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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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segunda-feira, 31 de março de 2008

Arte e inquisição na península ibérica: a arte, os artistas e a Inquisição

Arte e inquisição na península ibérica: a arte, os artistas e a Inquisição
Autora:
Ribeiro, Benair Alcaraz Fernandes
Unidade: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH)/USP
Área de concentração: História Social
Tese de Doutorado
Data de defesa:
01/03/2007.
Resumo: Esta tese estuda histórias de artistas e suas obras produzidas na Península Ibérica entre os finais do Século XV a meados do século XIX vinculadas à Inquisição Moderna. Nesse processo de longa duração o Tribunal do Santo Ofício expressou seus propósitos através da arte buscando legitimação e exaltação de seus feitos. Exerceu sobre os artistas e suas obras rigorosa vigilância e censura. Embora sujeitos ao austero controle do Santo Ofício e obedecendo a cânones estéticos e iconográficos impostos pelo Concilio de Trento, uma gama de artistas conseguiu escapar a essa "camisa de força" produzindo, em condições especialíssimas, em terras ibéricas ou no exterior, expressões de aversão, crítica e condenação ao Tribunal e sua nefasta atuação. Engloba as três tipologias: a legitimação, a exaltação e a aversão. Discute fundamentalmente o papel desempenhado pela Arte e pelos artistas em suas relações com o Tribunal do Santo Ofício na Idade Moderna.
Palavras-chave: Arte; Gravura; História Ibérica; Inquisição; Pintura.

domingo, 30 de março de 2008

Happy Passover, Everyone :)

Happy Passover, Everyone :)

http://www.msu.edu/user/avniassa/passover/whowhowho.html

Pessach kasher VeSameach!

Davids East Side Deli - Passover meals & More

Davids East Side Deli - Passover meals & More

Dear Friends,
Turn on your sound and enjoy…

Hoje na História

http://www.morasha.com.br/

30/03/1804
Data de nascimento de Salomon Sulzer. Cantor de músicas judaicas, ele é considerado o mais importante compositor de músicas religiosas judaicas do século 19.

30/03/1135
Data de nascimento de Moisés Maimonides – o Rambam. Maimonides foi o mais famoso filósofo judeu e uma das maiores autoridades de lei religiosa judaica. Tendo começado aos 23 anos de idade, escreveu, no decorrer de 10 anos, uma obra que explica em detalhes as 613 leis judaicas. Também escreveu um clássico da filosofia judaica, o “Guia dos Perplexos”.

Do_mal.com: o lado sombrio da internet

Receitas de bomba, blogs anoréxicos, fóruns racistas, manuais suicidas. Mergulhamos no lado sombrio da internet para entender por que esse conteúdo se dissemina e como as comunidades “do mal” são combatidas. Por Juliana Tiraboschi. >>> Veja mais em, Revista Galileu, Edição 2001, Abril de 2008.

sábado, 29 de março de 2008

Yeshiva Boys

Yeshiva Boys
http://video.google.fr/videoplay?docid=7406626690937283190&q=yeshiva+boys
http://video.google.fr/videoplay?docid=5084725107395264007

Os caminhos do Estado de Israel (Arnaldo Niskier)

Os caminhos do Estado de Israel

Arnaldo Niskier
Integrante da Academia Brasileira de Letras e presidente do CIEE/RJ

Há muitas razões para que sejam comemorados condignamente os primeiros 60 anos da independência do Estado de Israel, em que houve a mão brasileira do chanceler Osvaldo Aranha. Uma visita extensiva ao país, como acabamos de realizar, permite uma série de observações que, de longe, se tornam menos perceptíveis, qualquer que seja a religião do observador. Berço do judaísmo, do islamismo e do catolicismo, sempre haverá razões e esperança de que ali se estabeleça uma paz definitiva, para benefício dos povos respectivos.

O Estado de Israel, nascido em 1948, sempre se destacou pelo grande apreço ao desenvolvimento científico e tecnológico. O seu primeiro presidente foi o cientista Chaim Weizmann, que citava uma frase lapidar: "Devemos construir uma ponte segura entre a ciência e o espírito humano". Assim foi criado o Instituto Weizmann de Ciências, uma das 10 maiores instituições de pesquisa do mundo, que tivemos o prazer de revisitar, em Rehovot.

Conhecemos incríveis projetos, como os que se desenvolvem em telecomunicações, software, tecnologia celular, agricultura irrigada (por gotejamento), transplantes de órgãos, células-tronco embrionárias e a milagrosa cura da esclerose múltipla, além de transplantes de órgãos. Não é de se estranhar, pois, que em 60 anos a única democracia representativa do Oriente Médio tenha sido capaz de ganhar nove Prêmios Nobel, em áreas diversificadas, como a matemática, a física, a química, a literatura – Agnon, que só escrevia em hebraico – e a consagradora vitória no Prêmio Nobel da Paz, com dois dos seus grandes líderes, Menasche Begin e Itzhak Rabin.

Passa pela nossa lembrança a primeira visita feita ao IWC, em 1967, logo após a Guerra dos Seis Dias. Conversamos longamente com o matemático Chaim Pekeris, colaborador de Albert Einstein, na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e que fora a cabeça responsável pela construção do computador Golen. Claro, na época, era uma imensa máquina, pesada, mas que continha os princípios norteadores do que viria a ser a maior conquista tecnológica dos nossos tempos.

Há outras particularidades que devem ser lembradas e com as quais travamos contato: Israel trouxe da África 60 mil pessoas para viver em liberdade, e não como escravos. São cidadãos comuns, empenhados, como todos os 5,8 milhões de israelenses, na conquista do progresso. Aliás, comenta-se muito, naturalmente com orgulho, que o país construiu 15 novas cidades para levar o progresso a regiões como Carmiel, que também visitamos.

Há mais de 1 milhão de árabes vivendo em Israel. Têm direito ao mesmo ensino gratuito oferecido a todas as crianças dos 5 aos 17 anos.

Israel ainda não é um paraíso, os professores reclamam dos salários, o orçamento absorve 16% com as despesas de segurança. De olhos voltados para a tradição, com uma arqueologia de primeiro mundo, o país vê o futuro com muito otimismo, calcado num crescimento anual de cerca de 4% do PIB. A paz, para o seu povo, por isso mesmo, é vital.

Extraído de:
Jornal do Brasil, Internacional, em 29/03/2008.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Toalha suja de vinho

Conta-se que quando o grande Chafetz Chaim recebia visitas em sua casa para shabat, este adotava um costume que parecia muito estranho. Quando pegava o copo do kidush, antes de recitá-lo, balançava-o um pouco fazendo com que algumas gotas de vinho derramassem sobre a mesa. Certa vez explicou o motivo desse "estranho costume". Em um shabat, há muitos anos atrás, um dos convidados derramou vinho sobre a mesa. Este convidado se sentiu muito constrangido por ter feito isto na mesa de um Rav. para quebrar a tensão o Chafetz Chaim fingiu esbarrar no seu copo também sujando a mesa. Só então o convidado relaxou pensando que de qualquer forma a toalha da mesa já não estava mais limpa. Desde então, explicou o Chafetz Chaim, sempre faço isso para que todo convidado se sinta "em casa", e não deixe de aproveitar o shabat por causa de uma toalha de mesa suja.

Rav Rony Gurwicz
www.kolelrio.com.br

Os Manuscritos do Mar Morto e as Origens do Cristianismo


Judaísmo e Islamismo


60 anos de História




quinta-feira, 27 de março de 2008

Orquestra de árabes e israelenses tocará em palco da era nazista

O polêmico maestro Daniel Barenboim anuncia a execução de uma obra de Wagner em Berlim, por sua orquestra formada por jovens músicos árabes e israelenses.

Uma orquestra formada por israelenses e árabes executará o primeiro ato de uma ópera de Wagner num palco construído pelo governo de Hitler. A verba obtida com a apresentação se destinará à construção de uma sala de espetáculos em Ramallah, na Palestina.

A inusitada combinação foi anunciada pelo maestro Daniel Barenboim, conhecido pelo seu engajamento em favor da paz entre israelenses e árabes e pelo seu gosto pela polêmica. Em 2001, ele causou controvérsia ao executar um trecho de Tristão e Isolda, de Richard Wagner, em Jerusalém, quebrando assim os tabus contra a obra do compositor declaradamente anti-semita.

Teatro da época nazista

O concerto do próximo dia 23 de agosto em Berlim ocorrerá na Waldbühne, um palco ao ar livre construído pelos nazistas para os Jogos Olímpicos de 1936, e será executado pela orquestra West-East Divan, que conta com jovens músicos árabes e israelenses.

A orquestra foi fundada em 1999 por Barenboim e pelo intelectual norte-americano Edward Said, já falecido. Além do primeiro ato de A Valquíria, o programa inclui o Concerto para três pianos de Mozart.

