Jornal do Brasil, página A18, em 14/01/2009.
(obs. O grifo em azul é meu)
ENTREVISTA
GERALDO CAVAGNARI
Sem refúgio além da Faixa de Gaza
Joana Duarte
Nesta guerra anômala, em que não há refugiados porque os combatentes não permitem a retirada de palestinos da Faixa de Gaza, o professor Geraldo Cavagnari, do Núcleo de Estudos Estratégicos da UNICAMP, em entrevista ao JB, salienta que Israel provavelmente não responderá por crimes de guerra, pois todos os países da região envolvidos no conflito carregam um certo sentimento de culpa pela morte dos, até agora, cerca de mil palestinos. O professor diz ainda não acreditar em um acordo de paz, muito menos num pacto que venha a ser mediado pelo Brasil, e garante: no fim do conflito, quando Israel permitir uma trégua, o Hamas continuará a rejeitar a legitimidade do Estado israelense.
A operação israelense já deveria ter terminado?
Em princípio sim. Em termos de perdas de vidas já deveria ter terminado, mas acontece que isso não depende do aspecto moral, depende do adversário. Israel seguramente cumprirá todas as fases que planejou para este conflito. Temos de encarar a questão como uma decisão política decididamente tomada por Israel a de desestabilizar o Hamas.
O senhor considera os objetivos israelenses alcançáveis?
O principal objetivo é destruir a estrutura militar do Hamas e isto deve ocorrer. A dificuldade está na maneira como a guerra está sendo feita. Se fosse uma operação tradicional, Israel teria de atrair o inimigo para a batalha, mas o Hamas, com sua inferioridade bélica, não permitirá que Israel faça isso. Não obstante, Israel deveria procurar meios de lutar causando um mínimo de perdas humanas, mesmo que militantes do Hamas ocupem prédios públicos, residenciais e outras áreas povoadas. Sabemos que o Hamas também usa escudos humanos, o que dificulta a identificação de quem é quem. Em face das táticas de guerra adotadas pelo inimigo, quando Israel localiza os locais de lançamento de mísseis e contra-ataca acaba por atingir a população civil. Esta é a maior dificuldade.
Com mais de 900 mortos, dentre estes pelo menos 40% de civis palestinos, Israel deveria responder por violações de direitos humanos?
Se fosse uma guerra convencional, certamente. Nas operações convencionais, a força invasora invade cidades, realiza combates, destrói tudo, mata combatentes, mas, em princípio, atinge apenas aqueles civis que optaram por não evacuar as áreas de combate. Normalmente, quando uma cidade é ocupada, o invasor alerta os civis para que saiam de suas casas ou que busquem abrigos em lugares seguros. Nesta guerra não há refugiados, pois o Hamas não deixa ninguém sair. Israel também não permite que a população palestina se refugie em seu território, muito menos o Egito. Então, os palestinos se vêem obrigados a buscar refúgio dentro da própria Faixa de Gaza, uma área estreita que abriga 1,5 milhão de palestinos a Cidade de Gaza tem a maior concentração populacional do mundo, e esta é uma condição que tem de ser levada em consideração, pois é o cenário ideal para que ocorram muitas perdas humanas. Mas mesmo que Israel esteja violando direitos humanos, quem vai julgar Israel? Isto dificilmente ocorrerá a curto ou mesmo médio prazos.
Mesmo se o país for acusado de crimes de guerra?
Neste caso, a culpa seria conjunta, de Israel, Egito e do Hamas, que expôs seu território e sua população à guerra e faz uso de escudos humanos. Crimes de guerra vêm ocorrendo dos dois lados da batalha. O Hamas tem no máximo 40 mil combatentes, enquanto a população da Faixa de Gaza é de 1,5 milhão. Mesmo assim, não permite que ninguém saia da área de conflito e por isso é quase tão criminoso quanto Israel.
O senhor acha que a guerra derrubará o governo do Hamas ou fortalecerá o grupo?
