a pequena Babel improvisada acaba por se tornar uma mesma e única festa, como se todos ali farreassem juntos há tempos. Alguém poderia argumentar que se trata de uma característica da noite de Tel Aviv, cidade que, juntamente com a libanesa Beirute, é a mais cosmopolita do Oriente Médio, um ambiente secular se comparado ao de Jerusalém.


Mas isso não importa. À medida que cantor, DJ e dançarinas incendeiam o lugar com uma sucessão de hits reconhecíveis mesmo por aqueles que não curtem a batida, a impressão de estarmos em um autêntico baile funk no coração da noite carioca é inescapável.


Majestoso, gorducho, quem está no centro do palco fazendo o seu terceiro show naquela noite é o MC Sapinho de Israel. Careca coberta por um boné, camiseta larga e calça jeans, enfileira frases e versos em português e hebraico. Está em seu elemento. O público percebe e canta com ele versos como: “Na minha casa/ O mal não vai entrar/ Tem a Bíblia e o Alcorão/ E na porta o Mezuzá”. Todos ali parecem concordar alegremente que “O bonde mais sinistro/ É Jerusa e Nazaré”. Assim, MC Sapinho segue, em suas palavras, “introduzindo a cultura do funk” na pátria de Amós Oz e Shimon Peres. É provável que estes não saibam ou venham a saber do que é que se trata, mas, a julgar pelo número crescente de shows, não é loucura imaginar que os israelenses em geral logo estarão familiarizados com o ritmo engendrado na periferia do Rio de Janeiro.


Do Rio ao Oriente Médio, do kibutz à artilharia antiaérea

MC Sapinho de Israel é Sandro Korn, um carioca de 29 anos, caçula de quatro irmãos. O pai, dono de construtora, proporcionou uma vida confortável à família, até sofrer um derrame em 1996. A situação se complicou. Três anos depois, o filho mais velho, Cláudio, fez a aliyah (palavra hebraica que significa, literalmente, “subida” e designa o processo pelo qual judeus de outros países emigram para Israel). Em 2000, foi a vez de Sandro tentar a sorte em Israel.


Marcelo viria em 2005. Dos irmãos, o único que ficou no Brasil foi Osias, que continua no Rio de Janeiro e ganha a vida comercializando carros. Todos os quatro são flamenguistas.


Apesar da vida a princípio difícil de ole hadash (imigrantes), eles se estabeleceram bem. Hoje, Claudio trabalha no setor de compras da Danya Cebus, uma multinacional israelense que constrói desde prédios até rodovias e linhas férreas.


Marcelo, formado em Engenharia de Sistemas pelo Hadassah College, é funcionário da Intel. É certo que tiveram dificuldades para se acostumar com os nativos. Cheio daquela franqueza que muitas vezes redunda em grosseria, o israelense típico não é exatamente uma pessoa dócil. A convivência é ainda mais complicada, ou simplesmente impossível, se o recém-chegado não domina o hebraico ou ao menos o inglês.


— Se você não se acostuma com jeitão do povo israelense, não aguenta a acaba voltando para o Brasil — diz Sandro. — Aliás, se não fosse pela minha filha, eu já teria voltado.


A menina, Adar, tem três anos e seu nome está tatuado no antebraço esquerdo de Sandro. No antebraço direito, o nome artístico: Sapinho.


Com isso, não é difícil intuir o que ele considera mais importante.


Quando chegou a Israel, Sandro foi viver no kibutz Ein Schofet, nas proximidades de Haifa, cidade portuária encravada no norte do país, de braços abertos para o Mediterrâneo.


Mas não teve tempo para se aclimatar: apenas quatro meses após aterrissar, teve de ir para o exército. Serviu dois anos em um batalhão de artilharia antiaérea, próximo à fronteira com o Líbano.


Sempre que podia, Sandro aportava no Rio de Janeiro. Os amigos e familiares sempre souberam de seu apreço pelo funk, até porque ele costumava cantar em festas e reuniões. Em 2004, na festa de aniversário de um amigo, no Leblon, Sandro foi convidado a dividir o palco com o funkeiro Mr. Catra.


