Estadão (04/01/2009)
- Israel ocupa e divide a Faixa de Gaza em dois
- Cidade de Gaza é sitiada; número de mortos na ofensiva contra o grupo Hamas passa de 500
- Roberto Godoy: Tropa de elite invade Gaza
- Hamas diz ter capturado dois soldados israelenses
Financial Times (05/01/2009)
Por Tobias Buck
Israel está no meio de uma das maiores ofensivas de guerra do país nas últimas décadas. O que começou como um bombardeio aéreo em massa de alvos do Hamas dentro da Faixa de Gaza, há oito dias cresceu para uma ofensiva terrestre igualmente esmagadora à medida que Israel continua a enviar tropas e tanques para a região.
De acordo com autoridades do governo e militares, o propósito da última ofensiva é duplo: infringir um duro golpe à infra-estrutura militar e política dos islamitas, e tomar o controle de áreas-chave dentro da Faixa de Gaza que são usadas pelo Hamas e outros militantes para lançar foguetes nas cidades israelenses vizinhas.
Isso significa atacar —e controlar— cidades como Beit Lahia e Beit Hanoun no norte da Faixa de Gaza, de onde pelo menos 220 foguetes foram lançados contra Israel só na última semana.
A ofensiva terrestre de Israel em Rafah, no sul, sugere que o exército também pode estar disposto a tomar o controle da área de fronteira com o Egito —principal via do Hamas para o contrabando de armas e foguetes de longo alcance.
O terceiro movimento importante das tropas israelenses ontem foi planejado para dividir a Cidade de Gaza e separar as cidades do norte das do sul, tornando mais difícil para o Hamas reforçar suas posições na principal zona de batalha.
Um militar israelense de alta patente disse ontem que a operação não tinha como objetivo acabar completamente com os ataques de foguete, "mas diminuir bastante o seu número".
Sugerindo uma campanha longa, ele acrescentou que a ofensiva não era "algo para ser medido em dias ou horas" e que haviam "muitos obstáculos na terra e subterrâneos", numa referência à rede de túneis que os guerrilheiros do Hamas cavaram para defender a Faixa de Gaza de um ataque israelense.
Muitas das acusações feitas pelo Hamas e Israel são difíceis de verificar, dadas às restrições à reportagem no local e a falta de acesso da mídia em Gaza. Não há dúvida, entretanto, de que as Forças de Defesa de Israel entraram no território seguras com o conhecimento de que elas têm superioridade militar.
Mais importante que isso, o Hamas essencialmente não tem nenhuma defesa contra ataques aéreos. Os guerrilheiros do grupo não estão equipados com mísseis terra-ar e seus foguetes são incapazes de atingir alvos com algum grau de precisão.
Isso também significa que os tanques altamente sofisticados de Israel e a infantaria bem treinada podem contar com o apoio aéreo de helicópteros de ataques e aviões de guerra enquanto lutam para entrar na Faixa de Gaza.
O que o Hamas pode fazer em resposta? As capacidades militares do grupo foram motivo de muita especulação mas está claro que seu equipamento, treinamento e capacidade de lutar em geral é bem inferior à do Hizbollah, o grupo shia libanês, que ofereceu uma resistência feroz e efetiva contra as tropas israelenses há dois anos.
O Hamas recentemente divulgou que tinha 200 mil homens armados, apesar de os militares israelenses acreditarem que no máximo alguns milhares deles estariam em posição de entrar em combate contra os soldados israelenses. De fato, uma fonte militar israelense disse ontem que até agora houve pouca luta face-a-face.
O braço militar do Hamas tem algumas vantagens, entretanto. Ele teve bastante tempo para se preparar contra um ataque israelense, que provavelmente vai encontrar um grande número de casas e túneis com bombas escondidas.
Os atiradores do Hamas também estão lutando em áreas urbanas com muitas construções, que eles conhecem bem e onde podem contar com o apoio de parte da população local. Finalmente, muitos dos guerrilheiros do grupo —principalmente um número incerto de homens-bomba— entrarão em combate sem expectativa de voltarem vivos para casa.
Por enquanto, o Hamas e outros grupos militantes armadas na Faixa de Gaza parecem estar concentrados em absorver o choque inicial do violento ataque israelense. Isso poderá mudar em breve, especialmente se Israel decidir manter o controle sobre partes de Gaza durante semanas ou mais tempo.
No mínimo, uma presença prolongada na Faixa irá expor os soldados a ataques seguidos de escapadas de atiradores palestinos assim como a ataques de morteiros.
Assim como o ministro da defesa de Israel deixou claro na noite de sábado, a guerra "não será fácil e não será curta".
(Tradução: Eloise De Vylder)
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