Sem objetivos políticos

Para Barenboim, uma nova sala de espetáculos seria muito importante para melhorar a vida das pessoas que vivem em Ramallah. "Negociações políticas são importantes, mas a vida diária é muito mais", afirmou.

Ele acentua que sua orquestra não possui objetivos políticos. "Apenas dizemos que não acreditamos numa solução militar para o conflito na Palestina. As pessoas devem aprender a conviver", opinou o maestro.

No início do ano, Barenboim recebeu a cidadania honorária palestina. Ele aceitou a distinção afirmando que ela "simboliza a eterna ligação entre os povos israelense e palestino". O maestro nasceu na Argentina em 1942, é filho de judeus russos e possui a cidadania israelense.

Extraído de:
Deutsche Welle, em 27/03/2008.


quarta-feira, 26 de março de 2008

Entrevista: 'O gosto amargo dos sonhos', com Amós Oz

Author Amos Oz speaks on Israel and Palestine, the dream of Zionism and how politicians listen to artists and then forget everything they're told.

By Joanna Chen | Newsweek Web Exclusive
Feb 14, 2008 | Updated: 5:49 p.m. ET Feb 14, 2008

Amos Oz is an Israeli author of international acclaim whose works have been translated into more than 45 languages. In May, along with playwright Tom Stoppard and former U.S. vice president Al Gore, he will receive the Dan David Award, totaling $3 million. Oz, 69, who teaches literature at Ben Gurion University in southern Israel, was cited by the judges for "portraying historical events while emphasizing the individual and for personal exploration of the tragic conflict between two nations." A founding member of the Peace Now Movement, Oz has always been at the forefront of the Israeli struggle for identity and a staunch advocate of a two-state solution. He recently spoke to NEWSWEEK's Joanna Chen at his home in Tel Aviv about literature, politics and voices of the dead that won't go away.

NEWSWEEK: What do you think makes your writing so accessible to people all over the world?
Amos Oz:
I suppose there is something universal in the provincial. My books are very local, but in a strange way I find that the more local, parochial and provincial, the more universal literature can be.

Why have so few of your books been translated into Arabic?
The Arabic translation matters to me more than any other. It's the one I feel involved in most. Unfortunately, there is a wall of resistance with the Arab countries. Many Arab publishers won't touch anything coming from Israel, whether it comes from the hawks or the doves.

What have you done to remedy this?
"A Tale of Love and Darkness" is now being translated into Arabic by the family of George Khoury, a Palestinian-Israeli student who was shot in the head by terrorists who mistook him for a Jew while jogging in
Jerusalem. I'm very moved by this and by the very noble decision of the family to treat this book as a bridge between the nations.

What role do you think the past plays in determining the future of this region?
The past almost dominates this region—it doesn't just play a role. I think this is one of the tragedies of this region. People remember too well and they remember too much. Both Jews and Arabs carry deep injuries, dramatic injuries.

Should the two sides put these memories away and get on with correcting the present?
We can do that. We can also use our memories as building material for the future. We can say, for example, these particular traumatic memories [serve as] a lesson in how to treat other people, how we should treat our own minorities. This is one way to deal with the past.

You've talked about a compromise of pain and clenched teeth. Can't there be a happy ending?
No, I don't believe in a happy ending to this kind of tragic conflict. Essentially because this is a conflict between right and right. Any compromise will mean concession; it will mean renouncing something which both parties very strongly regard as their own, and both parties had very good reasons to regard as their own, so a compromise will be like an amputation for both sides.
There are no happy compromises.

terça-feira, 25 de março de 2008

Filosofia do Judaísmo: A História da Filosofia Judaica desde os Tempos Bíblicos até Franz Rosenzweig

Autor: Julius Guttmann
Páginas: 482

Sinopse: Esta é uma das mais profundas e abrangentes histórias da filosofia judaica jamais escritas. Até o seu aparecimento, houve obras sobre períodos singulares do curso do pensamento judeu - antigo, medieval e contemporâneo, mas nenhum tãomagistral como o de Julius Guttmann.
O judaísmo, diz o autor, não pode ser condensado em uma filosofia única, pois nunca oficializou uma tradição filosófica específica ou uma única tendência teológica ou interpretativa. Cada uma de suas doutrinas propõe e veicula uma imagem e uma idéia do judaísmo, na medida em que se confronta com os elementos básicos da cogitação e da experiência religiosa coletiva ou individual geradas pela revelação bíblica: Deus, a Torá como Lei e Ensinamento, e a história do povo de Israel.
Unindo o registro do historiador à análise do exegeta, o saber erudito ao rigor crítico, Guttmann desenvolve a sua investigação a partir das raízes na Escritura hebraica, em Filo de Alexandria e nos mestres do Talmud. Os elementos aqui organizados tornam A Filosofia do Judaísmo - com tradução primorosa para o português, de J. Guinsburg - um livro de consulta obrigatória para quem pretenda estudar ou versar o tema, em quaisquer termos. Embora produto de uma fase específica da vida cultural do povo judeu na Europa Ocidental e sobretudo na Alemanha, tem-se aqui um monumento duradouro da história do pensar filosófico judaico e de suas tentativas de elucidar a natureza do judaísmo e sua essência.

segunda-feira, 24 de março de 2008

V CONGRESSO SEFARADI: Idade de Ouro do Judaísmo na Península Ibérica

CHAMADA PARA TRABALHOS ACADÊMICOS

Nos dias 31/maio e 01/junho de 2008 será realizado, no Templo Sidon, o Quinto Congresso Sefaradi (V CONFARAD).

Estão abertas inscrições para apresentação de TRABALHOS ACADÊMICOS cuja inscrição, gratuita, deverá ser acompanhada de monografia ou resumo para posterior publicação sob forma de Anais do V CONFARAD. Considerando que esta será - inicialmente - uma publicação eletrônica (cd/dvd).

Os textos, em Português e Espanhol, devem estar em WinWord com formatação Times New Roman, tamanho 12 e no máximo com 15 páginas. Figuras podem ser incluídas.

Temas: História, cultura, tradição,... Sefaradi/Mizrahi (dentro e fora do Brasil).

As inscrições deverão ser feitas, via internet, para os organizadores da parte acadêmica (*):

Profs. Drs.: Rachel Mizrahi (mizrahir@yahoo.com.br )
Luiz Benyosef (benyosef@terra.com.br e benyosef@on.br)

* Para textos acima de 1 MB, favor entrar em contato com os organizadores acima
Templo Sidon: rua Conde de Bonfim, 521 Tijuca - Rio de Janeiro, RJ - Brasil

Atrocidades nazistas cometidas por pessoas comuns

Desde médicos a cantores de ópera, de professores a crianças, o extermínio dos judeus europeus foi obra de quase 200.000 alemães comuns e seus colaboradores. Anos de pesquisa -ainda não completos- revelam como membros sãos de uma sociedade moderna cometeram homicídios para um regime diabólico.

Georg Bönisch e Klaus Wiegrefe
Der Spiegel, em 24/03/2008.


Walter Mattner, secretário de polícia de Viena, estava lá em outubro de 1941, quando 2.273 judeus foram assassinados a tiros em Mogilyov, na Belarus. Mais tarde, escreveu a sua mulher: "Minha mão estava tremendo um pouco nos primeiros carros. Mas, no décimo, fazia a pontaria calmamente e atirava com confiança nas muitas mulheres, crianças e bebês. Mantinha em mente meus dois bebês em casa e sabia que sofreriam exatamente o mesmo tratamento, se não dez vezes pior, nas mãos dessas hordas." Depois da Segunda Guerra Mundial, ficou óbvio para a maior parte dos observadores que tais atos só poderiam ter sido cometidos por sádicos e psicopatas, sob ordens de meia dúzia de criminosos de guerra em torno de Adolf Hitler. Era uma forma confortável de ver as coisas, porque significava que as pessoas comuns não eram as verdadeiras perpetradoras.

Mesmo na época, contudo, os resultados assustadores de uma pesquisa de opinião conduzida pelos americanos em sua zona de ocupação, em outubro de 1945, poderiam ter levantado dúvidas sobre a versão da história que coloca toda a culpa em alguns criminosos patológicos. Dos entrevistados, 20% "concordaram com o tratamento dos judeus por Hitler". Outros 19% disseram que, apesar de acharem que as políticas contra os judeus eram exageradas, estavam fundamentalmente corretas.

Só nos anos 90 os historiadores e outros especialistas iniciaram uma pesquisa de grande escala em busca desses homens (e mulheres) que executaram o holocausto. A pesquisa ainda não está completa, mas os resultados disponíveis até hoje são chocantes.

Os pesquisadores concluíram que os perpetradores incluíam tanto nazistas comprometidos com a causa quanto pessoas que não tinham nada a ver com os nazistas. Os assassinos e seus assistentes incluíam católicos e protestantes, velhos e jovens, pessoas com mais de um doutorado e membros da classe trabalhadora. E a percentagem de psicopatas não era maior do que a média da sociedade como um todo.