Bom de improviso, impressionou.


Não demorou para que Catra lhe fizesse uma proposta: que eles compusessem uma música juntos, misturando o português e o hebraico.


A única exigência de Catra era de que a canção versasse sobre Jerusalém, “porque é uma terra santa”.


Daí surgiu “Daber she ze anachnu”, ou, em bom português, “Fala que é nóis”. Mais conhecida como “Jerusalém”, foi gravada por Mr. Catra, com participação de Sandro, e logo o MC Sapinho de Israel começou a se tornar conhecido. O apelido de infância, Sapinho, foi escolhido como nome artístico, mas com o adendo “de Israel”.


— É que já existia o MC Sapão e, afinal de contas, eu já vivia por aqui — conta.


E foi em Israel que, pouco depois, ele conheceu outra figura muito importante em sua carreira: o israelense Gilad Sabach, ou DJ Brasiloca. As circunstâncias foram parecidas com as de seu encontro com Mr. Catra: convidado para a festa de aniversário de Brasiloca, Sapinho subiu ao palco e mostrou a que veio.


Desde então, o DJ produz as músicas de Sapinho e o convida para cantar nas festas que organiza.


O ritmo de apresentações dos últimos meses não foi conquistado da noite para o dia. Mesmo fazendo até três shows em uma noite, Sapinho ainda não consegue viver exclusivamente da música. O grosso do orçamento doméstico vem de seu trabalho na Smira, empresa onde está há cinco anos. A Smira presta serviço ao governo e é responsável pela segurança dos trens israelenses: — Fiz um treinamento de quatro semanas e comecei revistando mochilas nas estações.


Depois, fez ronda nos vagões.


Agora, em uma sala repleta de telas, monitora a movimentação dos passageiros.


Sempre que está no Brasil, Sapinho se apresenta em parceria com Mr. Catra. Eles já cantaram em lugares como Circo Voador, Fundição Progresso e Tijuca Tênis Clube. A parceria já rendeu uma dúzia de canções, como “Bonde do Elyahu Anavi”, “Retorno de Jerusa” e “Mosaico e o Caldeirão”. Em novembro de 2008, Sapinho concedeu uma entrevista a um programa de ritmos latinos da rádio 100 FM, de Tel Aviv. Foi ao estúdio acompanhado pelo DJ Brasiloca e chegou a dar uma palinha ao vivo. A entrevista foi um empurrão e tanto. Agora, eles se desdobram para dar conta de uma agenda que pode chegar a sessenta shows por mês, em várias cidades do país, a um cachê médio de 800 NIS (em torno de R$ 400) por apresentação.


Shows em bares, boates e para grupos de turistas brasileiros

Sapinho vive com a agenda lotada.


Além dos shows em bares e boates, costuma se apresentar para grupos de turistas brasileiros de passagem por Israel.


— Quando o assunto é música, eles sempre pedem duas coisas para animar a viagem: pagode e MC Sapinho — explica.


Ele trabalha para que, com o passar do tempo, e em se tratando de música brasileira, o funk seja tão conhecido em Israel quanto o axé: — Israelense vai muito à Bahia fazer turismo. É por isso que o axé manda tão bem por aqui.


São três da madrugada e o público do Rich Bar, em Tel Aviv, não parece nem um pouco incomodado com o atraso de 45 minutos que teve de suportar até o início da apresentação.


— A gente foi para Haifa fazer um show e acabou se atrasando um pouco na hora de voltar para Tel Aviv — avisou MC Sapinho assim que entrou no lugar. — Mas no final tudo vai dar certo.


E dá mesmo: o lugar quase vem abaixo quando o “Rap das Armas” e uma sequência de outros pancadões de sucesso, incluindo “Jerusalém”, são executados. É a ilustração perfeita daquilo que os funkeiros e seus adeptos, no Brasil ou em Israel, costumam dizer: “Demorou”.


ANDRÉ DE LEONES é autor de “Hoje está um dia morto” e “Paz na terra entre os monstros” (Record). Morou em Israel entre maio e novembro de 2009, onde manteve o blog hierosolimita rechavia.wordpress.com



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