Israel não vai destruir o grupo. A operação irá enfraquecer, mas não desmantelar o movimento. O conflito não resolverá o problema Israel-Palestina. Uma trégua é provável, mas um acordo de paz, por hora, acho difícil, pois o Hamas, insuflado pela Síria e Irã, não se curvará. Ao fim do conflito, Israel continuará sendo considerado pelo Hamas como um Estado ilegítimo. É um problema que existe desde 1948 e que vai durar por muito mais tempo.
O senhor acredita que o Brasil pode ajudar na mediação do conflito?
Não. A mediação será feita por países neutros e o governo brasileiro está francamente alinhado com os árabes, os islâmicos. Não quer dizer que o Brasil esteja, mas este governo está. O nosso ministro já disse que o ataque foi desproporcional, mas na verdade toda retaliação é desproporcional. O objetivo não é responder com a mesma violência, mas sim com uma violência maior, e é isso que Israel esta fazendo. Quando houve o ataque as Torres Gêmeas, qual foi a resposta dos EUA? Atacou o Afeganistão com força total e estão lá até hoje.
ARTIGO
A fase mais difícil do conflito
André Luís Woloszyn
ANALISTA EM ASSUNTOS ESTRATÉGICOS
Com a decisão de Israel de utilizar duas frentes de combate, no sul, com o avanço por terra de tropas de infantaria, e ao norte, a continuação dos bombardeios aéreos, teve início a fase mais difícil do conflito e talvez a mais decisiva.
A tática lembra muito o conceito de guerra utilizado pelo Exército dos EUA no Vietnã em 1970, contra a guerrilha dos norte-vietnamitas e mais recentemente, em Falluja, contra os insurgentes na guerra do Iraque. Os israelenses buscam cercar os militantes do Hamas, obrigando-os a se concentrarem e consequentemente serem alvos identificáveis, cortando sua rede de suprimentos (luz, água, alimentos) e comunicações, na tentativa de impedir reações de maior impacto, como a utilização de foguetes, atacando diretamente a fonte e os focos da guerrilha.
Caso o Exército chegue ao coração de Gaza, resta ao Hamas um grande trunfo que é o conhecimento detalhado da zona de operações onde são realizados os combates, além da experiência em guerrilha urbana. Nesta, atuam em ações terroristas atentados suicidas, emboscadas corpo-a-corpo com armas leves e artefatos explosivos, utilizam túneis subterrâneos para maior agilidade nos deslocamentos, propiciando o fator surpresa, tática que certamente deverá aumentar o pouco número de baixas entre os soldados israelenses.
Talvez a estratégia adotada por Israel possa pôr fim mais rapidamente ao conflito que já começa a causar desgaste à imagem política e institucional do Estado judeu junto à comunidade internacional, com acusações de violação de direitos humanos, da Convenção de Genebra, dentre outros. Isto é compreensível pois a cada dia em que perduram as hostilidades fica mais difícil explicar as centenas de fotos de vítimas inocentes, incluindo crianças, remetidas por agências de notícia internacionais e que chegam a um público estarrecido.
No momento, ninguém arriscaria um prognóstico. A grande incógnita ainda é como os grupos radicais islâmicos, Hezbollah, Al Qaeda e outros apoiadores históricos da causa da libertação da palestina e do Hamas, irão se comportar, daqui para frente, uma vez que, no entendimento destes, há motivos suficientes para uma retaliação. O que se pode afirmar até agora é que já existem milhares de extremistas, notadamente no Irã e no Líbano, dispostos a serem mártires, apresentando-se como voluntários para "homens-bomba".
Do lado israelense, a convocação de tropas reservas darão maior energia à continuidade da ofensiva terrestre. Se a ONU, com participação incipiente até o momento, desejar uma participação decisiva terá de buscar rapidamente alternativas e soluções diplomáticas para forçar um acordo, não apenas através de uma resolução de cessar-fogo votada pelo Conselho de Segurança, e que a exemplo de outras do gênero, foram ignoradas por não satisfazerem as partes litigantes. Os embates entre judeus e palestinos demonstrou entre outros problemas, a fragilidade das Nações Unidas colocando em jogo, inclusive, sua credibilidade e reputação.
André Luís Woloszyn, analista da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República em 97/98, é diplomado pela Escola Superior de Guerra em Inteligência Estratégica e especialista em terrorismo.
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