O número de perpetradores hoje é estimado em 200.000 alemães (e austríacos). Eram policiais como Calter Mattner, equipes dos campos de concentração, membros da SS ou administradores. Outros 200.000 estonianos, ucranianos, lituanos e diferentes estrangeiros também ajudaram a matar judeus, alguns porque foram forçados e outros voluntariamente.

Crimes de condenação, crimes de excesso
Como satã no velho testamento, o mal tem muitas faces. Houve os que cometeram crimes por convicção, os nazistas dedicados da força policial -membros da SS e militares que, como Hitler, estavam convencidos que os judeus eram a raiz de todo mal. Alguns cometeram seus primeiros homicídios nos anos 20 e 30. Também houve os que cometeram crimes de excesso, tirando vantagem da falta de direitos dos judeus na Europa Oriental para estuprar e roubar. Na Galícia Ocidental, por exemplo, membros da força policial de ocupação passavam seu tempo livre atirando contra judeus no gueto ou chantageando-os por suas jóias.

Houve os que apenas executaram ordens de cima, como o major Trapp do Batalhão de Polícia de Reserva 101. De acordo com testemunhas, o major Trapp estava chorando quando mandou matar 1.500 mulheres, crianças e judeus idosos perto de Varsóvia, enquanto dizia: "Uma ordem é uma ordem!" Em julho de 1942, seus homens retiraram as vítimas de suas casas, carregaram-nas em caminhões e levaram-nas para uma clareira remota, para serem executadas. Eles atiraram em suas cabeças ou na nuca. À noite, os uniformes dos soldados estavam cobertos de fragmentos de ossos, matéria craniana e manchas de sangue.

Assim como em geral há mais de um perpetrador, também há uma série de razões pelas quais homens perfeitamente normais viram assassinos: anos de doutrinação, fé cega nos líderes, um sentido de dever e obediência, pressão dos colegas, minimização da violência como resultado das experiências de guerra, sem mencionar o desejo pelas propriedades dos judeus.

Um homem que pareceu não ter problemas em passar de sua escrivaninha para os massacres no Oriente foi Walter Blume, nascido em Dortmund em 1906, filho de um professor. Advogado que completou o equivalente ao exame da OAB alemão com o fraco resultado "adequado", ele conseguiu emprego de assistente do juiz da corte distrital de sua cidade natal em 1932.

A carreira de Blume no regime de Hitler começou no dia 1º de março de 1933, pouco depois dos nazistas chegarem ao poder. Seu primeiro cargo nazista foi como chefe da divisão política do quartel policial de Dortmund. Depois de entrar para o Partido Nazista e para os Storm Troopers, ele se tornou chefe da polícia secreta nazista, ou Gestapo, na cidade oriental de Halle, em Hannover, e mais tarde na capital Berlim. O principal propósito da rápida rotação nos cargos de alto nível, típica da Gestapo, era prover oportunidades de experiência na repressão.

A partir do dia 1º de março de 1941, Blume chefiou o departamento de pessoal da 1ª Divisão do chamado Reichssicherheitshauptamt (Escritório Principal de Segurança do Reich, ou Rsha). Sua primeira tarefa foi reunir a equipe para um dos comandos de assassinato chamados Einsatzgruppen (Grupos de Ação Especial). A força consistia de cerca de 3.000 homens, conhecidos como "Gestapo sobre rodas". Esse grupo acompanhava o exército de Hitler enquanto marchava para Leste, e era responsável pela liquidação imediata do "bolchevismo judeu" e a "excisão de elementos radicais".

O próprio Blume liderou uma unidade chamada Comando Especial 7a, parte do Einsatzgruppe B. De acordo com os próprios registros de Blume, sua unidade matou cerca de 24.000 pessoas na Belarus e na Rússia entre junho e setembro de 1941. Pouco tempo depois, Blume voltou para a Rsha, onde foi promovido ao cargo de chefe de divisão e líder da SS. Em agosto de 1943, ele foi para Atenas, onde organizou com dois associados de Adolf Eichmann a deportação de judeus gregos para o campo de extermínio de Auschwitz.

Blume foi julgado em Nuremberg em setembro de 1947, junto com outros 22 homens, cujas ocupações os qualificaram como membros da sociedade civil de alta classe. Entre eles havia um dentista, um professor, um cantor de ópera, um pastor protestante -e alguns jornalistas. Dos 22, 14 foram condenados à morte, mas apenas em quatro casos a sentença foi executada. O alto comissário dos EUA John McCloy perdoou o resto, inclusive Blume, e eles foram gradualmente liberados. Blume tornou-se empresário.

A maior parte dos perpetradores nunca foi punida. Houve 6.500 condenações até hoje, e apenas 1.200 delas por homicídio.

Tradução: Deborah Weinberg

domingo, 23 de março de 2008

Regras de conduta do sábio (Eliahu Toker)

Obra de sábios, o Pirkê Avot dá especial atenção à sabedoria. Por isso afirma: "Aquele que aprende de seu semelhante apenas um capítulo da Torá, uma halachá, um versículo, um dito, até mesmo uma só letras, deve tratá-lo com respeito particular. Pois assim aprendemos que Davi, rei de Israel que, embora não tenha aprendido de Ahitofel mais do que duas regras de conduta, o chamava de "meu grande e reverenciado mestre".

Segundo o livro, a sabedoria tem proeminência sobre o sacerdócio e a realeza, pois a realeza exige 30 condições, o sacerdócio, 24, enquanto a sabedoria exige 48.

Entre as regras de conduta estão normas que dizem respeito ao estudo dos textos. É preciso estudar com alegria, escutar, compreender e chegar ao fundo das coisas e ainda aguçar a mente, formulando perguntas que promovam a busca de respostas adequadas.

Também as atividades cotidianas fazem parte das regras: dormir pouco, cortar as conversas banais, moderar a dedicação aos negócios e evitar a frivolidade.

O estudo religioso e o respeito aos mestres são partes importantes desse conjunto, como também a humildade, a sensatez, a bondade e o amor ao próximo e a Deus.

Algumas delas, válidas para o ambiente acadêmico até hoje, são: não permitir que os padecimentos o afastem do estudo, expor com precisão, escutar atentamente e aportar idéias próprias, aprender para ensinar, intervir de maneira inteligente, acrescentando assim ao saber de seu mestre e expor idéias mencionando seu autor, pois "todo aquele que expõe idéias e menciona seu autor contribui para a redenção da humanidade" (6:3-6).

Extraído de:
Revista História Viva - Grandes Religiões - número 2 - Judaísmo. São Paulo, Duetto, /março de 2007/, p.27.

Inquisição: o reinado do medo

Revista Aventuras na História
Edição 57 – abril de 2008
Editora Abril


Durante quase 700 anos, a Inquisição espalhou o terror pelo mundo, torturando e matando judeus, bruxas ou quem se atrevesse a pensar diferente. (p.24-31)

ANTROPOLOGIA - Neonazismo usa internet para propagar seus ideais

Jornal do Brasil, Ciência e Tecnologia, em 23/03/2008

ANTROPOLOGIA - Neonazismo usa internet para propagar seus ideais
Rachel Rimas - Ciência Hoje/RJ

A intolerância e o ódio racial encontraram um potente meio para se propagar: a internet. Uma pesquisa aponta o crescimento rápido de páginas virtuais destinadas à disseminação do racismo e do ideário de superioridade da 'raça ariana': em 2002 elas eram cerca de 8 mil e em 2007 já totalizavam 12,6 mil. O estudo procurou identificar quem são os neonazistas, em que portais se encontram, como operam na internet e quais são os discursos que usam para validar suas visões.

A antropóloga Ana Dias, autora da pesquisa, afirma que um dos maiores desafios foi driblar os mecanismos que dificultam a identificação imediata do conteúdo das páginas racistas. Segundo ela, em geral, essas páginas são muito densas tanto em hipertextualidade quanto em multimídias (ícones, vídeos e imagens ocupam dezenas de bytes), dificultando sua localização por mecanismos de busca.

Os dados mostram que há, no Brasil, mais de 150 mil simpatizantes de movimentos neonazistas, racistas e revisionistas, sendo que cerca de 100 mil são ativistas.

- Não são adolescentes que se juntam a um movimento por diversão. Trata-se de um grupo de pessoas que acredita em suas idéias e está disposto a pô-las em prática.

Discursos distorcidos
Segundo Dias, há dois discursos que sustentam as idéias desses grupos: o genômico, que se baseia na premissa de que a 'raça ariana' possui genes superiores e foi escolhida por Deus para promover o desenvolvimento da raça humana; e o discurso mitológico, que cria mitos e se apropria de outros para construir o ideário ariano. Um dos mitos mais fortes é o do sangue ariano, que seria responsável pela conexão transcendental existente entre os arianos. Para esse grupo, se esse sangue permanecer puro, ou seja, se não houver mistura de raças, a raça ariana evoluirá e se tornará eterna.

