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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Cláudia Andréa Prata Ferreira é Professora Titular de Literaturas Hebraica e Judaica e Cultura Judaica - do Setor de Língua e Literatura Hebraicas do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ.

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domingo, 11 de janeiro de 2009

Israel x Gaza x Oriente Médio (92) .... Analistas veem limitação em gestões do Brasil na região

FSP

Mundo


Analistas veem limitação em gestões do Brasil na região

Para diplomatas e observadores, Itamaraty não consegue exercer influência no Oriente Médio


Chanceler Amorim começa hoje giro pela região para apresentar propostas, mas especialistas apontam falta de neutralidade do governo


DA REPORTAGEM LOCAL

O esforço do governo brasileiro para tentar mediar a crise em Gaza esbarra no alcance geopolítico limitado do Brasil e na falta de isenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tido como pró-árabe, segundo diplomatas e analistas consultados pela Folha. A posição brasileira está cristalizada na proposta de organizar e eventualmente sediar uma conferência na qual os EUA -cujo alinhamento a Israel o Brasil considera contraproducente- não teriam o papel de principal mediador.


O Planalto alega a necessidade de "arejar" as conversas de paz, com a inclusão de novos negociadores "mais neutros". O chanceler Celso Amorim foi encarregado de dar vida ao projeto. Ele está em giro por Síria, Israel, Cisjordânia e Jordânia para detalhar o plano brasileiro, que inclui ainda um cessar-fogo e o envio de monitores à fronteira Egito-Gaza, ideias já contempladas nas gestões em andamento -com aval do governo americano.


O Brasil se diz credenciado para mediar a crise e cita como prova a participação, a convite dos EUA e com o aval de Israel, na Cúpula de Annapolis (EUA), em 2007. A reunião tentou relançar o diálogo entre israelenses e palestinos. Prevalece no Itamaraty o sentimento de que uma atuação altiva e madura reforça a candidatura do Brasil a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Mas, segundo veteranos diplomatas brasileiros, a ideia de um encontro mundial sob os auspícios do Brasil é absurda.


"É uma sugestão que tira nossa credibilidade internacional. Nosso cacife aumentou nos últimos anos, mas não o bastante", afirma Marcos Azambuja, ex-embaixador do Brasil em Paris. "É evidente que nosso poder é limitado no Oriente Médio, pois não fazemos parte do Quarteto [para a mediação do conflito israelo-palestino, que inclui EUA, União Europeia, Rússia e ONU]. Temos que ser sóbrios", diz o diplomata.


Azambuja sugere que o Brasil, no melhor dos casos, poderia associar-se a projetos orquestrados por países com maior inserção no Oriente Médio, como Egito e França. Concorda Roberto Abdenur, ex-embaixador em Washington. "É uma ilusão o Brasil achar que pode ter alguma influência no Oriente Médio."


Neutralidade em xeque

O ex-chanceler Celso Lafer aponta outro empecilho para as gestões do Brasil: o suposto viés pró-palestino do presidente Lula e seus assessores. Lafer lembra que os comunicados do Itamaraty sobre a guerra "deploraram" os ataques israelenses a Gaza, que foram considerados pelo Brasil uma "resposta desproporcional" ao foguetes do Hamas. Em nota, o PT de Lula qualificou os ataques de Israel contra Gaza de "criminosos" e comparou a ofensiva a uma prática "nazista", causando indignação de entidades judaicas.


A neutralidade brasileira também é questionada pelo analista francês Bruno Tertrais, da Fundação pela Pesquisa Estratégica. "O Brasil me parece mais inclinado para os árabes, a exemplo do presidente francês anterior, que também buscava mediar o conflito sem ser imparcial [Jacques Chirac era tido como pró-árabe]."


O ex-embaixador Abdenur afirma que o Brasil também perde credenciais de interlocutor idôneo ao convidar o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, que questiona o Holocausto e a existência de Israel. Ahmadinejad deve visitar Brasília nos próximos meses. O governo israelense, que historicamente rejeitou toda mediação que não fosse americana, evita uma rejeição aberta das propostas brasileiras, dizendo-se apenas "disposto a ouvir toda proposta em busca da paz", nas palavras de Raphael Singer, porta-voz da Embaixada de Israel em Brasília. Em contraste, o entusiasmo palestino é total. "Somos muito gratos pela posição do Brasil e apoiamos suas gestões", diz Ibrahim Alzeben, embaixador da Autoridade Nacional Palestina (ANP) no Brasil.


O cientista político Marcelo Coutinho, do Observatório Sul-Americano, não vê problema no fato de o Brasil emitir posições diplomáticas pronunciadas. Ele cita como êxito o apoio de França, Rússia e China à candidatura brasileira a um assento no CS da ONU. "O Brasil é chamado a opinar sobre questões como Gaza, mas me parece um exagero querer deslocar os EUA das mediações", diz Coutinho. (SAMY ADGHIRNI)


Para Lafer, política externa atual busca "protagonismo destituído de substância"

DA REPORTAGEM LOCAL

Antecessor de Celso Amorim à frente da diplomacia brasileira, Celso Lafer condena o giro do atual chanceler pelo Oriente Médio e acusa o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de se guiar por uma política externa que "promete muito e faz pouco."


"A viagem que o ministro Celso Amorim está fazendo pelo Oriente Médio é uma forçação de barra que não faz nenhum sentido. Revela um protagonismo destituído de substância", disse à Folha Lafer, que foi ministro das Relações Exteriores sob os governos de Fernando Collor (1992) e Fernando Henrique Cardoso (2001-02).


O ex-ministro afirma que, se ainda estivesse à frente do Itamaraty, lançaria apelos pelo fim da violência e enviaria ajuda humanitária, a exemplo do que Amorim fez, mas "em hipótese alguma" tomaria a decisão unilateral de ir à região para fazer gestões diretas com os protagonistas.


"No máximo, me colocaria à disposição para ajudar no que pudesse", afirma.


Para Lafer, jurista de formação e autor de vários livros sobre relações internacionais, as tentativas do governo brasileiro de ter voz no Oriente Médio mostram que "o Brasil não tem nenhuma noção do que pode e do que não pode".


"Nenhum dos demais países emergentes -China, Índia e Rússia- está tomando iniciativas exageradas como as do Brasil", diz o ex-chanceler, que enxerga um paradoxo nos rumos da atual diplomacia brasileira.


"Me parece curioso que o atual governo brasileiro, que se omitiu na crise das papeleiras entre Uruguai e Argentina, na qual realmente poderia e deveria ter desempenhado um papel construtivo, busque agora atuar no Oriente Médio", diz o ex-ministro.


Ele se referia às tensões deflagradas em 2006 entre Montevidéu e Buenos Aires por causa da instalação de duas fábricas de pasta de celulose no Uruguai, próximo da fronteira com a Argentina.


Segundo Lafer, a diplomacia do governo Lula acumula fracassos. Ele cita como exemplos a empacada candidatura brasileira a um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, a derrocada das negociações comerciais da Rodada Doha para a liberalização do comércio e a "pouco construtiva" política de vizinhança na América do Sul.


"Há muitos exemplos que demonstram que a atual diplomacia fala e promete muito, mas acaba fazendo pouco", afirma o ex-chanceler. (SA)


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Aurora


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