A pesquisadora cita exemplos como o da página norte-americana National Alliance, na qual está expressa a preocupação de seus integrantes com a formação de líderes que sejam capazes de lutar pelos 'direitos' dos brancos. Já na página do grupo brasileiro Valhalla88 aparecem o ódio ao negro e ao judeu e a recusa a mistura inter-racial. Graças à denuncia feita pela antropóloga e por outros internautas ao Ministério Público, essa página foi retirada do ar.

sábado, 22 de março de 2008

Como é ser judeu no Irã

Na República islâmica do presidente anti-sionista Mahmoud Ahmadinejad, vivem atualmente cerca de 30 mil judeus. Esta comunidade, que goza da liberdade de culto é até mesmo representada no Parlamento - por um único deputado. >>> Veja mais em Le Monde, em 22/03/2008.

sexta-feira, 21 de março de 2008

A Páscoa e o Purim

TV Globo – Jornal Hoje – 21/03/2008.
Alberto Gaspar

A Páscoa e o Purim

Em Jerusalém, terra santa para várias religiões, o feriado cristão da Páscoa coincidiu com uma festa muito animada para os judeus.

Peregrinos cristãos de todo o mundo percorreram nesta sexta-feira as ruas históricas de Jerusalém para lembrar o sofrimento de Cristo. A procissão da Via Dolorosa coincide com uma das festas mais animadas do calendário judaico.

Veja na reportagem especial do correspondente Alberto Gaspar.

Nas estreitas, lotadas e superpoliciadas ruas da Cidade Velha, religiosos abrem passagem para o patriarca latino de Jerusalém, o palestino Michel Sabbah. Ele se junta aos muitos fiéis do mundo inteiro que percorrem a Via Dolorosa, o caminho seguido por Jesus rumo à crucificação.

Os frades franciscanos lideram a principal procissão, no fim da manhã – entre eles, um brasileiro do Rio Grande do Sul. “É uma sensação muito forte, muito bonita para nós também", diz o frade Wahner Zimmer.

Os cristãos representam só 2% da população da Terra Santa, e só católicos e protestantes – minoria entre eles – celebrarão a Páscoa neste domingo. Os cristãos ortodoxos usam outro calendário.

A Páscoa judaica, que tem um significado completamente diferente, só será comemorada daqui a um mês. O que acontece nesses dias é uma outra celebração, das mais alegres; as pessoas saem às ruas fantasiadas, parece um Carnaval. É o Purim.

Nesta festa judaica, fantasias servem para celebrar uma vitória obtida há 2.500 anos, quando os judeus foram salvos de um massacre, sob domínio do Império Persa. “É uma alegria total. Tem festas em todos os lugares e muita bebida. É um dia de ficar alegre”, explica a agente de viagens Adriana Bonder.

A comida também faz parte do Purim. O mercado fica cheio, e um tipo de bolacha recheada faz muito sucesso. A tradição é trocar presentes desse tipo com os amigos e também dar dinheiro aos pobres, nos explica uma senhora.

Nesta terra de tantos contrastes, os calendários foram particularmente caprichosos este ano.

Sidur Falado Kids


O "Sidur Falado Kids" é uma nova realidade dentro do ensino de hebraico e de judaísmo no Brasil. Em 23 faixas você aprende de um modo claro e bem orientado como manusear o Sidurzinho e compreender as principais fases das rezas, podendo repeti-las junto ao locutor, assim como acompanhá-las no próprio idioma hebraico ou pela transliteração tendo à mão o "Sidurzinho para Crianças" da Editora e Livraria Sêfer.


O "Sidur Falado" é uma nova realidade dentro do ensino de hebraico e de judaísmo no Brasil. Em 32 faixas você aprende de um modo claro e bem orientado como manusear o Sidur e compreender as principais fases das rezas, podendo repeti-las junto ao locutor, assim como acompanhá-las no próprio idioma hebraico ou pela transliteração tendo à mão o "Sidur Completo" da Editora e Livraria Sêfer.

Um ótimo começo para quem até hoje sentia dificuldades em compreender o Sidur.

Um ótimo amigo, mesmo para quem já conhece a estrutura da liturgia judaica.

Locução: Pessach (Paulinho) Rosenbaum

Gravado no Estúdios Arsis, em São Paulo.
Duração: 76 minutos.

Para Curar um Mundo Fraturado: A Ética da Responsabilidade

Para curar um mundo fraturado: a ética da responsabilidade
Autor:
Jonathan Sacks
Editora: Sefer (São Paulo, SP)
Páginas: 354
Sinopse: Jonathan Sacks é uma das maiores autoridades contemporâneas em moral e autor de Uma Letra da Torá, publicado no Brasil pela Editora Sêfer.
Um dos conceitos mais característicos e polêmicos do judaísmo é sua ética da responsabilidade. Porque recebemos a dádiva da liberdade, é nosso dever honrar e engrandecer a liberdade de outros. Nenhuma outra geração foi tão estimulada a acreditar que a única fonte de significado é a satisfação das necessidades individuais. O Rabino Sacks mostra aqui o profundo engano contido nessa crença. A ética diz respeito à vida que vivemos em conjunto, ao bem que só existe quando compartilhado.
A argumentação construída pelo Rabino Sacks expõe a dimensão do seu comprometimento com a condição humana e reflete a riqueza do seu conhecimento. Ele fala de Sigmund Freud ou Karl Marx com a mesma autoridade com que cita e comenta a Bíblia Hebraica. Para Curar um Mundo Fraturado é seu chamado à sociedade para que caia em si, para que volte à razão.


quinta-feira, 20 de março de 2008

FIERJ: Chag Purim Sameach (2008)

56 Cool YouTube Purim Vídeos

The list includes:
Shlock Rock Purim 1991
Megilat Esther Play in Israel
Atlanta Purim Parade
Adloyada Montreal
Bais Purim Shpiel Trailers
Efrat Purim Shpiel Husband Gemach
Hebrew Sesame Street - Purim
Purim Homintaschen vs. Hannukah Latke debate
The Mendy Report: Purim Controversy
Haman Song: a Purim rap
There Was A Rasha
Purim in Mexico City
Purim party Zagreb, Croatia
Dave Epstein Band - Al Hanisim
and many more.....

YAD VAED - A Marcha do Hillel (Rio, Polônia, Israel)

Purim: O Samba do Rabino Doido

P U R I M
O Samba do Rabino Doido

Davy Bogomoletz
Adár, 5758

A história começa quando Assuero (Ahashverósh), Rei da Pérsia e da Média, um grande império com 127 províncias, resolve comemorar o seu terceiro aniversário no Trono. Ele manda fazer um tremendo banquete, e convida todos os homens importantes – e também os que não eram importantes, para comerem e beberem à vontade durante os dias da festa. E convida Vashti, a Rainha, para vestir-se com suas roupas mais esplendorosas para que os convidados a vissem ao vivo e em cores.

Mas Vashti, a Rainha da Pérsia e da Média, simplesmente desobedece à ordem do Rei Ahashverósh, e os seus conselheiros apressam-se a exigir a sua cabeça dizndo que, se a própria rainha desobedece ao rei em pessoa, e nada lhe acontece, o que seria deles, pobres mortais, quando chegassem em casa?... Assim, devidamente castigada a rainha por sua audácia, diz o livro explicitamente, ‘todas as mulheres darão valor a seus maridos, sejam grandes (poderosos) ou pequenos (joões ninguém)’ (cap. 1; 20)... Vashti, a rainha desobediente, tornou-se na verdade um ícone do movimento feminista.

Expulsa a rainha, o rei manda fazer um concurso de beleza nacional para escolher a sua nova esposa. E depois de quatro anos de concurso, a vencedora é... Esthér, sobrinha de Mordechái (Mardoqueu), o judeu, levada ao palácio como todas as outras, mas logo assumindo a preferência dos organizadores do concurso, por sua extrema obediência! (cap. 2; 15, 16).

O rei apaixona-se por Esthér e a nomeia Rainha de toda a Pérsia. E faz para ela um grande banquete da coroação, com tudo a que tinha direito.

Mas... Esthér não contou a ninguém sua origem judaica, por ordem de seu tio Mardoqueu (cap. 2; 10). E agora vemos Mordechai, ‘sentado à porta do rei’, isto é, nomeado alto funcionário pouco depois da coroação...

Nesse mesmo momento, no alojamento dos seguranças do palácio, com os escaninhos e os bancos de madeira, dois funcionários de médio escalão, da guarda do rei, sentindo-se prejudicados por alguma razão, tramam o assassinato do rei. E aí vemos Mordechai num furgão cheio de aparelhos eletrônicos perto do palácio, ouvindo a conversa deles pelo microfone secreto instalado no alojamento.

Mordechai conta para Esthér, que sopra no ouvido do rei e menciona Mordechai como sua fonte. Se era para o rei valorizar o tio, ou se o tio fez da sobrinha porta-voz para que ela ganhasse mais pontos junto ao rei, ninguém sabe. O que se sabe é que o lucro da operação foi repartido entre os dois (cap. 2; 22).

Agora estamos nos porões do palácio. Escuridão. Um ventilador na parede, contra a luz. Raios de luz atravessando a poeira revelam duas figuras amarradas, cabeças pendentes escorrendo água: Eles confessaram. Corta para a forca: dois corpos caem pesadamente, com um baque surdo. Os funcionários encarregados da tarefa recolhem seus materiais e retiram-se sem dizer palavra. E nos Arquivos Reais, funcionários com longas penas de pavão registram todo o episódio em enormes livros à sua frente.

Na cena seguinte, bem à frente no tempo, Hamán, o agagita (esse é o nome do seu clã, o que na época servia de sobrenome), é nomeado primeiro ministro – sua cadeira é mais alta que as dos outros ministros. Ele passeia pelo palácio, outro pavão (as penas usadas pelos escribas foram tiradas do rabo dele...) e todos se curvam à sua passagem – menos Mordechai. Pedem que ele se explique, e ele responde enigmaticamente: ‘Eu sou judeu’ (cap. 3; 4). Corta para a ala esquerda do palácio, onde uma série de cambistas aceitam apostas sobre o tempo que Mordechai vai sobreviver depois dessa... Multidão se acotovela e empurra o dinheiro das apostas, os cambistas anotam, enlouquecidos...

Hamán fica sabendo disso – e imagina um comício em Nürenberg, com Hitler esbravejando e a multidão incalculável delirando...

Alto comando persa (todos cheios de medalhas) reunido em torno de uma enorme mesa, com Hamán, de bigodinho, na presidência. Assinam o Protocolo de Susa – Shushan, a capital do reino – a ‘Solução Final para o Problema Judaico’.

Sorteia-se o dia 13 do mês de Adár (imaginem o grande globo do qual saem as bolinhas), doze meses depois do sorteio, como o Dia do Extermínio dos Judeus.

Hamán explica para o rei que um tal de povo judeu, que pulula por todo o seu reino, não obedece às Leis do Reino, tem uma religião diferente, em suma, é um bando de traidores! (Detalhe da boca espumante de Hamán quando pronuncia a palavra...) Oferece ao rei uma enorme soma em dinheiro em troca da licença para acabar com eles. O rei, que não vê motivos para discordar, distraidamente dá a Hamán o anel real (close sobre o rosto enfadado do rei, e depois sobre o anel) para com ele selar o decreto de extermínio. Novamente vemos os escribas, desta vez escrevendo éditos que serão enrolados e entregues a agentes vestidos de preto, pilotando motocicletas poderosas e capacetes com viseiras escuras, que levarão as ordens da matança a todos os cantos do reino.

No decreto, as palavras exterminar, matar e eliminar são repetidas várias vezes, e isso inclui mulheres e crianças, no dia 13 de Adár.

As motos percorrem trilhas de terra em sertões distantes, para entregar os decretos. Nuvens de poeira elevam-se à sua passagem...

O rei e Hamán fazem num banquete, comemorando a nova lei. Vemos rostos de pessoas do povo, inclusive judeus, alguns lendo os panfletos, intrigados e apavorados com a inédita notícia.

Mordechai, em casa, ao saber de tudo, rasga suas roupas, veste um saco e joga cinzas da lareira sobre a cabeça, num grande desespero, com o rosto desesperado à semelhança de ‘O Grito’, de Münch. Em seguida, sai de casa e vai até o palácio, mas os guardas barram sua entrada – está vestido de modo inadequado.

Sucessão rápida de cenas: contam a Esthér sobre Mordechai. Esthér manda roupas para o tio, que as recusa. Esthér manda emissário para saber dele o que há. Mordechai conta ao emissário tudo, e entrega-lhe uma cópia do decreto para ser dada a Esthér, com a instrução de ela apresentar-se ao rei e pedir clemência. Esthér fala da lei que manda matar quem se apresenta ao rei sem ter sido chamado, a não ser que o rei estende o cetro e permita à pessoa tocá-lo. Esthér está numa sinuca. Mordechai manda dizer a ela: ‘Se te calares neste momento, os judeus serão salvos de outro modo, mas tu e tua família ireis perecer.’ Esthér manda dizer ao tio: ‘Reúne todo o povo e o manda jejuar três dias. Irei ao rei apesar da lei, e se eu morrer, morrerei.’ (cap. 4; 13, 15).

Esthér vai até o pátio interno do palácio, diante do trono, e ao vê-la, o rei estende seu cetro (ouve-se um ‘Uffff...’ na platéia). Na melhor tradição das Mil e Uma Noites, Esthér simplesmente convida o rei, e também Hamán, para um banquete, ao fim do qual os convida para outro, e depois outro. Hamán sai do banquete meio bêbado, feliz da vida, mas fica furioso ao ver Mordechai no pátio sentado à sua passagem, sem se levantar nem se curvar.

Agora vemos Hamán em casa, cercado da mulher e dos amigos, queixando-se pateticamente de Mardoqueu. Choraminga. Diz que de nada adianta ser o primeiro do reino e ter sido convidado ao banquete da rainha e convidado de novo para o banquete de amanhã, enquanto Mordechai o judeu fica sentado no portão e não se curva à sua passagem. Diz-lhe Zéresh, sua esposa: ‘Façamos uma árvore (quer dizer, um tronco) de cinqüenta metros de altura e penduremos nela esse judeu nojento, e assim irás feliz ao banquete da rainha.’ Hamán gosta, e constrói a forca (cap. 5; 17).

Ao mesmo tempo, no palácio real: Naquela mesma noite, o rei não consegue dormir. Manda trazerem as Crônicas do Reino para serem lidas à sua frente. (Podemos ver os escravos carregando às costas, curvados, os grandes livrões que apareceram no início.) Logo chegam ao episódio dos dois assassinos executados depois da informação prestada por Mordechai. O rei pergunta como recompensar Mordechai, mas ninguém diz nada. O rei pergunta: ‘Quem mais está no pátio?’ E justamente Hamán estava lá, tinha vindo ao palácio para contar ao rei que pretendia pendurar Mordechai na forca. Dizem ao rei: ‘Hamán está ali.’ O rei manda chamá-lo e pergunta: ‘O que fazer a alguém a quem o rei deseja exaltar?’ Hamán, pensando que ‘alguém’ é ele próprio, diz: ‘Que seja vestido com roupas do rei, e que monte num cavalo do rei, e um dos ministros vá à sua frente gritando: ‘Assim faz o rei a quem ele deseja exaltar’. Então o rei diz a Hamán: ‘Corre, pega a roupa e o cavalo, e os dê a Mordechai, o judeu sentado no portão, e não deixe de lado nada do que falaste.’ Close para a cara de espanto, horror e por fim desespero de Hamán, como se alguém lhe tivesse dado uma martelada na cabeça.

Hamán faz tudo conforme disse o rei. Podemos ver o rosto dos dois, um espantado de felicidade, outro totalmente arrasado. Cenas do desfile de Mardoqueu pela cidade, com a multidão delirando, e Hamán conduzindo o cavalo e gritando a frase famosa. Apoteose.

Casa de Hamán. Ele com a cara no chão. A mulher dele e seus amigos o enterram de vez: ‘Se da estirpe dos judeus é esse Mordechai, diante de quem começaste a cair, tu não poderás com ele. Acabarás derrotado a seus pés.’ Nesse momento os eunucos do rei chegam para levar Hamán ao banquete da rainha. Música lúgubre ao fundo. Hamán sai, arrastando os pés.

Grande clímax: No banquete, o rei novamente pergunta a Esthér o que ela deseja, e até a metade do reino lhe será dado. Esthér, engolindo em seco, sobe ao palco, pega o microfone e começa o discurso, lembrando o discurso da Fada Madrinha ao final de Shreck II: ‘Se encontrei graça aos olhos do rei, e se é do agrado do rei, peço que me seja dada a minha alma, e as almas do meu povo. Porque fomos vendidos, eu e meu povo, para nos exterminar, matar e eliminar. Mas se como escravos fôssemos vendidos, eu me calaria, pois não seria problema digno de incomodar o rei.’

Cena de clip repetitivo de filme de ação: um mesmo ato é visto várias vezes em sucessão, o rei começa a falar, e começa a falar de novo: ‘Disse então o rei Assuero - - - e disse à Esther, a rainha (trovejando – imaginemos Pavarotti furioso ao extremo): ‘Quem é esse e onde está esse, cujo coração o levou a assim fazer?’ Esthér responde, no mesmo tom: ‘Um homem cruel e malvado, Hamán, esse homem atroz.’ Rosto de Hamán, apavorado (agora ele com cara de ‘O Grito’). O rei levanta-se furioso (derrubando a cadeira e virando a mesa) e sai do banquete para o jardim. Hamán joga-se sobre o leito onde a rainha está reclinada, para pedir clemência. O rei volta do jardim e encontra Hamán debruçado sobre o leito da rainha, e diz (subindo ainda mais o tom, se isso é possível): ‘O que?????????????? Conquistar a Rainha também pretendes, e comigo dentro de casa?????????’ (cap. 6; 8) Close para o rosto agora estraçalhado de Hamán, como o de algum dos vilões famosos do cinema quando levam o tiro fatal do mocinho.

Chega-se um dos escravos ao rei, e lhe diz ao pé do ouvido: ‘Rei, esse cara arrumou um poste de cinqüenta metros no jardim de sua casa para pendurar Mordechai, aquele que salvou sua vida.’ Resposta imediata do rei: ‘Pendurem-no nele.’

Sucessão rápida: Cenas do enforcamento de Hamán, com a multidão exultando. Cena de Esthér contando ao rei seu parentesco com Mordechai. Cena do rei dando a Mordechai o anel (close no anel) que tirou de Hamán. Cenas de Mordechai recebendo as chaves da casa (e os bens) de Hamán. Cenas de Esthér pedindo clemência aos pés do rei, para que este revogue o decreto de Hamán. Close sobre o cetro que o rei estende a Esthér. Cenas de escribas escrevendo o novo édito. Motociclistas (agora de branco) percorrendo as mesmas estradas poeirentas, levando o novo decreto. Cenas de judeus, de espadas e lanças em riste, dando o troco aos partidários de Hamán. Cena de folhinha na parede de uma casa humilde, onde se vê nitidamente o dia 13 do mês de Adár. Cenas de judeus dançando Hôira nas ruas de Shushna, a capital da Pérsia e da Média. Música apoteótica final (de preferência Yerushaláim shel Zaháv, depende do preço dos direitos), e o filme acaba com cenas dos festejos dos judeus.

THE END

HAG SAMÊAH

Mais crítica faria bem a Israel

Em sua visita a Israel, a premiê alemã, Angela Merkel, deveria ter feito críticas à atuação israelense nos territórios palestinos, em vez de se restringir a efervescentes declarações de amizade, opina Peter Philipp.

Há muitos anos, Yohanan Meroz, que viria a ser embaixador israelense em Bonn, explicou que as relações bilaterais eram "muito boas, mas nada normais". Naquela época, os políticos alemães se esforçavam para ouvir dos israelenses a palavra "normal". No fundo, esperavam poder passar para as questões em pauta e deixar o passado em paz. Hoje já não se faz mais nenhuma tentativa nesse sentido, já não se briga mais por causa de um adjetivo. O que se pratica agora é o que parecia impensável e impossível até aos mais otimistas – não apenas há seis décadas, na época da fundação de Israel, mas durante muitos anos depois –: amizade e vínculo profundos.

A visita da chanceler federal [Angela Merkel] a Israel deu novo realce a essa caracterização das relações bilaterais. E ao mesmo tempo ressaltou o que Meroz já dizia na época: "normal" isso não é. Com o pano de fundo do extermínio sistemático dos judeus pelo nazismo, normalidade também é impensável.

Por isso também é bom, naturalmente, que as relações bilaterais se desenvolvam e melhorem. Mas ainda se poderia perguntar se, neste caso, não se fez demais pelo bem. Mesmo a inusitada introdução de encontros regulares entre os gabinetes de ambos os países não consegue disfarçar o fato de que a relação da Alemanha com Israel não pode ser vista isoladamente: Se antigamente Bonn tentou se esconder por trás de uma política européia para o Oriente Médio, algo que mal existia, faz tempo que Berlim se tornou um importante agente da política internacional. Inclusive no Oriente Médio. Então daria para questionar se seria o caso de celebrar a ligação com Israel através de uma ausência de crítica tão evidente, em vez de pronunciar abertamente – "com toda amizade" – as verdades já há muito aceitas em todo em mundo e até em amplos círculos em Israel. Por exemplo, teria sido oportuno dizer algumas palavras francas contra a linha dura na Faixa de Gaza, bem como contra a ampliação das colônias israelenses na Cisjordânia. Será que essa crítica seria inoportuna ao visitar Israel para parabenizar o país por seus 60 anos de existência? Talvez. Se a chanceler federal não tivesse viajado com a metade do governo para consultas políticas. Intercâmbio de jovens, cooperação científica, cultural e econômica certamente são coisas importantes. Quanto à cooperação militar, atualmente deveria haver mais cautela. Aquilo de que Israel, os palestinos e o Oriente Médio mais precisam é de paz. Incentivos à política que promove a paz e críticas a tudo que vá contra isso. E disso já há o bastante na região. (sm)

Peter Philipp é chefe da equipe de correspondentes da Deutsche Welle e especialista em Oriente Médio.

Extraído de:
Deutsche Welle, em 19/03/2008.

"Inimigos da Fé": judeus, conversos e judaizantes na Pensínsula Ibérica, século VII" (Renata Rozental Sancovsky)

quarta-feira, 19 de março de 2008

Horshat ha' eucaliptus

Horshat ha' eucaliptus

A Festa de Purim (Noob Cruz)

Elaborado por Noob Cruz (aluno) – Setor de Hebraico – FL/UFRJ/2005.
Disciplina ministrada pela Profa. Dra. Cláudia A.P.Ferreira.

Chag Sameach - Purim 2008


Leia mais em:
Chaguim laktanim
A Festividade de Purim e o Livro de Ester
Shushan Purim Pequeno
Mini-Guia de Purim (5768)
Festividade de Purim - Dica de links
Shabat Zachor

"Nazismo d'Além-Mar: grupos sociais em Porto Alegre na Segunda Guerra Mundial" (Exame de Qualificação de Doutorado)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
Programa de Pós-Graduação em História

Banca de Qualificação de Doutorado

"Nazismo d'Além-Mar: grupos sociais em Porto Alegre na Segunda Guerra Mundial"

Autora: Taís Campelo Lucas
Orientador: Dr. Cesar Augusto Barcellos Guazzelli

Banca examinadora:
Dr. René Ernaini Gertz (PPG-História/UFRGS)
Dr. Enrique Serra Padrós (PPG-História/UFRGS)

Dia: 7 de abril de 2008
Hora: 14h
Local: Mini-Auditório do IFCH

"Irã é estado terrorista número um". Ministro da Segurança Interna de Israel alerta Hezbollah na Tríplice Fronteira

Jornal O Globo, em 19/03/2008.

Ministro da Segurança de Israel com a Comunidade Carioca

Adaptado do FIERJ Digital -19/03/2008 - edição 344: Avraham Dichter é reconhecido como uma das maiores autoridades mundiais no combate ao terrorismo. Em sua viagem à América do Sul, o ministro se reuniu com a comunidade judaica do Rio de Janeiro na Hebraica. No programa “Comunidade na TV” do dia 30 de março (2008) será apresentada uma entrevista exclusiva com o ministro que aborda de forma profunda e incisiva a questão do terrorismo e a situação atual em Israel.


One man makes a difference

Exemplo judaico >>>> Veja o vídeo.

"Sunshine" (exibição de filme no Museu Judaico do Rio de Janeiro)


“S U N S H I N E”

Filme no Museu Judaico (projeção em telão)

Drama: O filme mostra a saga de quatro gerações de uma família judia da Hungria, cobrindo toda a gama de ações anti-semitas sofridas no período que vai do Império Austro-Húngaro à tomada do poder pelos comunistas, passando pela ocupação nazista. Um dos traços em comum destes sistemas políticos de resto diferenciados foi a constante rejeição aos judeus em distintos níveis da vida cotidiana, acadêmica e social do país. Religiosos ou praticamente assimilados, intelectuais ou trabalhadores braçais, homens ou mulheres, quase todos os judeus húngaros tiveram seus direitos humanos, ou os de seus familiares, agredidos de alguma forma até quase o final do século XX.

Dia: 01 de abril de 2008
Terça-feira às 17 Horas
Duração
: 187 min.
Colorido
Idioma: Inglês (legendas em português)
Origem: Alemanha/Hungria
Artistas: Rosemary Harris, Rachel Weiz, Jennifer Ehle, Deborah Kara Unger, Molly Parker, James Frain, David de Keyser, John Neville, Miriam Margolies, Rodigler Vogler, Mark Strong, Bill Paterson, Trevor Peacock.
Diretor: István Szabó
Produção: Alliance Atlantis e Serendipity Point Films.

Local: Museu Judaico do Rio de Janeiro - Rua México, 90 – sala 110 Centro – RJ
Tel: 2240-1598/2524-6451

Metrô: Estação Cinelândia saída pela Pedro Lessa.

Ao final haverá confraternização.

O filme "Escritores da Liberdade" e a função do pensamento em Hannah Arendt

por Raymundo de Lima

Formado em Psicologia, Mestre em Psicologia Escolar (UGF) e Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é professor do Depto. Fundamentos da Educação, na área de Metodologia da Pesquisa, da Universidade Estadual de Maringá (UEM)


Há muitos filmes americanos sobre escola, mas não como "Escritores da Liberdade". (Freedom Writers, EUA, 2007). Porque é o único filme dessa categoria que incentiva os alunos a lerem literatura, ponto de partida para testar a vocação de cada um para escrever dede um diário sobre o cotidiano trágico de suas vidas até uma poesia hip hop ou um livro de ficção. O valor desse filme também está na ousadia da linguagem cinematográfica mostrando os problemas psico-sócio-culturais que atingem a escola contemporânea; também porque ele dá visibilidade à diversidade dos grupos, com seu rígido código de honra, cada um no seu território, o narcisismo da recusa e da intolerância para com "os outros", o boicote às aulas, a prontidão para aumentar os índices de violência entre os jovens e transformar a escola no seu avesso, isto é, uma comunidade bem próxima da barbárie, o que de fato vai acontecer em 1992, em Los Angeles, EUA.

O filme é baseado na história real de Erin (interpretada por Hilary Swank[1]), uma professora novata interessada em lecionar Língua Inglesa e Literatura para uma turma de adolescentes resistentes ao ensino convencional; alguns estão ali cumprindo pena judicial, e todos são reféns das gangues avessas ao convívio pacífico com os diferentes.

Como em outros filmes sobre turmas problemáticas, a professora Erin toma sua tarefa como um grande desafio: educar e civilizar aquela turma esquizofrênizada e estigmatizada como "os sem-futuro" pelos demais professores. Percebe que seu trabalho deve ir para além da sala de aula, por exemplo, visitando o museu do holocausto, possibilitando aos jovens saber os efeitos traumáticos da ideologia da "grande gangue" nazista, que provocou a 2ª. Guerra Mundial e o holocausto, e também reconhecer as semelhanças com suas "pequenas gangues" da escola. Nota: a palavra "holocausto"[2], referida no filme, é usada mais pelos judeus. E, "genocídio"[3] é o termo cunhado pelo Direito Internacional do pós Guerra. Ambas significam o ato racional de eliminação de seres humanos em escala inimaginável (conferir nota de rodapé).

O método da jovem professora consistiu em entregar para cada aluno um caderno para que escrevessem, diariamente, sobre aspectos de suas próprias vidas, desde conflitos internos até problemas familiares e sociais. Também, instigou-os a ler livros como "O Diário de Anne Frank" com o propósito de despertar alguma identificação e empatia, ainda que os personagens vivam em épocas diferentes; a partir de eventuais encontros imaginários cada aluno poderia desenvolver uma atitude especial de tolerância para com o "outro". Na vida real, os diários foram reunidos em um livro publicado nos Estados Unidos, em 1999, e terminaram inspirando o diretor Richard LaGravenese para fazer esse filme.

Formada em Direito, Erin se torna professora, desagradando seu pai e marido. No início, ela demonstra ingenuidade, timidez, curiosidade e determinação; sua vocação para o magistério vai se construindo conforme os desafios que ela encontra entre os alunos e ao lidar com a burocracia e o conservadorismo dos funcionários do sistema pedagógico da escola. Os judeus nova-iorquinos diriam que o diferencial de Erin é ela ter "chutzpah": ousadia, garra, determinação, toma iniciativa, ir-à-luta. Os diversos obstáculos próprios de qualquer sistema escolar faz com que ela se sinta desafiada a fazer algo-mais.

Seu estilo não é teatral, tal como os professores protagonistas dos filmes "O triunfo", "Sociedade dos poetas mortos", "Escola da vida". Também não é autoritária como "Meu mestre, minha vida", e nem experimentalista como é o professor Ross, do filme "A onda". Seu estilo pedagógico está para o ensaísmo apaixonado, romântico, humanista, mas sem perder de vista a racionalidade do propósito educativo. Primeiro, ela tenta "dar aula" segundo manda o modelo tradicional, que não funciona com alunos indiferentes ao propósito da escola eminentemente ensinante. Uma aluna questiona pra que serve aprender tal conteúdo abstrato considerado inútil para melhorar sua vida real; outro dirá que o fato de ela ser professora "branca" não é suficiente para ele respeitá-la. Cabe à professora ter argumentos consistentes que respondam essas questões imprescindíveis na escola contemporânea. No segundo momento, Erin faz o reconhecimento dos grupos de iguais (narcísicos), e, obviamente sente empatia com os excluídos. Terceiro, devolve aos alunos esse reconhecimento com um pensamento crítico, fazendo-os reconhecer, sentir e pensar sobre a realidade criada por eles próprios. Quarto, não os aceita na condição de vítimas reativas, e cobra-lhes responsabilidade por suas escolhas e seus atos de exclusão para com os diferentes. Ou seja, sua ação pedagógica é inovadora porque desperta a motivação dos alunos para expressar seus sentimentos, ler, pensar, escrever, e mudar a partir do reconhecimento como sujeito-de-sua-história.

Na concepção de Hannah Arendt, duas causas podem ter relação profunda com a crise da educação em nossa época: a incapacidade de a escola levar os alunos para pensar e a perda da autoridade dos pais e professores. Ambas fazem com que as crianças e adolescentes fiquem sujeitos à tirania de uma maioria qualquer (grupo social, tribos, gangs) e de um líder carismático ou populista. Portanto, o ato educativo de Erin é ao mesmo tempo político e ético, porque visa transformar alunos "não-pensantes", "incivilizados", "não-humanizados", em seres humanos que podem exercitar o pensamento crítico sobre a realidade e seus atos; suas propostas de dinâmicas com os grupos leva-os a rememorar situações e rever suas posições na história de cada um, podendo até criar em cada aluno uma nova ética que melhor orienta seus gestos e palavras para evitar magoar o seu próximo. As dinâmicas e debates em sala de aula desmarcaram o recorrente discurso vitimista desses grupos, que tendem ao comodismo da sua desgraça, e ao mesmo tempo projeta no outro a responsabilidade pela sua própria irresponsabilidade ou fracasso como sujeito-cidadão no meio social. É preciso que cada qual se responsabilize e se comprometa "fazer sua parte", ou como diz a velhinha que abrigou Anne Frank: "fazer a coisa certa" ou ética, como uma pessoa comum, anônima, e representante do que é ser civilizado.

Uma educação que não exercita o ato de pensar, com todos os seus riscos, além da própria ausência de pensamento, tem como efeito o não comprometimento, o não tomar decisões, ou não se responsabilizar por elas. "A tarefa fundamental do pensar é descongelar as definições que vão sendo produzidas, inclusive pelo conhecimento e pela compreensão e que vão sendo cristalizados na história. A tarefa do pensar é abrir o que os conceitos sintetizam, é permitir que aquilo que ficou preso nos limites da sua própria definição seja liberado. É livrar o sentido e o significado dos acontecimentos e das coisas da camisa-de-força dos conceitos" (CRITELLI, 2006, p. 80).

É preciso, portanto, criar dispositivos – como ler, escrever, falar elaborado – que "operem como obstáculo para que aqueles que não se decidiram a ser maus não cometam maldades" (CORREIA, A. 2006, p. 50). Conforme diz Arendt: "os maiores malfeitores são aqueles que não se lembram porque nunca pensaram na questão, e, sem lembrança, nada consegue detê-los [...]. O maior mal não é radical, mas possui raízes, e, por não ter raízes, não tem limitações, pode chegar a extremos impensáveis e dominar o mundo todo", como foi a trágica experiência dos regimes totalitários, o nazi-fascismo e o stalinismo.

Para alguns, é insuficiente o(a) professor(a) apenas "fazer sua parte", visto existir um mundo para além dos limites de sua sala de aula. Mas, a lição da professora do filme está em "fazer-bem-sua-parte" exatamente no ponto nevrálgico e temporal que é a educação: ser um ato civilizatório entre o passado e o futuro. Diz ela: "A tarefa da educação é justamente a de apresentar o mundo às gerações do presente, tentando fazê-las conscientes de que comparecem a um mundo que é o lar comum de múltiplas gerações humanas. Ao conscientizá-los do mundo a que vieram, estas deverão compreender a importância de sua relação e ligação com as outras gerações, passadas e vindouras. Tal relação se dará, primeiro, no sentido de preservar o tesouro das gerações passadas, isto é, no sentido de a geração do presente tomar o cuidado de trazer a esse mundo sua novidade sem que isso implique a alteração, até o irreconhecimento, do próprio mundo, da construção coletiva do passado" (apud FRANCISCO, 2006, p.35).

Tal posicionamento pedagógico-político-ético da função docente deve ser marcado pela sua autoridade, sensibilidade, e senso de inovação, que ao ser testado na realidade cotidiana da escola costuma pagar um preço em forma de resistências, incompreensões e críticas maldosas. Assim posicionado nesse tripé é que o docente pode tanto se defender dos ataques de fora como resistir às frustrações advindas do seu próprio trabalho. Também, a partir desse estilo ela pode melhor se preparar para evitar cair no criticismo raso dirigido ao sistema, como forma única de luta; ou seja, a experiência tem demonstrado que muitos na escola e na universidade usam de verbosidade sem ação, não se comprometem de corpo e alma testando táticas inovadas de lutas (no sentido da esquerda política) visando melhorar a qualidade do ensino; outros ficam esperando que o governo ou dono de escola tomem iniciativas, ou autorizem (o)a professor(a) fazer algo inovador no seu trabalho docente no sentido de reverter o baixo rendimento dos alunos, por exemplo.

Que cada professor(a) faça diferença no seu ato de ensinar. O ensino regular visa levar os alunos aprenderem os conteúdos programados pelos currículos. Contudo, não se pode ensinar sem incluir também uma mudança educativa. Um ensino sem educação para o pensar é vazio de sentido prático e existencial. Uma educação sem aprendizagem dos conteúdos também é vazia e tende a degenerar em retórica moral e emocional. Ensinar e educar implicam em responsabilidades: pedagógica, política e moral, dentro e fora da escola; implica, ainda, na responsabilidade do coletivo[4] do professorado de civilizar a nova geração que irá povoar o mundo.

No dizer de Arendt (1989) "A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para expulsá-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum".

Nós, professores e professoras, devemos assistir ao filme "Escritores da Liberdade" por várias razões: para que possamos inovar o ato de ensinar adequado à realidade cultural dos alunos; para que, além de ensinar, também possamos adotar uma atitude de pesquisa-ação com os grupos que se formam em sala de aula e na escola, quase sempre atraídos pela semelhança formando grupos narcísicos, cujo sintoma visível é a intolerância para com os demais; para que aprendamos a acolher e contextualizar as situações de vida dos alunos com as de outras vidas relatadas pela história da humanidade – que, através de um diário ou redação qualquer eles aprendam a significar suas histórias com outras histórias; para que os professores do nosso Brasil se empenhem mais-e-mais em ler literatura, porque só podemos cobrar dos alunos esse hábito se nós também nos habituamos a ler, isto é, se ler e compreender[5] já fazem parte de nossa virtude pessoal. (aquele que lê e compreende tem maior probabilidade de escrever suas próprias narrativas); para que os professores façam autocrítica sobre o quantum de paixão (ou libido) têm pelo trabalho com os alunos não deve necessariamente implicar a sua desatenção (ou desapaixonamento) para com os seus próximos: marido, esposa, filhos, etc.

Bom filme pra todos!!!


Filme: Escritores da liberdade (Original: Freedom Writers) País: EUA/Alemanha - Gênero: drama. Classificação: 14 anos. Duração: 123 min. Ano: 2007. Direção: Richard LaGravenese . Produção: Danny DeVito, Michael Shamberg, Stacey Sher. Elenco: Hilary Swank, Patrick Dempsey, Scott Glenn, Imelda Staunton, April Lee Hernandez, Mario, Kristin Herrera, Jacklyn Ngan, Sergio Montalvo, Jason Finn, Deance Wyatt, Vanetta Smith, Gabriel Chavarria, Hunter Parrish, Antonio Garcia.

Sinopse: Hilary Swank é uma professora novata que tenta inspirar seus alunos problemáticos a aprender algo mais sobre tolerância, valorizar a si mesmos, investir em seus sonhos e dar continuidade a seus estudos além da escola básica. Também ela é ousada ao enfrentar os grupos formadores de gangs em sala de aula, levando-os a pensar sobre a formação e ideologia dos próprios.


Referências
ARENDT, H. As origens do totalitarismo. São Paulo: Cia. das Letras, 1989.
ARENDT, Hanna. A crise na educação. In: Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2001, p. 238-9.
CORREIA, Adriano. O pensamento pode evitar o mal? In: Rev. Educação: Hannah Arendt pensa a educação. São Paulo: Segmento, n.4, 2006, p.46-55.
CRITELLI, Dulce. O ofício de pensar. In: Rev. Educação: Hannah Arendt pensa a educação. São Paulo: Segmento, n.4, 2006, p.74-83.
FRANCISCO, Maria de Fátima S. Preservar e renovar o mundo. In: Rev. Educação: Hannah Arendt pensa a educação. São Paulo: Segmento, n.4, 2006, p. 26-35.
REBELLO DE SOUZA, Denise Trento. Formação continuada dos professores e fracasso escolar: problematizando o argumento da incompetência. In: rev. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.32, n3, p.477-492, set./dez.2006.

Notas
[1] A novata atriz Hilary Swank é merecedora de dois prêmios Oscar pelos filmes: "Menina de ouro" e "Meninos não choram".
[2] Holocausto [gr. Holókauston], originalmente, significava o "sacrifício em que a vítima – um animal - era queimada inteira", tendo assim um sentido de imolação ou expiação. No período nazista, entre 1935 e 1945, os judeus se viram diante de um novo holocausto, sendo obrigados à perda da cidadania, a trabalhos forçados, a suportarem a brutal separação dos membros da família inclusive de crianças, a serem fuzilados em massa, a serem transportados pela força para os campos de concentração onde terminavam sendo exterminados coletivamente em câmaras de gás. Durante o holocausto, cerca de 6 milhões de judeus foram assassinados para cumprir o que os nazistas chamavam de 'solução final'. Alguns analistas entendem que o emprego da palavra holocausto teve o intuito de significar mais que a palavra 'genocídio'. C. Lash (1990), por exemplo, argumenta que "o massacre dos judeus tornou-se holocausto porque a palavra "genocídio", numa época genocida havia perdido a capacidade de evocar os sentimentos apropriados aos fatos que procurava caracterizar. Ao buscar uma linguagem ainda mais extrema, os historiadores do holocausto contribuíram para a degradação do "genocídio" (...). Contra os poloneses e outros povos cativos da Europa oriental, Hitler praticou o que pode ser denominado de genocídio, de acordo com Y. Bauer (...). [isto é, a política nazista assassinou sistematicamente judeus, e, também, comunistas, homossexuais, ciganos, Testemunhas de Jeová, e todos as pessoas consideras pelos nazistas como 'inferiores'. No entanto], "é preciso alertar que somente os judeus experimentaram um holocausto" (LASH, 91). Portanto, mais do que o genocídio, a palavra holocausto passou a ser empregada com o sentido de extermínio em massa racionalizado e insano dos judeus, coisa que era "impensável" até acontecer de fato como o maior acontecimento trágico do século 20.
[3] Ver nosso artigo disponível em: <www.espacoacademico.com.br> n. 45, em fevereiro/2005.
O 'Genocídio' [do latim genus = família, raça, tronco, do grego genos e caedere = matar, cortar] é uma palavra cunhada por Raphael Lemkin em 1944 para especificamente se referir à política do governo nazista de extermínio completo dos judeus, ciganos, comunistas e homossexuais. Até então a humanidade não tinha sofrido nada igual; nunca o crime foi imaginado, racionalmente planejado e executado pelo Estado, em proporções gigantescas. O crime de genocídio constituiu uma das acusações contra os líderes nazistas no Tribunal Militar Internacional de Nuremberg em 1944, e, posteriormente, passou a vigorar na ONU sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio (UNGC), que entrou em vigor em 1951, mas até hoje raras vezes foi aplicado. Lemkin imaginava que a palavra genocídio poderia evocar nas pessoas uma atitude de repulsa ao crime de massa e de luta pelos direitos humanos. A rigor, o genocídio é definido como "crime contra a humanidade, que consiste em cometer, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, qualquer dos seguintes atos: I) matar membros do grupo; II) causar-lhes lesão grave à integridade física ou mental; III) submeter o grupo a condições de existência capazes de destruí-lo fisicamente, no todo ou em parte...". (Dic. Aurélio). Também é considerado genocídio, a interdição da reprodução biológica e social de membros de grupos étnicos, bem como também a prática de terror contra supostos inimigos reais ou potenciais. O Brasil regula e define o genocídio pela Lei no. 2. 889, de 1º. de outubro de 1956. A Lei no. 8.072, de 25-07-1990, o considera como "crime hediondo" e, como tal, insustentável de anistia, graça, indulto, fiança e liberdade provisória.

[4] Na verdade, esse "coletivo" tem duas faces: a cultura dos professores da escola e a estrutura técnico-burocrática que orienta o funcionamento da escola. Os programas de formação continuada dos professores, por exemplo, até agora não problematizam sobre a necessidade de mudar (reformar ou revolucionar) o modelo de ensino da escola e sua cultura específica. Para uma análise sobre os programas de formação continuada dos professores, ver: REBELLO DE SOUZA, Denise Trento. Formação continuada dos professores e fracasso escolar: problematizando o argumento da incompetência. In: rev. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.32, n3, p.477-492, set./dez.2006.
[5]
Sobre a incompreensão na leitura, ler nosso artigo nessa revista www.espacoacademico.com.br (ver "arquivo do autor").


Extraído de:
Revista Espaço Acadêmico, Número 82, Março de 2008.